American Gods - 1ª temporada

A expectativa para a versão para as telas de Deuses Americanos, livro de Neil Gaiman não era pouca. Aliás grandes esperanças por versões das obras do autor moderno são uma constante, mas suas obras cheias de metáforas, reinterpretações e humor ácido são difíceis de adaptar especialmente em filmes. Por isso, os fãs ficaram entusiasmados quando American Gods (título original do livro) começou a ser adaptada em forma de série, com mais espaço para desenvolver a rica mitologia daquele universo.


Shadow Moon (Ricky Whittle) está prestes a sair da prisão, quando sua esposa Laura (Emily Browning, Sucker Punch) morre. Sem mais nada a que se apegar, ele recebe uma proposta do exocêntrico Mr. Wednesday (Ian McShane) e acaba se tornando seu motorista/garoto de recados. Não demora muito para perceber que a realidade em que seu novo chefe vive é muito maior do que a da maioria das pessoas, evolvendo uma disputa entre os velhos e os novos deuses. Todos vivendo "encarnados" entre nós, meros mortais. Por outro lado demora bastante para o protagonista questionar diretamente o que diabos está acontecendo.

Assim, o espaço para desenvolver a trama é ao mesmo tempo o ponto forte e fraco da série. É preciso sim um ritmo mais devagar para apresentar e ambientar o expectador em meio a tantas divindades. Embora muitas delas estejam por aí há milênios, os expectadores podem nunca ter ouvido sobre elas, afinal inconscientemente são os Novos Deuses a quem adoramos. A produção usa boa parte do tempo para construir este universo, mas não esclarece quase nada antes do último episódio. O resultado é a sensação de que a trama pouco avança e muitas, muitas dúvidas especialmente para quem não leu o livro, ou tem pouco conhecimento sobre as muitas divindades em que a humanidade já acreditou.

A responsabilidade de esclarecer o leitor seria do único "humano normal" naquele meio, mas ele demora muito a acreditar na realidade em que está vivendo e também não a questiona. Quando você vê algo impossível sua reação geralmente é uma destas duas: questionar incessantemente até fazer sentido, ou acreditar cegamente, como um ato de fé. O protagonista não esboça reação alguma, passa quase todo o tempo dormente aos "impossíveis" que presencia.

Enquanto Shadow não faz as perguntas que deveria como "representante do expectador", os personagens à sua volta roubam a cena. Especialmente Laura e Mad Sweeney (Pablo Schreiber o George 'Pornstache' Mendez de Orange is the New Black), que constroem uma relação curiosa. Já Ian McShane está completamente confortável na pele de um deus carismático, esquisito e cheio de segundas intenções.

Do outro lado da batalha Mr World (Crispin Glover), Technical Boy (Bruce Langley) e Media (Gillian Anderson), são a cara dos novos deuses. Atenção à versatilidade de Anderson a cada momento personificando com perfeição um ícone midiático. Entre divindades, criaturas mitológicas e um humano vez ou outra, o elenco traz participações especiais afinadas de rostos conhecidos Cloris Leachman, Omid Abtahi, Tracie Thoms, Corbin Bernsen, Jeremy Davies, Fionnula Flanagan. Entre os convidados os destaques ficam com Orlando Jones (Mr. Nancy, e seus discursos hipnotizantes) e Yetide Badaki (Bilquis, igualmente hipinotizante sem falar quase nada). Canastrão mesmo só o Shadow Moon.

Outro destaque é o visual que não tem medo de ser caricato e visceral quando preciso - leia-se muitos baldes de sangue! A incorporação e adaptação de ícones e símbolos para os temos atuais e os "seres" que o carregam/personificam, também são um acerto. Paralelas à trama principal, pequenas histórias de os antigos deuses chegaram ao novo continente, e sua relação com os mortais são as que mais agradam. São elas que vão sutilmente incutir no expectador a ideia chave da narrativa: Deuses são reais se acredita neles!

Então chegamos ao oitavo e último episódio, meio confusos, mas empolgados com o visual deslumbrante, as boas atuações menos do Shadow e os diálogos inteligentes. E finalmente a série põe todas as cartas na mesa, e diz a que veio de forma grandiosa antes de terminar repentinamente. A sensação de ué, agora que tava ficando bom acaba? é frustrante, mas eficiente em deixar o expectador na vontade por uma segunda temporada. Desta vez mais ciente do universo em que estamos embarcando.

American Gods tem uma temporada bem estruturada e concisa, apesar de um ou outro problema de ritmo. O desenrolar inicial mais lento deve compensar, servindo de base sólida, se a série mantiver o tom mais urgente de seu último episódio nas temporadas que estão por vir.

O segundo ano da série já foi confirmado. No Brasil a produção está disponível na Amazon Prime.

2 Comentários

  1. Valeu a dica de estar na Amazon Prime :)

    Entrar na lista pra assistir :)

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  2. Disponha, estamos aí para isso! Depois me conte o que achou.

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