Reprise: Cold Case

Uma das maravilhas nascidas com os serviços de streaming é a possibilidade de resgatar obras antigas. Especialmente aquelas que não foram exibidas exemplarmente na TV aberta (o SBT trazia muita série, mas passava tudo bagunçado). Assim finalmente podemos colocar tudo em dia e em ordem, e riscar da lista. 

É o caso da excelente Cold Case, que no Brasil ganhou o nome de Arquivo Morto. A série ficou por um tempo apenas com legendas de Portugal no Prime Video, mas recentemente, a plataforma da Amazon disponibilizou a dublagem nacional, e as legendas brasileiras. Ao mesmo tempo que a HBO Max também colocou a obra em seu catálogo. Logo, é o momento perfeito para a revisita dos fãs e a descoberta por um público novo.

Caso você nunca tenha ouvido falar, Arquivo Morto é uma série procedural (aquelas com um caso por semana), que teve sete temporadas exibidas entre 2003 e 2010. Nela uma equipe de detetives da Filadélfia investiga casos arquivados de homicídio. Na maior parte das vezes se baseando em antigas pistas e principalmente depoimentos. 

O diferencial está no tom que é dado a cada episódio à partir da data em que os assassinatos ocorreram. Isso porquê tanto a música, quanto a estética dos flashbacks construídos a partir dos depoimentos das testemunhas fazem alusão à época em que o crime aconteceu. O caso mais antigo que eles resolveram era de 1919!

O resultado é muita personalidade própria para cada episódio, e uma trilha sonora rica e emocionante. Especialmente no desfecho dos capítulos, quando uma montagem ao som da canção mais marcante da lista mostra o destino dos culpados, e a memória das vítimas finalmente encontrando paz. 

Tudo isso com uma equipe com uma química bem humorada, comandada pela detetive Lily Rush (Kathryn Morris). "A primeira mulher na homicídios", com seu cabelo propositalemten assimétrico e seu sobretudo de interior rosa choque (não sei porque isso chamava muita atenção lá nos anos 2000). Seu principal parceiro é Scotty Valens (Danny Pino, que continuou a ser detetive por mais uma década em Law & Order: SVU), e os criadores resistiram a tentação de transformar a dupla em um casal. Eles são melhores amigos apenas, e isso é ótimo!


John Finn, Thom Barry, Jeremy Ratchford e Tracie Thoms completam a equipe de detetives, cada um com personalidades e arcos próprios. Ainda sobre o elenco, parte divertida é descobrir rostos conhecidos, que eram apenas iniciantes na época. Aparições que vão desde participações recorrentes como as de Daniel Baldwin e Bobby Cannavale, até grandes nomes como vítimas, testemunhas e assassinos em um único episódio. É o caso de  Tessa Thompson, Darren Criss,  Michael B. Jordan, Chadwick Boseman e Shailene Woodley, só para citar alguns. 

O elenco de apoio é gigantesco já que muitos casos requeriam atores de diferentes idades para cada personagem, representando a versão atual e da época do crime. E nesses casos, a escolha de elenco e a caracterização, para nos fazer acreditar que se tratava da mesma pessoa em épocas diferentes da vida, era outro ponto alto da produção.

Mas nem tudo são flores, em Cold Case. Um aspecto em que a série não conseguiu acertar a mão era no desenvolvimento das vidas particulares dos detetives, especialmente em seus interesses amorosos. Os arcos se iniciam de forma brusca, geralmente são menos interessantes que a investigação, e muitas vezes são abandonados de forma tão repentina quanto foram iniciados. São poucos os que de fato foram bem construídos, como os problemas do detetive Vera (Jeremy Ratchford) na última temporada. Uma instabilidade de roteiro que fica mais evidente agora que podemos assistir a série em maratona, ao invés de semanalmente como foi lançada originalmente. 

Mas esse deslize é pouco diante das boas tramas de investigação da série. Os roteiros já abordavam assuntos espinhentos ainda nos dias de hoje, e até buscavam inspiração em casos reais como o assassinato de Emmett Till e o tiroteio em Columbine. Entre os temas tabu, racismo, identidade de gênero, noe-nazizmo, abuso e problemas psiquiátricos, estavam presentes nas tramas. 

Intrigante, rica e bem construída, Arquivo Morto até nos faz ter saudade dos tempos pré maratona, onde acompanhávamos séries semanalmente ao longo de todo o ano. Vale a maratona para quem desconhece, e a revisita para quem já é fã!

Cold Case teve sete temporadas a maioria com 23 episódio. O quinto ano, foi afetado pela greve dos roteiristas de 2007 e teve apenas 18 capítulos. Curiosamente ou não é a temporada com os melhores casos. Está disponível completa tanto no Prime Vídeo quanto na HBO Max!

Post a Comment

Postagem Anterior Próxima Postagem