Um livro de sucesso como base, um elenco de peso e um mistério de assassinato. O Clube do Crime das Quintas-Feiras não precisa se esforçar muito para chamar atenção em meio à enxurradas de produções genéricas da Netflix. A questão é, esses elementos que o fazem se destacar de imediato são realmente bem aproveitados, ou um mero chamariz?
Adaptação do romance de mesmo nome de Richard Osman, que já tem três sequencias, e um quinto livro planejado para sair ainda em 2025. O Clube do Crime das Quintas-Feiras acompanha um grupo de residentes de um retiro de aposentados de luxo chamado Cooper's Chase. Que, nas quintas-feiras, se reunem para especular e tentar solucionar crimes de arquivo morto como passatempo.
Até que um crime de verdade ocorre, e envolve o futuro de seu idílico lar. Levando o grupo a usar suas habilidades para uma investigação de verdade. Elizabeth (Helen Mirren) usa seu conhecimento de interrogatório de seu passado misterioso para colher informações. Ron (Pierce Brosnan) usa os contatos acumulados de uma vida de sindicalista. O psiquiatra Ibrahim (Ben Kingsley) faz análises dos perfis, além de outras observações métódicas. E a enfermeira Joyce (Celia Imrie) traz seus conhecimentos médicos para completar o grupo. Todos aposentados, com resursos e muito tempo livre, é muito difícil não entregar algo divertido a partir daí.
E a trama traz muitas reviravoltas, divertidos e espertos improvisos da experiente equipe, que não apenas são criativos e funcionam bem, como combinam muito com as demais obras do direto escolhido para comandar a produção. Chris Columbus de Esqueceram de Mim e dos dois primeiros Harry Potter, é o comandante perfeito para esse tipo de "aventura de traquinagem", que precisa de ritmo acertado e bom humor para ser bem sucedido.
O grande empecilho aqui é o roteiro, que subestima o público e sente a necessidade de explicar cada passo excessivamente, ao invés de convidar a audiência a investigar junto com os personagens. Ao mesmo tempo, precisa lidar com tantos personagens e sub-tramas, que mesmo tentando, não consegue apresentar tudo e todos de forma satisfatória. O resultado é um texto que ao tentar dar conta de tudo, e facilitar o entendimento de tudo, se empobrece, perde detalhes e não explora os personagens e eventos tanto quanto poderia.
Felizmente o elenco de peso supre a falha que o roteiro comete com seus personagens. Helen Mirren comanda a investigação com altivez e energia surpreendentes. Celia Imrie alterna bem entre a ingenuidade de sua vovózinha boleira, e a empolgação de alguém que descobriu um novo hobbie. Ben Kingsley é o mais sub-aproveitado, mas completa a química do grupo. Assim como Pierce Brosnan, que se diverte tanto, ao ponto de se perder em seus sotaques.
Além do quarteto principal, ainda estão em cena Naomi Ackie, Tom Ellis, Jonathan Pryce, David Tennant e Richard E. Grant. Todos com a competencia já esperada por suas carreiras, e se divertindo com a possibilidade de atuar em algo leve.
Sim, leve! Apesar de se tratar de uma trama de múltiplos assassinatos, Chris Columbus, foge do esperado tom soturno, misterioso e ameaçador, e adota uma atmosfera ensolarada e colorida para contar sua história. O que pode desagradar quem esperava por algo mais tradicional nesse quesito, mas combina bem com o espírito dos personagens. São aposentados felizes e bem resolvidos, que tratam crimes como hobbies. Um assassinato fresquinho é como um parque de diversões para eles.
Assim, O Clube do Crime das Quintas-Feiras se assemelha mais de aventuras infanto-juvenis, onde crianças e adolescentes são mais espertos que os adultos e salvam o dia, do que de filmes de investigação propriamente ditas. O diferencial é que os protagonistas estão na outra ponta da vida. Se bem que muitos dizem, que quando envelhecemos voltamos a ser crianças.
E por falar na melhor idade, o filme ainda ensaia uma discussão sobre etarismo. O descarte da experiencia dos mais velhos, a necessidade de comunidade e atividades para quem já está na "fase de descanso da vida". Embora não desenvolva muito, a lição aqui é que a vida dos mais velhos pode ser ativa, e não apenas a espera do fim de seus dias.Também há uma leve discussão sobre especulação imobiliária, e destruição de espaços antigos e comunidades inteiras, visando o lucro. Mas novamente, é apenas um ensaio da discussão, uma ferramenta para a narrativa e nada além.
Sim, o livro base, o bom elenco e o mistério são meras iscas para O Clube do Crime das Quintas-Feiras. Mas, embora o filme não explore tudo que é possível desse universo, pelo simples motivo que não tem tanto tempo para tal como nos livros, a produção ainda satisfaz quem busca bom entretenimento. ´
O elenco compensa a falta de aprofundamento dos personagens, assim como a promessa de mais tempo com eles. É claro, que a Netflix tem planos de transformar a obra em uma franquia. E pela recepçã do público, deve mesmo acontecer. À nós resta torcer para que não demore muito, para passarmos mais tempo com eles, e conhecermos melhor este clube.
O Clube do Crime das Quintas-Feiras (The Thursday Murder Club)
2025 - EUA - 118min
Comédia, Mistério, Suspense, Crime
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