Que Andor é o produto mais complexo e maduro de Star Wars, já é uma verdade conhecida. A dúvida que ainda fica é, agora que a obra está completa, vai fazer parte do imaginário popular da saga, ou ficará em segundo plano, como obras como Han Solo? Hora de analisar a segunda temporada da série, e seu saldo como um todo.
Algum tempo depois da rebelião em Ferrix, Cassiam Andor (Diego Luna) estão oficialmente na rebelião. Mon Mothma (Genevieve O'Reilly) precisa fazer ainda mais sacrifícios para manter o equilibrio de sua posição. Enquanto Syril Karn (Kyle Soller) e Dedra Meero (Denise Gough), avançam nas funções de peões do Império, cada um à sua maneira.
Na primeira temporada, Andor definiu seu formato narrativo, em arcos de três episódios. O que deveria conferir dinamismo e coerência à narrativa, mas acaba evidenciando a diferença de ritmo, e consequentemente de nosso engajamento, entre os arcos. O que nesta segunda temporada fica ainda mais evidente com o lento desenvolvimento, especialmente da trama de Ghorman .
"Cozinhar a trama em fogo brando", é sim uma boa forma de construir e enriquecer a narrativa, criando uma tensão crescente que potencializa o ápice. Entretanto, se esse "cozimento" se entende demais, é possível que alguns percam o interesse e deixem a mesa antes do jantar ser servido. Dito isso, os longos sete episódios que preparam o terreno, para os embates nos cinco finais são cansativos. Nos fazendo questionar a extensão e necessidade de algumas tramas.
Era mesmo necessário passar tanto tempo, com os rebeldes atrapalhados do primeiro arco? E todo o dilema do trauma de Bix (Adria Arjona), que se estende por três longos episódios, para ser resolvido em apenas duas cenas? A sensação é que mantiveram a personagem apenas para justificar a cena final, que apesar de bela, é clichê, piegas e previsível. Some-se aí o excesso de personagens, planetas, patentes e conexões, e uma atenção e paciência maior do público é exigida. Se isso é bom, ou ruim, vai depender de cada espectador. Particularmente, eu preferia, uma construção mais clara e econômica em muitos momentos.
Ao menos, uma vez que toda a construção fora feita, e as peças situadas no ponto exato do tabuleiro, a recompensa é gratificante. Os cinco episódios finais colocam finalmente em prática os muito estudados planos do Império e da Rebelião. Oferecendo desfechos e colocando a história a caminho dos capítulos seguintes, que sabemos que estão por vir, Rogue One e Uma Nova Esperança.
A partir daí, a série faz quase sempre boas escolhas em como resolver personagens e situações. Um excelente exemplo é a revelação tardia da história de Kleya (Elizabeth Dulau), umas das personagens "secundárias", mais ricas da franquia. Amostra oposta disso, é o anticlimático desfecho de Syril, que de tão desimportante, nem para sua irritante mãe tem relevância. Ou ao menos a série não mostra.
Mas o saldo é positivo, mostrando escolhas e sacrifícios de personagens dos dois lados da guerra, que serão igualmente esquecidos, apesar da importância de seus atos. Conceito muito bem vindo que a franquia vem trabalhando desde Rogue One. A galáxia é enorme, a batalha é longa, e pode até ser protagonizada por Luke, Hans, Leya e Kylo e Rey, mas é vencida por muito mais gente.Gente que permanecerá para sempre anônima. E que vale reforçar, existe na guerra da ficção, pois foi inspiradas em nomes de guerras reais, do nosso mundo. Assim como a busca por liberdade, a coragem e dubiedade das pessoas que fazem o que é necessário, não importa se moral ou não. E os planos e maquinações de ambos os lados da disputa.
Andor é ficção sim, mas suas ideias vem do mundo real. O grande mérito da série é finalmente destrinchar as discussões ideológicas, morais e políticas que Star Wars sempre teve. Mas que ficavam perdidas como meras citações para justificar os embates de sabres de luz e batalhas de navezinhas.
Olhando um pouco mais para o lado técnico da produção. O esmero na criação de cenários e figurinos, essenciais para distinguir e dar personalidade aos muitos cantos de uma vasta galáxia, não decepcionam. São grandiosos quando precisam, mas também simples, cotidianos, e até precários, já que o universo é enorme, e as pessoas vivem em todo tipo de realidade. De fato, observar aspectos como a construção da cultura de cada lugar através, das roupas, objetos, tecnologias e afins, pode ser - no meu caso foi - um belo passatempo, para aqueles episódios mais arrastados do início.
Completando a lista de pontos positivos, um elenco de qualidade, com tempo de explorar as características de seus personagens. Diego Luna é o principal nome, mas não monopoliza a tela, deixando espaço para Stellan Skarsgård, Denise Gough e Genevieve O'Reilly, carregarem seus próprios núcleos. Enquanto o restante do elenco acompanha a qualidade e povoa esse universo com eficiência.
A falta de foco em Andor pode incomodar. De vez em quando o personagem título até desaparece dos episódios. Mesmo, assim, sua transformação em líder rebelde chega ao fim. O mesmo vale para a transformação de Mon Mothma na voz da rebelião. A série entrega arcos de personagens bem construídos, inclusive entre aqueles que serão esquecidos. Sim, amamos o desfecho de Dedra Meero. Assim como o peso da despedida de Luthen Rael.
Andor é sim um dos produtos mais complexos, maduros e ricos de Star Wars. E essa sua qualidade também pode ser sua grande falha, já que torna a narrativa inacessível para muitos. Em outras palavras, não é uma obra para o grande público. Seus números e o engajamento já refletem esse fato.
É excelente, mas não vai conversar com todos. E tudo bem! Devia ser assim, afinal Star Wars é um universo, não um bairro. Tem que haver espaço para todo tipo de obra. Mas a franquia também é um produto mercadológico, e se não der lucro, não se mantém. Então, aproveite, mergulhe em Andor, pois não sabemos, quando outra obra do tipo surgirá na galáxia.
Andor tem duas temporadas, com doze episódios de cerca de uma hora cada, todos já disponíveis no Disney+.
Leia a crítica da primeira temporada, e descubra outros conteúdos de Star Wars.
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