Godzilla II: Rei dos Monstros

Em 2014 Godzilla reapresentou o kaiju mais famoso do mundo para o público ocidental. A nova versão não trazia uma aventura muito empolgante, mas era coerente em seu argumento, construção e até na forma de trazer o personagem para os dias de hoje. Some isso à promessa de um encontro com a também nova, e muito bem apresentada, versão de King Kong, e temos motivos suficientes para novas aventuras do monstrão. Mas, ainda não é agora que este encontro de celebridades acontece.

Godzilla II: Rei dos Monstros se passa cinco anos após os eventos do longa de 2014, e mostra um mundo que lidar tanto com a existência dos kaijus, quanto com as consequências da primeira grande batalha entre eles. A agência Monarch continua estudando as criaturas, até que uma de suas tecnologias é desviada causando o despertar de vários monstros como a Mothra, Rodan e Ghidorah. Os humanos até tentam consertar o estrago, mas o trabalho duro fica mesmo para o personagem título.

Reparou que não mencionei os nomes de nenhum dos personagens humanos na sinopse acima? Isso porque eles são absurdamente genéricos e de motivações confusas. Temos o cientista que acredita cegamente no monstro-protagonista, o que odeia os kaijus mas curiosamente sabe tudo sobre eles, aquele que tem um plano mirabolante para salvar o mundo usando as criaturas, a criança que não devia estar ali, e por aí vai... O que não é na verdade um problema, já que sua função aqui é motivar o inicio da batalha, e dar um vislumbre das consequências para as demais especies que habitam este planeta.

Assim encontramos Vera Farmiga, Kyle Chandler, Ziyi Zhang, Bradley Whitford, Charles Dance e vários outros rostos conhecidos de Hollywood se esforçando bastante para tornar críveis as motivações, atitudes e falas de seus personagens. É Ken Watanabe quem melhor se sai nesta tarefa. Um dos únicos remanescentes do longa anterior, e responsável oficial pela pronúncia japonesa do nome do protagonista - Gojira -, sua fé cega na criatura é compensada em uma breve cena de interação entre os dois.

Já Sally Hawkins (de A Forma da Água) de tão mal aproveitada parece ter sido incluída no roteiro às pressas, apenas como easter-egg, por ter protagonizado um filme de monstro oscarizado. Mas, não se deixe enganar, ela é outra dos remanescentes do Godzilla de 2014. Millie Bobby Brown, em sua primeira grande produção pós Stranger Things, soa um pouco intensa demais, mesmo nas cenas menos dramáticas. Há tempo de um ajuste no tom da intérprete mirim para o próximo filme, no qual sua personagem está confirmada e deve ser melhor aproveitada.

Se os humanos são apenas um pretexto para colocar as criaturas num ringue de luta do tamanho do planeta, há de se esperar que esta motivação seja ao menos coerente. Entretanto, nem os planos dos vilões, nem as atitudes dos mocinhos convencem os mais exigentes. As temáticas de ausência de limites em uma instituição cientifica, humanos tentando brincar de deus, e de salvar o planeta a todos e qualquer custo, são sembre boas quando bem trabalhadas. Mas aqui estas temáticas extrapolam a lógica e obrigam os personagens à ações que na maioria das vezes não se justificam. Até mesmo todo o conhecimento cientifico, no qual os cientistas da Monarch baseiam suas escolhas parecem saídos de lendas, ao invés de estudos. Godzilla e Mothra tem uma conexão? Beleza, mas como vocês sabem disso se acabaram de descobrir a mariposa gigante, e o protagonista pouco dá as caras na superfície? Geralmente a resposta à perguntas assim vem de uma antiga lenda de determinada região, ou de uma pintura antiga em uma caverna.

A abordagem do próprio Godzilla também é um problema. Para a população em geral ele é uma ameça como qualquer outro kaiju, mas para os personagens é visto como a salvação, o herói da humanidade. Entretanto, não há construção do monstro como tal. Nós, do lado de cá da tela, sabemos que ele é o herói, já que é o personagem título e um ícone da cultura pop, mas os personagens não deveriam saber disso. Nada que o Gojira fez desde sua aparição em 2014, justifica a crença de Watanabe e companhia de que o personagem está do lado da humanidade. De fato, talvez ele nem mesmo perceba a existência de criaturas tão pequenas e insignificantes como nós.

Ok. Talvez eu esteja sendo muito exigente com um filme cujo propósito é colocar monstros para brigar, então vamos ao interesse principal da produção, os kaijus. Novas espécies para a atual franquia, mas antigos conhecidos do universo de Godzilla, garantem o quesito nostalgia para os fãs. Seu design de produção é excelente, faz alusão à suas versões originais, sem soar pouco realista em um bem construido CGI. Entretanto, o filme é escuro. Boa parte das sequencias se passam não apenas à noite, mas também na chuva, prejudicando a visibilidade e consequentemente o impacto das lutas. Ou seja, não conseguimos ver o bastante para nos empolgar, salvo quando as criaturas entram em um pico de seus "poderes luminescentes". Estes momentos são diginos de posteres.

Em meio à toda a pancadaria, há ainda tempo para anunciar o encontro entre Godzilla e King Kong, previsto para 2020. Além de uma cena pós-créditos, que deixa ganchos para esta, ou outra aventura do MonsterVerse.

Godzilla II: Rei dos Monstros deixa claro seu real objetivo, colocar monstros gigantes para brigar. O longa é relativamente eficiente nesta tarefa, mas poderia causar mais impacto se trabalhasse melhor o roteiro, construindo situações mais críveis e coerentes para motivar estas disputas. Ao menos, a produção já deixa o cenário pronto para a próxima, e bastante promissora nova aventura. Que venha o encontro entre o lagarto e o macaco gigantes!

Godzilla II: Rei dos Monstros (Godzilla: King of the Monsters)
2019 - EUA - 131min
Ação, Ficção-cientifica

Leia as críticas do primeiro Godzilla e de Kong: A Ilha da Caveira.

Post a Comment

Postagem Anterior Próxima Postagem