
A história básica é bastante conhecida. Deus se cansa da maldade dos humanos e decide dar um reboot no mundo. Entretanto, como só os humanos parecem ter problema resolve antes, salvar todo o resto, incumbindo Noé de construir uma enorme arca para abrigar um casal de cada animal, durante um dilúvio que deve lavar a terra da maldade do homem. Some-se aí anos de traduções e re-interpretações da história, que não a questionam e até certo ponto compreendem completamente.
O resultado é a imagem pouco crível, porém totalmente aceita, de um Noé como um ancião barbudo de toga, sandálias que Darren Aronofsky (Cisne Negro) pretende atualizar. A começar por escalar o "gladiador" Russel Crowe, para o papel título. Além de jovem (em nenhum momento no filme é mencionado que Noé tenha 600 anos), Noé é um herói falho e complexo. Considerado digno pelo criador, segue cegamente às suas ordens e sofre com as consequências, de atos que não são seus.

Consequências essas apontadas pelo antagonista Tubal-Cain (Ray Winstone) criado para dar substância a um filme de duas horas. Rei desta humanidade decaída vai lutar pela salvação na arca. Afinal, quando varrer a humanidade o dilúvio também varrerá, inocentes, crianças, bebês, idosos. Cego de obediência Noé nunca questiona este genocídio. Dilema que fica a cargo de sua família, impotente diante do comportamento irredutível do patriarca.




Ficam com pouco destaque, os animais. Criados por computador, apenas "batem ponto", na trama que pertence aos humanos. A estrela no entanto, a Arca, impressiona pela proporção. Construída como um enorme cenário real, com aparência rústica e rígida (é um caixote escuro, muito diferente do estilo "barco navegável" de nosso imaginário), é ela que dá enfase ao tamanho da tarefa a ser cumprida.

Jennifer Connelly (a esposa de Noé), Anthony Hopkins (o misterioso e sábio avô Matusalen), Logan 'Percy Jackson' Lerman (o ambicioso filho Cam) completam o elenco desta releitura da história do dilúvio. Com proporções de um épico, bíblico ou não, Noé traz temas, criacionistas, evolutivos e até questões ambientalistas, em uma trama apresentada com um olhar quase imparcial. Permite dúvidas, reinterpretações e questionamentos, como qualquer boa aventura, ou fantasia. Isto é, se o expectador estiver disposto a fazê-lo!
Noé (Noah)
EUA - 2014 - 138 minutos
Épico
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