Se eu ficar

Qual faculdade cursar, triângulos amorosos, como manter os relacionamentos após o colégio, conflitos de geração com os pais... Apesar do que prega a literatura voltada para o publico jovem atual, essas não são as questões mais complicadas que um adolescente, ou jovem adulto pode precisar encarar de frente.  É claro, a grande maioria passa por questões como esta. Mas sempre existe a possibilidade, e alguns vão enfrentá-la, de que outro dilema transforme essas questões em problemas menores, dos quais até se pode sentir falta.

E é sobre, nas palavras da protagonista, "como a vida é uma coisa e então, de repente, se torna outra?", de que se trata Se eu ficar. Mía Hall é uma adolescente comum, que em um dia de neve, quando as aulas são canceladas em sua cidade, sai para passear com os pais e o irmão caçula. É um acidente durante este passeio, que transforma sua vida em outra coisa, literalmente.

Em coma, Mia passa a existir em um estado de consciência fora do corpo. Observando desde seu resgate, até seu tratamento hospitalar e todas as consequências deste desastre familiar. E precisa tomar a decisão que torna todas as outras questões adolescentes pequenas, ficar ou partir.

Entre as conversas na UTI, as visitas de parentes, e os questionamentos de Mia nos corredores do hospital, Mia nos conta, ou relembra, detalhes de sua vida. É aí que descobrimos, que a moça é uma excepcional violoncelista, e uma tímida filha de pais roqueiros. Seu relacionamento, com os pais, o irmão caçula, os avós, os amigos, e é claro, o inesperado namorado. O roqueiro "legal" demais para uma menina tão careta.

Sim, vemos a protagonista lidar com dilemas adolescentes (felizmente nada de triângulo amoroso aqui), mas estes não são o foco. Essas memórias, em forma de flashback, montam a lista de prós e contras para que Mia decida se vai ficar. Viver com o que perdeu, ou seguir e deixar outros para trás. E apesar de ser grande parte do dilema, não é apenas o romance com Adam, que conta na hora em que a moça precisa tomar a decisão. Mia é mais que uma adolescente apaixonada.

A linguagem é simples, direta e fluida, apesar de dividida em duas linhas narrativas distintas, vida e coma. Quase uma conversa, ou uma olhada no diário da jovem protagonista. O que facilita e muito a empatia com o leitor, que logo se vê compartilhando tão complexo dilema com a garota.

É na simplicidade com que trata um tema impossível, que está a maior qualidade do livro. Tratar adolescentes como pessoas complexas, e não apenas estereótipos guiados pelos hormônios e vivacidade da idade também é uma escolha acertada.

É claro, há momentos formulísticos para "fazer chorar", mas há altura em que aparecem não eram mais necessário. E por afeição aos personagens com os quais já criou uma relação, o leitor não deve se incomodar com um pouquinho de "pieguice".

Simples e honesto, Se eu ficar, traz para seu público alvo, dilemas diferentes daqueles abordados pela maioria dos livros para jovens adultos. Questões aliais, que não estão restritas à uma faixa etária, e por isso deve fazer refletir leitores de todas as idades.

Se eu ficar (If I Stay)
Gayle Forman
Novo Conceito


Leia a resenha do filme Se eu ficar;

P.S.: A adaptação para as telas de Se eu ficar, está em cartaz nos cinemas de todo o país (leia a resenha). A edição do romance recentemente lançada pela Novo Conceito, com a obrigatória "capa do filme" traz também entrevistas feitas pela autora Gayle Forman com os protagonistas Chloë Grace Moretz e Jamie Blackley. Além de um trecho da continuação Para Onde Ela Foi.

 A existência dessa sequencia em particular me deixou apreensiva, sobre sua real necessidade ou ser apenas uma forma lucrar com os personagens. Entretanto, descobrir que nesta sequência a história é vista pelo ponto de vista do namorado Adam, me deixou curiosa. Vale lembrar, o final de Se eu ficar, apesar de indicar a decisão de Mia, ainda deixa questões em aberto.

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