Um filme sobre exercer o direito de ser feio! Pena que também exerce o direito de ser genérico e mal executado. Não posso opinar sobre o livro de Scott Westerfeld, mas posso afirmar, tem uma proposta interessante. Ainda que sua adaptação para as telas tenha perdido a onda de distopias juvenis e chegado dez anos atrasada, a premissa era promissora.
Em um futuro distante, a sociedade encontrou uma forma de supostamente terminar com os embates da natureza humana. Submetendo todos os cidadãos à cirurgias plásticas que o transformam em seres esteticamente perfeitos aos dezesseis anos. Em teoria se todos são perfeitos, não há motivos para inveja, rejeição, discordâncias...
É claro que nada é tão simples, e para toda imposição da sociedade há resistência, na maioria vezes justamente motivada. Tally (Joey King) esbarra sem querer nessa resistência chamada Fumaça, e acaba descobrindo que a realidade não é o que lhes foi ensinado por toda a vida.
Assim, o terreno está pronto para discutir, individualidade, exigências estéticas absurdas, autoimagem, preconceito, livre arbítrio, submissão e autoritarismo. E o filme até aponta essas discussões, está mais preocupado com a estética, as sequencias de ação e efeitos especiais. Tornando-se tão rasa quanto a sociedade fútil que tenta discutir.
O roteiro até se esforça para construir um mundo coeso, chegando a trazer momentos repetitivos. Mas, em prol do "mistério" acaba omitindo detalhes interessantes. E peca principalmente nas relações de personagens. Especialmente quando coloca a protagonista no núcleo da resistência. Onde todos imediatamente confiam nela, a partir de um ou outro "ato de bravura" cometido por acidente.
A direção de McG também não ajuda. O diretor ainda filma como nos filmes do início dos anos 2000. Especialmente nas sequencias de ação, corridas, mal coreografadas, e com efeitos especiais que já nasceram datados.
Resta ao carisma de Joey King segurar o pouco de interesse que o público possa vir a ter na produção. Além de protagonista, a atriz também é produtora do filme. Outro destaque do elenco é Laverne Cox, que mesmo com sua imponência não consegue criar uma antagonista com personalidade, a partir do que o texto lhes oferece.
Chegando uma década depois da era das distopia juvenis, e duas depois do lançamento do primeiro livro. Feios até poderia revitalizar o subgênero, e trazer questões bastante relevantes para nossa sociedade de imagem distorcida pelas redes sociais. Mas não consegue atualizar sua linguagem, trazendo roteiro e execução frágeis demais, para conquistar o público.
Resta saber se vai receber atenção suficiente para ganhar sequencias que tragam seu desfecho, e talvez sejam melhor produzidas. Ou se vai entrar para o vasto grupo de histórias inacabadas, como Divergente, Mentes Sombrias e várias outras. Deixando de terminar a discussão da relatividade da beleza, e a importância da individualidade.
Feios (Uglies)
2024 - EUA - 100min
Ficção-científica, Aventura, Ação
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