Recentemente, shows de Taylor Swift em Viena foram cancelados diante da suspeita de ataques terroristas no evento. Mas e se ao invés disso, as autoridades austríacas decidissem usar as apresentações para prender os criminosos? Por incrível que pareça, é essa a premissa de Armadilha novo filme de M. Night Shyamalan. Ok, o perigo assumido no filme é menor. Trata-se apenas da presença de um assassino, e não de um ato programado por ele. Mas, ainda assim, a premissa é ao mesmo tempo absurda e intrigante.
Cooper (Josh Hartnett) está levando sua filha pré-adolescente Riley (Ariel Donoghue) ao show da estrela pop Lady Raven (Saleka Shyamalan), quando o excesso de segurança no local começa a chamar sua atenção. Não demora muito para o pai cheio de lábia descobrir que trata-se de uma armadilha para o assassino em série Butcher, que estaria presente no show. Ele é Butcher!
A partir daí acompanhamos toda a operação através dos olhos do vilão, em suas tentativas de sair da casa de shows sem ser apanhado. Uma série de situações e escolhas que supostamente evocam a genialidade do vilão protagonista, em embate com o preparo das forças de segurança. E sim, em alguns momentos Cooper tem boas ideias e jogo de cintura para lidar com os percalços. Mas na maioria das vezes, conta com conveniências de roteiro.
Será mesmo que o assassino tem boa lábia, ou o roteiro apenas decidiu que algum personagem vai oferecer as informações para ele em uma bandeja? Ele tem boas ideias mesmo ou apenas "sorte" de estar no lugar certo na hora certa? Felizmente Josh Hartnett consegue criar uma figura impressionante e ameaçadora o suficiente para relevarmos essas facilitações pela maior parte do tempo. Especialmente durante as sequencias que se passam no estádio. Ao mesmo tempo que o fato de nunca o vermos cometendo as atrocidades das quais é acusado, ajudar na construção da fidelidade com o protagonista de caráter reprovável.
É apenas no ato final que a narrativa perde força, ao alternar o ponto de vista do vilão protagonista, para a estrela pop. A inexperiente filha do diretor Saleka Shyamalan, é também inexpressiva. Quando no palco, essa deficiência na atuação é disfarçada pela pirotecnia do show. Mas, quando o roteiro exige que ela seja mais que mero plano de fundo, a narrativa enfraquece e o filme perde o ritmo. Felizmente à esta altura já estamos envolvidos com Hartnett o suficiente para nos mantermos interessados.
Enquanto dá espaço para a filha, Shyamalan acaba desperdiçando as boas adições de seu elenco. Como Alison Pill e Ariel Donoghue, respectivamente esposa e filha do assassino, que quando tem espaço entregam com qualidade o que é pedido.
Enquadramentos de câmera estranhos como alguns closes forçados nos personagens podem incomodar. Embora não seja possível ter certeza se se trata de um equívoco do diretor, ou de um incômodo programado. Já outros melhor executados, se aproveitam da alta estatura de Hartnett, para coloca-lo acima da multidão que o cerca. Deixando em evidência aquele que mais deseja se misturar, ao mesmo tempo que o coloca um nível acima, ou um passo a frente de todos os outros.
O desfecho por sua vez não traz grandes reviravoltas, como muitos parecem exigir do diretor. Mas escolhe um final surpreendentemente condizente com a fidelidade que construímos com o protagonista. Sim, ele é o vilão, mas também é nosso representante em tela, e é inevitável torcer ao menos um pouquinho para que ele consiga escapar. Mesmo sabendo que deveríamos estar torcendo contra.
Ao final das contas, Armadilha é um entretenimento que consegue conquistar nosso engajamento, ainda que exija algumas concessões. Sendo a maior delas, o fato de que as forças de segurança escolheram colocar a vida de trinta mil fãs em risco para pegar um assassino, que talvez esteja lá e que eles nem sabem como se parece. Absurdo que só é relevado pois desde o início sabemos que de fato ele está lá! E principalmente porque acompanhamos o ponto de vista dele.Não é uma das melhores obras do diretor, mas está longe de ser ruim. É um argumento curioso, desenvolvido de forma interessante, e que diverte na maior parte do tempo. Muitas das vezes isso é mais do que suficiente!
Armadilha (Trap)
2024 - EUA - 95min
Suspense
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