A Mulher na Cabine 10

Livros de mistério são sempre ótimas fontes de roteiros para novos filmes. E se o romance em questão for um best-seller, melhor ainda. A adaptação para as telas já conta com um grande público cativo. Embora eu acredite que mesmo sem essa ajuda A Mulher na Cabine 10 ainda se tornaria o sucesso que se tornou na Netflix

Laura (Keira Knightley) é uma jornalista investigativa que acaba de passar por uma experiência traumática. Em seu retorno ao trabalho, aceita então uma tarefa mais leve, registrar um cruzeiro particular onde o casal de milionários Ane e Richard Bullmer (Lisa Loven Kongsli, Guy Pearce) anunciarão sua nova instituição de caridade, como ultimo ato da esposa que está morrendo de uma doença terminal. À bordo, a repórter presencia acontecimentos estranhos, e vê uma mulher ser jogada do barco na calada da noite. Mas ninguém acredita nela, e sua insistência em buscar respostas a colocam em uma situação de disconfiança e hostilidade entre os donos, os outros convidados ricos, e até a tripulação. 

O roteiro segue a tradicional trama de desacreditar e perseguir quem busca a verdade. Daquele jeito que faz até o público duvidar da sanidade da protagonista. Falta de originalidade que não é um problema quando a trama é bem construída e os personagens são interessantes. Mas, à excessão da protagonista, o o roteiro de Joe Shrapnel e Simon Stone, pouco utiliza as peças que tem em mãos. 

Em especial seus muitos personagens. A tripulação na maior parte do tempo apenas faz volume em cena, mesmo quando destaca um funcionário ou outro, como o capitão, a acessora do dono, ou mesmo a conscierge que cuida de Laura. Estes são usados e descartados com extrema rapidez, o que fica ainda mais evidênte quando a trama resolve colocar parte da resolução do clímax em suas mãos. Qual a motivação que levou tal funcionária a tomar determinadas atitudes? Não se sabe. 

Já os demais convidados é uma constelação de gente rica e caricata que mal conseguimos distinguir umas das outras. Presentes apenas para aumentar o número de suspeitos, mesmo que racionalmente nenhum deles seja de fato viável. Afinal, que autoridade teriam no barco para manipular as coisas? E também para ampliar as hostilidades e a sensação de "peixe fora d'água" em relação à mocinha. Descartáveis, ainda que contem com bons nomes como Kaya Scodelario e David Morrissey.

Restam o ricaço, sua esposa terminal, e o ex complicado da mocinha. Enquanto os dois primeiros estão óbviamente envolvidos no mistério, o terceiro Ben Morgan (David Ajala) alterna entre apoio, e mais um ponto de desconfiança para a moça. Com base em seu histórico romantico complicado. 

E por falar na mocinha, Keira Knightley entrega uma personagem convincente e determinada. Mesmo, ou melhor, inclusive quando faz escolhas que não condizem com a jornalista experiente que o roteiro afirma que é. Sua incapacidade de dissimular, e fingir jogar o jogo dos ricos para escapar e fazer mais descobertas é enervante. Mas, ao menos a faz soar como louca, assim como o restante dos personagens a trata. 

Particularmente, tenho dificuldade em acompanhar a atriz em papéis contemporâneos. Para mim ela ficou marcada por seus muitos papéis de época, e acredito que sua postura e forma de falar, funcionam melhor neles. Falta um pouco de naturalidade e traquejo contemporâneo quando à vêmos "nos dias de hoje". Mesmo assim, consegui me conectar, apegar e torcer por Laura. 

Outro aspecto que a produção explorabem é a geografia claustrofóbica e labirintica do iate. Coisa que já foi feita em outras obras passadas em locações restritas. Não é novidade, e aqui funciona muito bem. O barco é imenso, extremamente luxuoso, seus corredores são escuros e opressores. Além do fato de eles estarem navegando para o norte do planeta no inverno, supostamente à caça de uma aurora boreal. Paizagen cizenta, ambiantes apertados e sem luz, os ricos gostam mesmo disso? Para causar um clima de suspense, no entanto, é ótimo!

Diante de tantos pontos negativos que mencionei, à essa altura, você deve estar se perguntando, porque no início desse texto afirmei que a obra ainda sim seria um sucesso da plataforma? Pois apesar de tudo, A Mulher na Cabine 10 acerta no que é necessário para envolver. Tem um bom elenco reconhecível, uma trama com um mistério que nos mantém curiosos, é fácil de acompanhar e ainda tem aquela pitadinha de fascínio pela vida dos milionários. 

A Mulher na Cabine 10 não é excepcional. De fato, faz até algumas escolhas bastante preguiçosas. Mas, entretém. Te mantém ocupado por um par de horas, para imediatamente te liberar para o total esquecimento depois. É o passa tempo descompromissado que procuramos para escapar da realidade.

A Mulher na Cabine 10 (The Woman in Cabin 10)
2025 - Reino Unido/EUA- 92min
Suspense


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