Pantera Negra

Não se deixe enganar, Pantera Negra não veio apresentar o herói do título. Este nós já conhecemos em Capitão América: Guerra Civil. O longa vem formar um Rei, apresentar uma nova sociedade e cultura, em um filme cheio de personalidade, que quebra padrões sem no entanto, destoar da fórmula Marvel.

Acompanhamos os primeiros dias de reinado de T'Challa (Chadwick Boseman), cujo pai morreu em Guerra Civil. Além de ser coroado seguindo as tradições, o jovem rei precisa lidar com as várias tribos que compõem seu povo, com o contrabando de vibranium orquestrado por Ulysses Klaue (Andy Serkis) e com o legado dos reis anteriores. Ser o protetor de sua nação, o Pantera Negra, é apenas mais uma de suas muitas atribuições.

Não demora muito para sermos iniciados no universo e costumes do país mais tecnologicamente desenvolvido do planeta, que esconde suas "riquezas" de todos sob o disfarce de um país agrícola de 3º mundo (não paramos de usar essa nomenclatura?). E isso é extremamente importante para o desenrolar da trama, pois Wakanda é um personagem. Sua história, costumes e a forma como se relacionam com outras nações, motivam os outros personagens e movem a aventura.

Esta potência tecnológica sempre teve como objetivo principal proteger os seus, deixando de fora de suas fronteiras as mazelas do mundo. Muitas delas passíveis de solução se eles apenas compartilhassem seu conhecimento. É a velha história de "grandes poderes, grandes responsabilidades", em uma escala muito maior, afinal não é apenas a integridade do heróis que está em risco, mas a proteção de toda uma nação.

Questões sociais não poderiam ficar de fora, afinal o Pantera Negra é o primeiro ícone negro dos quadrinhos, criado em um país com histórico de escravidão e segregação racial. Estas questões estão sim presentes no filme, assim como as diferentes posturas para lidar com elas. É claro o paralelo entre as posturas de T'Challa e do vilão Killmonger (Michael B. Jordan), com Martin Luther King e Malcolm X respectivamente. Mas também há espaço para outras discussões, como tradições que precisam ser quebradas (ou não), situações com refugiados e o protecionismo.

E por falar no vilões, os deste filme estão muito acima da média dos antagonistas rasos tradicionalmente encontrados do MCU. Killmonger é resultado de um passado difícil, e tem objetivos e motivações bem definidas. Vítima de abandono na infância, ele é o completo oposto do herói, assim como a grande maioria das sociedades negras em nada se parecem com Wakanda. Já Klaue retorna de A Era de Ultron, com sua persona exagerada, debochada e desbocada. Dono de uma maldade sem escrúpulos, propositalmente beira a caricatura de forma positiva (sim, isso é possível).

É claro que o rei não está sozinho nesta empreitada, ele recebe o apoio de Okoye (Danai Gurira) chefe das Dora Milaje (a guarda real), de sua irmã Shuri (Laetitia Wright), responsável pelo departamento cientifico do país, e de sua "ex", a espiã Nakia (Lupita Nyong'o). Percebeu? T'Challa está cercado de mulheres fortes, com papel decisivo tanto na trama do filme, quanto no cenário político de Wakanda. O trio é bem acertado em suas construções de personagens, mas enquanto todos estavam ansiosos para ver Lupita e Grurira em cena, é Laetitia Wright quem surpreende. Shuri tem uma bela relação com o irmão, é um gênio, vai para a luta e ainda tem tempo se encarregar de parte do humor do longa. (E tecnicamente é uma Princesa Disney, né? rs).

O Agente Ross (Martin Freeman, em sua competência habitual), também aparece para ajudar. E principalmente, para ficar deslumbrado com Wakanda, assim como nós, do lado de cá da tela. O design de produção, entrega um mundo cheio de personalidade ao criar um visual que une inspirações africanas com alta tecnologia. Das roupas ao cenário, e gadgets  tudo é muito característico, reconhecível e belo.

O escorregão da produção fica por conta de algumas sequencias com muito uso de computação gráfica, que diante dos efeitos práticos, que o filem também traz, acabam sendo menos eficientes. Nada que comprometa a produção. De fato, à esta altura o envolvimento é tão grande, que a maioria dos espectadores não deve perceber.

O filme tem tantas qualidades a serem apontadas, que talvez o próprio herói soe um pouco apagado neste texto. Mas não se engane, T'Challa  não deixa nada a dever à outros super heróis, seja em caráter, dilemas ou força. E como bônus traz características e discussões próprias.

Com um roteiro bem construído, visual próprio, ação nos momentos certos e promovendo igualdade (racial e de gênero) Pantera Negra, consegue sim se destacar seguindo a formula de blockbusters da Marvel. É envolvente, carismático e divertido, e estamos apenas em fevereiro! Tomara que os super-heróis que vem por aí este ano estejam tão bem preparados quanto o regente de Wakanda.

Pantera Negra (Black Panther)
EUA - 2018 - 135min
Ação, Aventura, Ficção científica

P.S.: Como de costume, procure por Stan Lee e fique até o final dos créditos! 

Leia mais sobre o Universo Cinematográfico da Marvel.

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