Antes de qualquer coisa, Descendentes é uma divertida brincadeira com o catálogo da Disney. Reimaginando seu universo, e promovendo interações e encontros que sempre quisemos ver entre personagens e histórias. Além de apostar no apego de diferentes gerações por seus clássicos. Considerando que apenas a Disney Animation tem 62 longas metragens, e que a franquia fora um sucesso, não é surpresa que, mesmo com o final da trilogia origina, não ia demorar muito para a casa do camundongo voltar a explorar aventuras em Auradon. Assim surge o primeiro longa metragem derivado Descendentes: A Ascensão de Copas.
Os protagonistas do primeiro filme, partem em uma jornada pelo mundo para unir mais reinos. Deixando Uma (China Anne McClain) à cargo da escola de Auradon, mesmo que sua diretora original, a Fada Madrinha ainda esteja por perto. Mas tudo bem, pois o novo cargo da filha de Ursula é apenas o pretexto para iniciar a trama. Já que a pirata quer quebrar ultima barreira e trazer Red (Kylie Cantrall), filha da tirana Rainha de Copas (Rita Ora) para a escola.
Mas a soberana do País das Maravilhas tem uma rixa de longo prazo com Cinderella (Brandy Norwood) e todo o povo de Auradon, e obviamente tem segundas intenções. O que leva as filhas das duas Red e Chloe (Malia Baker), em uma viagem no tempo para evitar que tal desavença aconteça, e mudar o coração da "rainha dos corações".
Apenas agora que tentei escrever uma breve sinopse percebi, o quão embolada e cheia de bagagem é a premissa de A Ascensão de Copas. Mesmo tendo a ciência de que conhecer os contos de fada em versão Disney era uma obrigatoriedade para aproveitar a franquia. É preciso conhecer as animações da casa, a premissa de inclusão dos filmes anteriores e teoricamente a lógica de viagem no tempo e suas consequências.
Sim teoricamente, pois não há grandes perigos, ou dificuldades em viajar no tempo nesse universo. De fato, Red e Chloe sequer se preocupam na possibilidade de não nascerem, ou arruinarem os conhecidos contos dos quais suas mães fazem parte. Um desperdício de possibilidades de criar urgência e perigo.
Já o grande mistério da rixa entre as matriarcas também é mal resolvido. Atribuído à uma terceira personagem vilanesca, cujas atitudes não justificam o fim da amizade entre as mães. Ficou confuso? Vou explicar. A jovem Bridget (Ruby Rose Turner), futura Rainha de Copas, era fofa e adorável, e tinha apenas "CinderElla" (Morgan Dudley) como amiga até um evento durante o baile da escola, a traumatizou tanto que a tornou má.
Mas se a culpa do bullying fora de Ulianna (Dara Reneé), porquê a rixa entre Ella e Bridget? Algo mais deve ter ocorrido neste baile. O problema, é que o filme acaba antes dele! O supra-mencionado baile nunca é visto, desperdiçando um clímax que traria pela primeira vez um vislumbre dos contos primários na franquia. E deixando a resolução da problemática, rasa e incompleta. A dupla de protagonista deduz que resolveu o problema e vai embora, simples assim.
Há também personagens desperdiçados como Merlin e a versão jovem da Fada Madrinha. Enquanto os temidos vilões pais dos protagonistas da trilogia anterior, aqui são meros capangas. A ausência da direção de Kenny Ortega, e dos roteiristas Sara Parriott e Josann McGibbon é evidente. Seja pela fragilidade da trama, pelas músicas que não agregam à narrativa, os números musicais genéricos, e a ausência da aura mágica que nos convenciam a fazer as maiores concessões.
Até mesmo figurinos e cabelos tentam emular a aura dos filmes anteriores mas falham. Não que estejamos falando de um trabalho excepcional, na trilogia original a caracterização se resumia a roupas de couro, perucas coloridas feias, e paletas de cores que fizessem alusão aos pais dos personagens. Tudo isso é retomado aqui, mas com falta de consistência e continuidade. Tudo muito bem exemplificado pelos cabelos azuis de Chloe, diferentes em cor e definição a cada cena. Onde estava o continuista?
Nem tudo está perdido em Descendentes 4! Kylie Cantrall e Malia Baker conseguem carregar razoavelmente bem o roteiro ruim. Mas o ponto alto é a escalação de Brandy Norwood e Paolo Montalban, como Cinderella e Encantado. Protagonistas da versão em live-action de 1997 do conto da moça que perde o sapatinho no baile. Uma negra e um asiático, tudo a ver com a franquia que, vale mencionar, ignora a genética. Famílias biológicas tem etnias misturadas, e não há explicação para tal. E tá tudo bem. Auradon é assim, diversa e inclusiva.
Descendentes: A Ascensão de Copas até tem uma proposta promissora, mas não consegue manter a qualidade dos primeiros filmes. Expande um pouco o universo. Descobrimos que os contos de fadas já se esbarravam antes de a Bela e a Fera promoverem a união, mas é apenas isso. Faltou empenho para uma execução mais caprichada, e criatividade para entregar uma história mais empolgante. Mas não se preocupe, bom ou não, a Disney ainda não vai abandonar seus descendentes de vilões e princesas.
Descendentes: A Ascensão de Copas (Descendants: The Rise of Red)
2024 - EUA - 91min
Aventura, Musical, Fantasia
Descendentes: A Ascensão de Copas está disponível no Disney+! Leia a crítica de Descendentes!
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