Agatha Desde Sempre

O início do mundo das séries da Marvel foi promissor, WandaVision inovou com linguagem própria roteiro bem planejado e coragem de tentar coisas novas em 2021. Mas desde então o universo televisivo dos heróis esfriou, e não conquistou os público desejado. Embora a maior parte da culpa não seja da qualidade dos programas em si, mas dos preços do Disney+ , do excesso de produções e da conexão mal planejada com o cinema, é verdade que as séries se acomodaram em fórmulas previsíveis. Agora, em 2024, Agatha Desde Sempre traz de volta um dos pontos altos da série da feiticeira escarlate para, quem sabe, anunciar que finalmente arrumaram a casa. 

Presa em uma ilusão e sem poderes desde o embate com Wanda, Agatha Harkness (Kathryn Hahn) é finalmente libertada do feitiço por um Jovem (Joe Locke). Obcecado por bruxas, ele deseja desesperadamente trilhar o mítico Caminho das Bruxas, que promete poderes inalcançáveis para aqueles que o trilharem até o fim. Para tal, a dupla precisa formar um coven, e recruta um carismático grupo de bruxas da região. 

Ao longo dos nove episódios acompanhamos o grupo superar os desafios além de resolver questões e intrigas pessoais. Não apenas da protagonista e do jovem, mas de todas as envolvidas. É na construção de personagens carismáticas capazes de conquistar nosso interesse, mesmo diante da já estabelecida e adorada personagem principal, que a série acertadamente aposta. 

Jen (Sasheer Zamata), Alice (Ali Ahn), Lilia (Patti LuPone) e até a injustiçada Sra. Hart (Debra Jo Rupp) conquistam nossa fildelidade com facilidade e nos recompensam com bons arcos individuais, que abrangem diferentes aspectos da mitologia em torno de bruxas. Maldições, adivinhação, feitiços, poções, tem de tudo um pouco nesse coven. 

O destaque no entanto fica com Lilia Calderu. Uma charlatona à primeira vista, a vidente vivida por LuPone, estrela o melhor episódio da temporada. Death's Hand in Mine, o sétimo capítulo, apresenta um complexo e belamente construído quebra-cabeças que nem sabíamos estar acompanhando desde os primeiros episódios. Mas que geram um sentimento de satisfação quando finalmente o completamos.

Já o ponto fraco do coven fica por conta da personagem de Aubrey Plaza. Seja pela escolha preguiçosa da atriz, que apesar de excelente começa a desgastar sua imagem ao repetir sempre o mesmo tipo de papel. Seja pela previsibilidade da personagem em si, e consequentemente de suas atitudes. Ao ponto de o público, adivinhar a verdadeira natureza de Rio Vidal, logo em suas primeiras aparições. Ainda sim, mesmo que menos interessante, sua presença é coerente e tem função na narrativa.

De volta aos pontos fortes, a identidade do jovem também fora adivinhada pelo público antes do tempo. Principalmente por causa da divulgação de seu verdadeiro nome em um item colecionável. Ainda sim, o interesse se manteve, já que a série ainda precisava explicar como ele chegara até ali. Joe Locke fez um trabalho eficiente ao construir a confusão e vulnerabilidade do adolescente, e ao mesmo tempo permiti-lo criar uma relação com cada uma das bruxas, inclusive a Agatha.

E por falar na personagem título, é dela a série acima de tudo. Se Kathryn Hahn já roubara a cena em WandaVision ao ponto de conquistar uma série própria. Aqui ela tem espaço para se divertir. Seja na atuação propositalmente caricata, de quando está presa em uma série policial fajuta, onde aparentemente investiga o caso da morte da feiticeira escarlate (conexão inteligente e divertida, preciso mencionar), seja no resgate da personagem que conhecemos em 2021.  

Agatha é ambígua, sarcástica, engraçada, malvada, e cheia de segundas intenções, e mesmo assim não enjoamos dela. De fato, assim como o Jovem adoraríamos fazer parte de seu covem, mesmo sabendo de sua reputação de sobreviver à eles (leia-se causar suas mortes!). E o arco da personagem não deixa à desejar, explorando suas origens, relacionamentos, receios, arrependimentos, e motivações. Assentando firmemente a personagem no MCU, e afirmando não é só de super-heróis que vive esse universo, há bruxas e magia também. E essa novidade é muito bem vinda. 

Não posso deixar de falar na bruxaria em si. Ciente da vasta mitologia em torno das feiticeiras, e das origens em WandaVision que brincava com o mundo séries de TV,  Agatha Desde Sempre, também usa referências e cultura pop para construir seu mundo. E pasmem, ainda consegue justificar todas, para além das mera referência. Das fantasias de bruxas famosas usadas no episódio sete, passando por lendas, e resinificando histórias como das bruxas de Salém, a série brinca com o universo da magia, suas muitas vertentes. Além de deixar claro, que sabe que não está explorando um tema original, mas que isso não significa que não possa ser criativo, inteligente e divertido. 

Agatha Desde Sempre é uma excelente história de bruxaria, com personagens carismáticos e desafios criativos, que por acaso faz parte do MCU. O que talvez não seja o que os "nerdolas" esperavam, felizmente. Relembra da melhor forma o início dessa fase das produções da Marvel, quando a promessa era inovar, se libertar de amarras e fórmulas. Mas que por falta de planejamento nunca foi realizada. Agatha traz esse planejamento, e se tivermos sorte, talvez seja indício de que a Marvel finalmente se organizou, e que os próximos anos serão promissores. Se não, que apenas tragam Kathryn Hahn de volta, pois é delicioso assiti-lá!

Agatha Desde Sempre tem nove episódios todos já estão disponíveis no Disney+!

Leia também a crítica de WandaVision e outras obras do MCU!

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