Se a Rua Beale Falasse

Garoto conhecem garota, eles crescem cultivando uma bela amizade. Quado chegam em idade adulta, se percebem apaixonados e começam a planejar a vida juntos. Procurar uma casa, construir uma família... Esta poderia ser uma jornada relativamente simples e até comum, não fossem os jovens em questão parte de uma minoria marginalizada pela sociedade.

Tish Rivers (KiKi Layne) e Fonny Hunt (Stephan James), estão começando sua vida juntos quando o rapaz é acusado de um crime que não cometeu. Grávida, a moça luta para provar a inocência do rapaz à tempo do nascimento do bebê.

Baseado no livro homônimo de James Baldwin, o primeiro filme de Barry Jenkins depois de Moonlight: Sob a Luz do Luar, Se a Rua Beale Falasse tem tanto a dizer quanto seu predecessor. Mas ao contrário do que se pode imaginar, a produção desvia do caminho da investigação criminal e da busca por provas, para mostrar as consequências dessa injustiça, um belo romance e uma vida promissora interrompidos ainda em seu início.

Intercalando dois momentos no tempo, o roteiro coloca em paralelo dois pontos opostos na vida da narradora, Tish. O nascimento do romance idealizado, e a cruel realidade de um jovem negro nos estados unidos. A doçura do primeiro, potencializa ainda mais a sensação de injustiça e impotência do segundo. Não que o caso de Fonny, não seja revoltante por conta própria. Mas o vislumbre das possibilidades roubadas pelo preconceito e ódio, torna a sensação de perda ainda pior.

Perda aliás, que não se restringe apenas ao casal, mas a todos à sua volta. Pais, irmãos e amigos, o filme mostra diferentes reações de cada um deles. E sim há preconceito também dentro de seu próprio núcleo. É aqui que o filme tem seus pontos mais fracos, ao não mostrar um pouco mais ou mesmo oferecer o desfecho satisfatório, para algumas destas relações. Fora do círculo pessoal, acompanhamos as dificuldades geradas pelo preconceito, antes e depois acusação injusta. E os belos e raros vislumbres de esperança que causam espanto nos protagonistas. Como o momento que Fonny desconfia do proprietário de um apartamento que pretendem alugar, apenas por que ele os trata bem.

Embora este não seja o foco, há sim espaço para mostrar os eventos que levaram Fonny à prisão, mostrados de forma simples e clara. Em nenhum momento há dúvida quanto à inocência do rapaz. O questionamento é como lutar contra o sistema descaradamente criado para impossibilitar sua defesa.

A fotografia que evidencia os amarelos e verdes, criam uma atmosfera ao mesmo tempo quente e melancólica. Um paralelo acertado com o tom da trama, há sim muito amor envolvido, mas também muita desesperança. O design de produção e figurinos conseguem equilibrar o realismo pertinente à realidade cruel que esta família enfrenta, com os momentos mais lúdicos do romance "de cinema" dos protagonistas. Enquanto a câmera, volta e meia encara os personagens de frete e vice-versa. Estes longos closes silenciosos nos aproximam de Tish e Fonny tanto nos instantes apaixonados, quanto nos temerosos.

O elenco aplicado também consegue transmitir com equilíbrio a gravidade da situação, com a necessidade de seguir em frente. Layne e James, desenvolvem com delicadeza a transição de seus jovens ingênuos e esperançosos, para os adultos que descobriram que a vida não segue nossos planos. Mas é Regina King que se destaca, como a determinada mãe da jovem. Também estão em cena, Colman Domingo, Michael Beach, Aunjanue Ellis, Finn Wittrock, Diego Luna, Pedro Pascal e Dave Franco.

Doce e forte, Se a Rua Beale Falasse aposta em reforçar o que foi perdido. Para reforçar a crueldade do preconceito, ódio e injustiça. Uma forma poética de abordar um assunto importante, que conta ainda com auxílio de fotografias do mundo real, para lembrar que esta história se repete constantemente. Impossível não sofrer pela vida promissora interrompida dos vários Tishs e Fonnys, em diferentes Ruas Beales mundo à fora.

Se a Rua Beale Falasse (If Beale Street Could Talk)
2018 - EUA - 119min
Drama


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