Sierra Burgess é uma Loser

Ela também inteligente, ingênua, egoísta, carente, não liga para a opinião alheia, é insegura... As oscilações de personalidades de Sierra são tantas, que fica difícil compreender quem a protagonista realmente é, e consequentemente criar empatia com ela.

Sierra Burgess (Shannon Purser, a Barb de Stranger Things) parece não se importar com o estereótipo de "garota gorda", no qual sua caricata sociedade escolar a encaixa. Até que uma mensagem enviada por engano a faz engajar um romance virtual com o atleta Jamey (Noah Centineo, de Para Todos os Garotos que já Amei). O problema é que o rapaz acha que está conversando com a garota mais bonita e popular da escola. O que leva a protagonista a se aliar com a tal garota, sua arqui-inimiga Verônica (Kristine Froseth).

Perdendo a oportunidade de apresentar uma adolescente fora dos padrões que não se importa com a opinião alheia, este romance adolescente da Netflix, inicialmente apresenta sua protagonista como uma personagem confiante e inteligente, mas não consegue manter esta personalidade durante toda o filme. O resultado, é uma protagonista instável, que faz escolhas equivocadas e incoerente com a forma com que o roteiro a trata.

Sierra supostamente é inteligente, mas às vésperas da formatura, nunca pensou no que fazer depois da escola. Ela tem completa noção das consequências do engano, mas não hesita em fazer de tudo para manter a farsa. Insistência que também vai de encontro com sua alegação de não se importar com as aparências. Se sente superior aos seus estereotipados colegas de escola, mas comete atos ainda mais mesquinhos do que aqueles que abomina. Ao menos em certa altura do filme a moça admite estar perdida, mas a resolução desta jornada "ladeira à baixo" é tão simplificada e rápida que fica difícil crer, que os erros foram corrigidos e que alguma lição foi aprendida.

Quem tem um arco mais interessante é Verônica. Seu estereótipo de "líder de torcida malvada", é desconstruído ao longo da trama conforme o relacionamento entre ela a a protagonista evolui e descobrimos os motivos da moça ser como é. A amizade improvável entre duas pessoas tão diferentes rende bons momentos, mas é sub-aproveitada pela trama, em prol da confusa jornada da protagonista.

Outro que tem bons momentos, mas é pouco aproveitado pelo roteiro é Dan (RJ Cyler). O melhor amigo da protagonista, é divertido, inteligente e sensato, e poderia funcionar como bússola moral para a confusa Sierra. No entanto o personagem é deixado de lado, enquanto a garota faz escolhas ruins e egoístas. Já o namoradinho da vez, Jamey, escapa do estereótipo de "atleta cabeça-oca", mas parece desatento demais em muitas das situações de troca de identidade.

Anunciado como uma visão moderna de Cyrano de Bergerac, o filme acerta ao usar as atuais tecnologias de comunicação nas situações de falsa identidade, mas a criatividade para por aí. A direção pouco inspirada, não imprime personalidade.

Sierra Burgess é uma Loser, e embarca no caminho para de se tornar uma pessoa "feia por dentro", sem uma jornada de crescimento e redenção, para traze-la de volta. Seu filme confunde auto-confiança, com falta de vontade de cuidar de si mesma. Tenta criar personagens originais, mas os trata como estereótipos.

Não é uma adaptação moderna e inteligente de um clássico, como 10 coisas que odeio em você. Também não é uma diversão escapista como A Barraca do Beijo. Muito menos faz bom uso do carisma e personalidade de Purser, que surpreendeu em Stranger Things. Sierra Burgess é uma Loser, é apenas indeciso e pouco carismático, como sua perdedora protagonista.

Sierra Burgess é uma Loser (Sierra Burgess Is a Loser)
EUA - 2018 - 105
Romance


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