Desventuras em Série - 3ª temporada

Logo no primeiro dia de 2019, a Netflix disponibilizou as últimas sete horas da muito, muito triste história dos irmãos Baudelaire. E apesar do que o autor/narrador/personagem, Lemony Snicket (Patrick Warburton), alega todo o tempo, você vai sim encontrar bom entretenimento no desfecho desta série de desventuras enfrentadas por crianças.

Os irmãos Violet (Malina Weissman), Klaus (Louis Hynes) e Sunny Baudelaire (Presley Smith) perderam os pais em um misterioso incêndio. Perseguidos por seu primeiro tutor, o excêntrico Conde Olaf (Neal Patrick Harris), eles passaram por vários guardiões incapazes de defendê-los. Agora, por conta própria, eles tentam não apenas sobreviver ao vilão, mas desvendar o mistério em torno da morte de seus pais.

O Escorregador de Gelo, A Gruta Gorgônea, O Penúltimo Perigo e O Fim, são os quatro últimos livros da saga de Daniel Handler (sob o pseudônimo de Lemony Snicket). A produção da Netflix apresenta cada um deles no seu acertado formato de dois episódios por livro, que fornece o tempo necessário para desenvolver cada história apropriadamente. A exceção é O Fim, que precisou de apenas um capítulo para encerrar a trama.

Esta fórmula adotada ainda na primeira temporada da série é que fornece unidade à aventura. Cada novo cenário e desafio é diferente do anterior, uma montanha, um submarino, um hotel... Mas a maneira uniforme com que as histórias são contadas transforma os 25 episódios em uma aventura única e coesa. Um longo filme, episódico é verdade, mas que também tem uma trama principal que se desenvolve ao longo de toda a jornada.

O visual também ajuda na criação deste universo único, mantendo suas paleta escura e melancólica. Desta vez quase sem os pontos de cor mais suaves e claros que denotavam momentos de esperança na vida das crianças. Afinal, os trio de irmãos está cada vez mais desesperançado diante de tanta desgraça. Outra constante acertada são as muitas participações especiais, que novamente não enumerarei, já que a surpresa é mais interessante.

Enquanto os Baudelaires, passam por suas quatro últimas locações episódicas, a história principal entra em seu terceiro ato. Desfechos começam a ser desenhados ainda em Escorregador de Gelo, e a maioria dos mistérios são explicados ao longo dos quatro títulos. O açucareiro, a VFD (CSC, em português), e até questões que não necessariamente tínhamos ciência de estarem abertas são resolvidas, como a participação de Beatrice. A musa para quem Snicket dedica de forma mórbida cada episódio. Os poucos temas deixados em aberto, são propositais e apenas fortalecem à experiência do mundo como uma "desventura", na qual nem tudo é satisfatório.

Violet, Klaus e Sunny chegam ao final da jornada mais maduros, experientes e conscientes do mundo a sua volta. Sunny, ganha mais função e destaque que apenas morder coisas. Vale mencionar, que ela é vivida por Presley Smith, desde a primeira temporada e a produção abraçou o crescimento da menina. O excesso de computação gráfica necessário para as peripécias do bebê em seu primeiro ano, é quase descartado aqui. A caçula dos Baudelaire também começa a abandonar o vocabulário de bebê e descobrir novas vocações antes da aventura terminar. Seus irmãos, já no início da adolescência tem pequenos interesses amorosos, sem que isso tire o foco da trama principal. Já confortáveis em seus papéis, o elenco mirim dá conta do recado, e continua carregando a história ao lado, é claro, de seu arqui-inimigo.

É o arco de Olaf que tem maior desenvolvimento. Finalmente conhecemos história do vilão e, consequentemente, descobrimos todas as suas motivações, que vão além do desejo pela fortuna das crianças. Curiosamente, é na temporada que mais descobrimos sobre ele, que a produção diminui sua participação, acertando no uso do personagem. Empolgadas com seu excelente intérprete as primeiras temporadas, exageravam no espaço dado a ele, tirando um pouco da força da atuação de Harris. Neste terceiro ano, o vilão precisa dar espaço para outros personagens cujas histórias interferem na trama principal, equilibrando sua participação.


Equilibrada, bem produzida, com elenco afinado, bons personagens e até uma pitada de humor-negro, Desventuras em Série tem um desfecho coerente e altamente satisfatório. Como um todo a série adapta de forma eficiente a longa jornada dos irmãos Baudelaire, sem excessos ou buracos em seu roteiro. Sua trama com inicio meio e fim pré-determinada por sua origem literária também garantiu que todas as temporadas tivessem a mesma qualidade. Ter um momento definido para seu desfecho, evitou que a produção se estendesse de mais e perdesse o fôlego, como ocorreu como House of Cards, e Orange is the New Black, outras produções originais da Netflix.

Apesar de ser rotulada como um produto infantil, a Desventuras em Série é provavelmente uma das obras mais democrática do serviço de streaming. Easter-eggs referências, e alguns temas mais complexos estão presentes para atender aos adultos que decidirem embarcar na aventura. A qualidade da produção também é um atrativo à parte. A série é visualmente linda e tecnicamente bem executada.

Em outras palavras, é diversão para toda a família, e que finalmente pode ser consumida em sua totalidade. Desde que você esteja ciente de que vai acompanhar uma muito, muito longa jornada de muitas dificuldades e nenhuma alegria... bom, ao menos para os protagonistas. Para quem está do outro lado da tela, o sentimento em relação à esta série de desventuras deve ser muito mais agradável.

As jornada completa Desventuras em Série, um total de 25 episódios distribuídos em três temporadas, já está disponível na Netflix.

Leia as críticas das temporadas anteriores, e curiosidades sobre a série.

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