Levou só 36 anos, mas finalmente Tim Burton e Michael Keaton conseguiram trazer Beetlejuice de volta à vida, ou pós vida, no caso. A questão agora é descobrir se o estilo de humor caótico e tenebroso das aventuras com o personagem, ainda funciona com um novo público e antigos fãs, ou se morreu na década de 1980.
Mais de trinta anos se passaram desde que os Deetz passaram a viver em harmonia com os mortos de sua casa. Lydia (Winona Ryder) é uma famosa apresentadora de TV de um programa sobre o sobrenatural. Tem uma relação melhor com a madrasta Delia (Catherine O'Hara), mas um relacionamento conturbado com a filha adolescente Astrid (Jenna Ortega). É a morte do patriarca da família George, que reúne as três na antiga casa em Winter River. O que Beetlejuice (Michael Keaton) vê como uma oportunidade de escapar de seus problemas do pós vida.
É assim, se aproveitando da ausência de um ator (Jeffrey Jones caiu no ostracismo após varias acusações criminais), que Os Fantasmas Ainda se Divertem - Beetlejuice Beetlejuice recoloca todas as peças no tabuleiro. Criando conflitos individuais menores, que prometem culminar em um único grande problema, o retorno do bio-exterminador ao mundo dos vivos. Escolha que funciona pra dar agência, a todos os personagens, e apresentar bem as novas adições, mas que também divide as atenções e diminui o poder das novas ameaças.
É aí que reside o maior problema da sequencia, a definição de um vilão digno de um clímax. Afinal, o vilão de fato, deveria ser o próprio Besouro Suco, mas ele também é o motivo da sequencia existir, e o personagem mais adorado pelo público, que inevitavelmente torce por ele. Logo, o roteiro não resiste a dar ao personagem a capacidade de ser a resolução dos problemas dos humanos, mesmo que de um jeito muito errado. Criando não apenas um, mas três "vilões" alternativos, como meros recursos de roteiro, e sem explorar bem seu potencial. E descartando-os facilmente assim que sua função na trama acaba. Inevitavelmente nos fazendo duvidar se eram ameaças o suficiente para causar tanto rebuliço.
Desperdício que nos faz lamentar principalmente pela personagem de Monica Bellucci. Delores tem uma das melhores cenas de apresentação do ano, habilidades ameaçadoras e até uma bagagem interessante relacionada ao personagem título. Mas tudo que faz em cena é andar e ameaçar figurantes, antes de um embate final solucionado às pressas e quase sem dificuldade pelos personagens principais.
Outro que também perambula à esmo para meramente marcar uma presença irrelevante no clímax é o personagem de Willem Dafoe. O personagem mais uma piada inteligente sobre certo astro de hollywood que dispensa dublês, do que uma peça no tabuleiro de fato. Felizmente Dafoe entrega um trabalho bom o suficiente, para só relevarmos a presença inútil na narrativa.
E por falar em bom trabalho do elenco, este é outro ponto alto da produção. Enquanto Catherine O'Hara e Justin Theroux apostam acertadamente no exagero que beira a insanidade. Winona Ryder traz uma Lydia mais madura, traumatizada pela vida, e cansada do fardo de suas habilidades. Michael Keaton parece nunca ter deixado o papel, aproveitando ao máximo das possibilidades caóticas que Besouro Suco oferece. É apenas Jenna Ortega que decepciona um pouco, não por entregar uma atuação ruim, mas pela repetição. Astrid parece uma versão menos sombria e esperta de Wandinha e apenas isso.
Boas maquiagens, efeitos práticos e o design de produção caprichados, recriam a atmosfera caótica e sem sentido imaginada em 1988. O mundo dos falecidos continua mais criativo e interessante que o mundo dos vivos, com a representação de mortes absurdas, piadas e referências ao mundo dos vivos. E dessa vez, para nosso deleite, passamos muito mais tempo nele.
A computação gráfica também está presente criando de forma eficiente efeitos difíceis de fazer fisicamente. Apenas lamento, que ela tenha substituído o trabalhoso, stop-motion, mesmo que emulando seu estilo. Mas acho que a maioria sequer vai notar a mudança.
Outro elemento que também ajuda no resgate dessa atmosfera é a trilha sonora. Seja no resgate da trilha marcante de Danny Elfman, seja na escolha das músicas. Algumas delas, releituras das canções do primeiro filme. Faltou apenas, uma sequencia musical tão icônica quanto a sequencia do jantar no original.
Os Fantasmas Ainda se Divertem - Beetlejuice Beetlejuice além de ter um título nacional absurdamente grande resgata muito bem a diversão e o caos do filme original. Não é tão coeso e eficiente quanto poderia, mas conquista o público pela nostalgia, e diverte quem chegou agora nesse universo. Além de deixar portas abertas para possíveis continuações. Resta saber se a nostalgia e o universo vão reconquistar público suficiente para que o nome Besouro Suco, seja repetido mais três vezes, para uma terceira aventura.
Os Fantasmas Ainda se Divertem - Beetlejuice Beetlejuice (Beetlejuice Beetlejuice)
2024 - EUA - 104min
Comédia, Terror, Fantasia
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