Wicked: Parte II

Demorou um ano, mas finalmente está completa uma das maiores adaptações da história do cinema! E Wicked é uma grande adaptação não porque é excelente (talvez seja, descobriremos até o fim deste texto), mas porque é uma adaptação, da adaptação, da adaptação...

Calma, eu explico! Os dois filmes de Wicked são adaptações do musical da Broadway, que por sua vez, é uma adaptação do livro de mesmo nome, que é uma reimaginação do filme de 1939, que é uma adaptação do livro de L. Frank Baum. Logo, é uma adaptação, da adaptação, da adaptação, da adaptação de um livro! E essa reinvenção em camadas é a maior armadilha de Wicked: Parte II. Mas estou me adiantando, antes vamos relembrar o argumento deste filme. 

Tempos após os eventos do primeiro filme (a métrica de tempo aqui é confusa, o elenco humano não mudou nada, mas foi tempo suficiente para um filhote de leão se tornar adulto, então... alguns anos?) Elphaba (Cynthia Erivo) foi declarada a maior inimiga de Oz. É vista e tratada assim pelo povo que acredita completamente no discurso do Mágico (Jeff Goldblum) e da Madame Morrible (Michelle Yeoh). A dupla de vilões também usa Glinda (Ariana Grande) como arma de manipulação e um contraponto à figura da bruxa má que criaram. Trabalho que ela aceita para tentar resolver o embate e trazer a amiga de volta. 

Quando a professora comete um atentado contra Nessarose (Marissa Bode), irmã de Elfaba, para atrair e capturar a tal bruxa má, é que a história de fato avança. Dando início aos eventos de O Mágico de Oz, a aventura original com Dorothy e sua trupe. E consequentemente criando embates decisivos entre os principais personagens. O eventos que parecem muito empolgantes, mas demoram para acontecer, e não são mostrados de forma coerente. 

Partes dois de filmes já são complexas pelo simples fato de ser uma continuação que, geralmente, exige que se tenha visto o filme anterior. É algo esperado, e algumas sequencias até conseguem funcionar isoladamente. Mas esse não é o caso de Wicked: Parte II, que ainda tem o agravante de deduzir que o público conhece a história de O Mágico de Oz. Coisa que curiosamente o primeiro filme não exige.

Os eventos desse filme tentam se encaixar na história do clássico original, soando meio forçado em muitos momentos. Especialmente, quando transforma alguns personagens de forma repentina para caber na história. A sensação é que apesar de existir um mundo inteiro (mostrado espertamente em uma cena onde o Mágico brinca com um globo tal qual o Grande Ditador de Chaplin, colocando uma camada extra na discussão de regime totalitário) tudo que é importante acontece com a mesma meia dúzia de pessoas. É como em Star Wars, quando decidem que todo mundo precisa se Skywalker, ou Palpatine pra ser relevante pra história. 

E apesar de toda essa conexão, não mostra nada da jornada da menina do Kansas. Nem mesmo para mostrar melhor o desenvolvimento de Boq e Fiero. O primeiro até compreendemos o motivo de seguir com ela, mas as motivações do segundo são contraditórias.

É uma abordagem pouco criativa. E exige conhecimento prévio da história de Doroty. Coisa em que o primeiro filme acertou. Apesar de usar Glinda e a Bruxa Má, conseguia ampliar o universo dando bagagem a elas, criando novos personagens e novos ambientes. O que tornava a sessão prazerosa para quem conhece o clássico, mas não excluia quem conhece. 

E por falar no desenvolvimento das personagens, este sim continua a se desenvolver aqui. Acredito que com mais foco em Glinda. Apesar da Elfaba ainda ser a protagonista, ela já desabrochou. Já sabe quem é se sua trajetória agora é a luta contra o Mágico. É a personagem de Ariana Grande que precisa lidar com uma dualidade nova, já que tenta jogar nos dois times. E precisa fazer escolhas complexas. Coisa que a sua interprete faz muito bem. 

Outro que tem uma dualidade bastante interessante é o Mágico. Um personagem detestável, mas cheio de carisma, truques de palco, e um interprete que o publico adora. Goldblum parece estar se divertindo, e pra nós é interessante observar. Enquanto Jonathan Bailey convence como pivô de um triangulo amoroso, mas nunca tem química com Cynthia e Ariana, semelhante a que as duas tem uma com a outra. Mas funciona, afinal a história é sobre a amizade das duas. 

Outros personagens, como Nessarose , Boq (Ethan Slater) tem relevância, mas um desenvolvimento corrido. Resultado dos muitos temas que o roteiro tenta tratar com uma didática extremamente repetitiva. A discussão aqui é quanto ao domínio exercido por um regíme totalitário através da desinformação, as fake news e da construção de um inimigo comum. No caso, os animais falantes e a Elfaba. 

A repetição, somada a uma trama mais restrita pelas conexões com a história original, faz com esta segunda metade da história tenha um ritmo irregular e em alguns momentos cansativos. As melhores canções também estão situadas na primeira parte, onde surgem de forma mais orgânica ampliando as cenas. Enquanto aqui as canções muitas vezes interrompem a história para acontecer. Em especial as duas canções novas criadas especialmente para o filme. 

"The Girl in the Bubble", uma reflexão da Glinda sobre seu papel em Oz, suas crenças e a pessoa que deseja ser, interrompe completamente a trama, para nos mostrar Ariana cantando uma canção pouco memórável. Já "No Place Like Home", interpretada por Erivo ao menos consegue fazer alusão ao filme de 39, e tem a função de mostrar a fuga dos animais, e reforçar a promessa de luta por eles da protagonista. Mas, também não é essencial para a trama, e interpretada em meio a animais de CGI, soa artificial demais.

E por falar nos efeitos computadorizados, apesar de extremamente bem feitos, o uso maior deles nesta sequencia fazem as cenas soarem menos reais, e com isso tiram seu peso. “No Good Deed”, por exemplo, traz uma entrega absurda de Erivo, mas que perde em impacto em meio à magia, um grande castelo de CGI e macacos voadores. É muito para dividir as atenções. 

Dito isso, cenários, figurinos e maquiagem mantém a excelente entrega já vista no primeiro filme. Oz é realmente mágica, e grandiosa. E o filme ainda traz boas cenas, como o embate e a despedida das amigas. 

Preso na armadilha de ser resultado de múltiplas adaptações, e um pouco refém dos anteriores por isso, Wicked: Parte II é eficiente, mas menos criativo, divertido e empolgante do que a primeira metade da história. Uma falha que não vem apenas do filme, mas do musical em si. Jon M. Chu tentou contornar esse desfecho mais morno. E com ajuda de equipe e elenco carismáticos e esforçados, consegue encerrar a história de forma digna. Mas não alcança o mesmo brilhantismo da parte um. 

Wicked: Parte II (For Good)
2025 - EUA - 138min
Musical, Fantasia

Leia a crítica de Wicked!

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