A Colina Escarlate

A protagonista de A Colina Escarlate não precisa acreditar em fantasmas. Edith Cushing (Mia Wasikowska) não apenas sabe que eles são reais, como pode interagir com eles. É claro, ela não compartilha esta certeza diretamente com ninguém, mas não deixa de colocar sua realidade em seus livros. A aspirante à escritora, deslocada das convenções sociais prefere ser comparada à Mary Shelley, que à Jane Austen. E não escreve histórias de fantasmas, mas "com fantasmas", como ela mesma afirma.

Este também é o caso do filme em questão. A Colina Escarlate é uma história com fantasmas, onde a parte não sobrenatural pode ser mais ameaçadora que os fantasmas. Para a história acontecer, no entanto é preciso que Edith, saia de sua zona de conforto e aversão social. Essa mudança vem em forma do misterioso aristocrata britânico Thomas Sharpe (Tom Hiddleston). Acompanhado irmã, a fria Lucille (Jessica Chastain) em visita aos Estados Unidos, à procura de investidores.

Apaixonada, a mocinha não faz objeções à morar com o marido na propriedade que da nome ao filme. Uma mansão, outrora imponente lar de nobres ingleses, atualmente desabando. Aliais, afundando na colina que reside, formada do barro mais vermelho que se pode imaginar, que invade a casa por todas as frestas possíveis. É na casa que Guillermo del Toro, investe todo horror e encantamento do longa.

Um esmero da produção de arte, a casa não é animada, mas é viva. Seja pelos barulhos, os detalhes em suas paredes e moveis, as mariposas, a iluminação bem pensada e o gigantesco buraco no teto. A atmosfera que todos esses elementos criam (inclua aqui um incrível figurino, que não apenas distingue as personalidades dos personagens, mas fazem contraste com o cenário em si) é incomparável.
A produção de arte é tão boa que distraía o elenco em cena..... brincadeirinha!!!!
O roteiro não é dos mais surpreendentes. Mas, a calma com que é desenvolvido e as boas atuações compensam, o fato de que você vai descobrir o mistério antes do que gostaria. O destaque fica para o ambíguo personagem de Hiddleston, que com o equilíbrio entre tristeza, ameaça e romantismo (quem diria), nos faz à contragosto, gostar dele quando devíamos odiar.

 Ainda estão no elenco principal Charlie Hunnam, um tradicional bom moço da época, que se torna propositalmente patético neste contexto. Burn Gorman, bastante caricato. E Jim Beaver (o Bobby de Supernatural), como pai de Edith.

Se o roteiro pouco original pode ser relevado, o único escorregão é quanto aos tais fantasmas que "participam" da história. Apesar de bem feitos estão bem longe da originalidade dos "monstros" de del Toro, pontos altos de produções como Labirinto do Fauno e HellBoy. E muitas vezes aparecem acompanhados do efeito "sobe a música, e close no monstro", para assustar o expectador. Uma pena já que a tensão, e atmosfera são muito mais eficientes em aterrorizar quem está do lado da tela, do que simplesmente gritar "BÚU!" em seu ouvido.


A Colina Escarlate não é o melhor filme de Guillermo del Toro, mas está longe de ser o pior. Uma obra visivelmente produzida com entusiasmo por todos os envolvidos. Que podia explorar mais seu potencial narrativo, mas já encanta pelo esmero na produção, e pelas imagens deslumbrantes e assustadoras com que premiam os olhos do público.

A Colina Escarlate (Crimson Peak)
EUA - 2015 -118min
Terror/Romance

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