Não foram poucos os que questionaram a necessidade de um filme sobre o Venom. A revelação de que não haveria menção ao Homem-Aranha, colocou ainda mais dúvidas na cabeça dos fãs. Uma vez que o simbionte é um vilão do universo do teioso, e depende de determinadas relações graças à sua natureza parasita. As únicas coisas que realmente justificariam a existência desta aventura, seriam um roteiro realmente bom e uma nova abordagem do personagem, tanto no visual como em sua construção. Vale lembrar que Venom já apareceu nas telonas em Homem-Aranha 3 de 2007. Ou seja, esperávamos algo novo e bem feito, que justificasse sua existência.
Eddie Brock (Tom Hardy) é um jornalista investigativo abusado que tem seu próprio quadro em uma emissora de São Francisco. Ele é demitido quando ultrapassa os limites durante sua entrevista com Carlton Drake (Riz Ahmed), criador da Fundação Vida, que investe em missões espaciais para salvar a humanidade. Seis meses mais tarde, ainda sem emprego, namorada ou perspectivas, o repórter é procurado Dra. Dora Skirth (Jenny Slate), confirmando suas suspeitas sobre os métodos de Drake, que a esta altura está usando humanos como cobaias em testes com alienígenas.
A sinopse parece longa e complicada, mas não se engane, Venom é bastante simples e previsível. De fato, o longa parece fora de seu tempo, se assemelhando mais às produções do gênero - sim, adaptações de quadrinhos já são um gênero - do início dos anos 2000, do que das produções atuais, tanto na estrutura quanto no visual. A trama é bem simples, o protorganista está na pior, passa por um evento que lhe concede habilidades e precisa aprender a lidar com elas à tempo de vencer o perigo maior ao final do longa. A diferença aqui, é que as tais habilidades, vem com uma personalidade junto.
Era na dinâmica de convivência forçada entre Brock e Venom que residia o maior potencial da produção. Mas, suas personalidades não funcionam bem juntas, resultando apenas em momentos de estranheza ou cômicos, alguns deles bem forçados. Sozinhas suas características também não conquistam a emparia do espectador. O jornalista bombado, que arruma "altas confusões", e simplesmente desiste de limpar seu nome nos tempos atuais quando qualquer um pode ter seu próprio veículo online, não convence. Já o simbionte muda de objetivos e modus operante quando convém ao roteiro. Onde vai parar a fome desenfreada, e o sentimento de superioridade em relação aos humanos quando a luta principal se aproxima?
Esta instabilidade não se restringe aos personagens, as regras também mudam. Logo no início aprendemos que a conexão entre humano e simbionte depende compatibilidade perfeita, e que mesmo assim, o ajuste de suas "vidas juntos" é lento e doloroso. Mas quando preciso, os alienígenas saltam de um humano a outro sem período de adaptação, ou sequela para nenhum dos envolvidos. Em alguns momentos a "possessão" alienígena tem ares de terror, em outros a situação é cômica.
De volta aos personagens, o vilão humano, até tem uma justificativa compreensível. Ele quer salvar o mundo com aqueles conhecidos conceitos errados e radicais. Mas não consegue evitar cair no cliché de vilão megalomaníaco. Situação agravada quando este perde seus objetivos assim que se associa com o vilão alienígena. Riot, é o tradicional líder de dominação extraterrestre, e apenas isso.
Tem ainda espaço para o par romântico "da vez" Anne (Michelle Williams, precisando conversar com seu agente sobre só escala-lá como "esposa de alguém), que está ali apenas para seguir a fórmula, que existe uma moça prefeita a ser almejada. Dr. Dora Skirth (Jenny Slate), é uma representação feminina melhor trabalhada, mesmo com seu pouco tempo de tela.
Se a história não surpreende, e os personagens não são bem construídos as esperanças ficam na ação e efeitos especiais. O filme entrega cenas de ação que funcionam, mas não surpreendem. Os poderes de Venom, são interessantes inicialmente, mas logo que a curiosidade passa estes se mostram repetitivos. Suas cenas de luta tem certo urgência, quando o alienígena combate os frágeis humanos. Entretanto, quando chega a luta principal entre os simbiontes, a coisa vira um emaranhado de CGI fluido, incompreensível, sem peso algum. Ao menos, grandes lutas finais com excesso de computação gráfica ainda são um problema nas produções atuais.
Provavelmente existe uma justificativa para a existência de um filme solo de Venom afinal a criatividade não tem limites. Mas esta produção não encontrou um bom argumento. Soa como a Sony tentando marcar presença, enquanto o excelente Peter Parker de Tom Holland não está disponível.
Venom
2018 - EUA - 112min
Ação, Ficção científica, Quadrinhos
P.S.: O filme tem duas cenas pós créditos.
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