Confesso que não dei muita atenção à minissérie alemã Depois da Cabana quando esta estreou na Netflix em setembro deste ano. Mas a longa carreira da produção na lista de top dez da plataforma acabou despertando meu interesse para a obra. E que bom que finalmente assisti.
Uma mulher misteriosa é atropelada e levada ao hospital na companhia de sua estranha filha de doze anos. O incidente traz pistas sobre um desaparecimento não solucionado há treze anos. Assim acompanhamos, a investigação do caso atual, e a reabertura do caso antigo. Seria essa mulher a jovem Lena? Quem a atropelou? De quem fugia? Onde estava? Qual o segredo por trás do comportamento incomum da garota que diz ser sua filha?
Baseada no romance de Liebes Kind, a minissérie de seis episódios, apresenta o quebra cabeças logo nos primeiros minutos. E convida o espectador a resolvê-lo enquanto oferece as peças aos poucos, sem medo de reviravoltas e faltas pistas. Acompanhamos quatro pontos de vista diferentes. O da vítima atropelada (Kim Riedle), de sua suposta filha, a estranha e inteligente Hannah (Naila Schuberth), de Matthias (Justus von Dohnányi) pai da jovem desaparecida, e dos investigadores Gerd e Aida (Hans Löw e Haley Louise Jones). Todos personagens complexos e falhos, o que nos faz desconfiar de cada um deles em momentos distintos do desenvolvimento da narrativa.
Está nas sinopses e nos trailers, então não é spoiler, há uma situação de um longo cativeiro nos moldes de O Quarto de Jack no centro desta história. Mas diferente do filme, os momentos de clausura aqui são dispostos em flashbacks em pontuais, conforme a história vai sendo revelada pela investigação, ou pelo desenvolvimento dos arcos da vítima. Além de que a manipulação e doutrinação das vítimas pelo agressor aqui é muito mais complexa e contundente.
De semelhante com o filme estrelado por Brie Larson, há a ausência do ponto de vista do sequestrador. O roteiro até explica suas motivações e seus métodos, mas sem lhes dar palco ou protagonismo. Sua presença é sentida pelos efeitos que seu abuso teve sobre as vítimas, e não por ele estar em tela. É o vilão a ser derrotado, física e mentalmente, e apenas isso.
A direção de arte constrói uma atmosfera nublada e cinzenta, tal qual a verdade que demora a ser desvendada na trama. Já o contraste entre luz natural e artificial, determina a diferença de tom entre os momentos de clausura, e o pós-fuga.
O elenco é eficiente, e o destaque fica com Naila Schuberth. A garota cria uma Hannah tão singular que confunde não apenas o público, mas também aqueles que a cercam. O que ajuda a relevar algumas falhas nas ações dos personagens, como o fato de ninguém indagar onde a menina encontrou a tal gata que teria ficado no cativeiro. Falha grave dos investigadores!
É apenas o final que pode decepcionar alguns, não pelo desfecho em si, mas pela forma como é conduzido. A resolução é corrida, e deixa muito para ser deduzido pelo público. Especialmente, como as vidas dos personagens seriam afetadas após o clímax. Vale lembrar, trata-se de uma minissérie, não haverão mais capítulos, e nem precisa. Apesar desse escorregão no final, o desenvolvimento e ritmo da jornada é tão bacana até ali, que fazemos vista grossa para o final apressado. E ainda levamos a série para a roda de conversa, para deduzirmos, ou mesmo escolhermos como os personagens continuaram a partir dali.
Tem muita coisa que chega no top dez da Netflix, e não entendemos o porquê. Depois da Cabana merece a atenção que tem recebido e o posto que ocupa. Não é excepcional, mas é criativa e acerta no suspense. Vale a maratona!
Depois da Cabana tem seis episódios com cerca de uma hora cada, todos já disponíveis na Netflix.
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