Stan Lee

"O velhinho que criou os personagens da Marvel e aparece em todos os filmes." É assim que o grande público conhece Stan Lee, ícone dos quadrinhos de super-heróis. Logo, nada mais coerente que a empresa que mais lucra atualmente com suas criações, a Disney, dedique uma obra para apresentá-lo propriamente para o expectador comum, e de quebra faça sua homenagem ao escritor morto em 2018. 

Assim surge no catálogo do Disney+ Stan Lee. Documentário de cerca de uma hora e meia de duração, que contra a trajetória de seu retratado pela sua própria voz, além de alguns poucos que conviveram com ele. É realmente surpreendente como a produção consegue contar toda a história do retratado a partir de falas dele, quase como se Lee tivesse deixado sua biografia gravada antes de morrer. Na verdade, trata-se de uma montagem bem elaborada de material de arquivo, de entrevistas, gravações e até programa de rádio nos quais ele participou ao longo de sua vida. Cobertas por imagens de arquivo, e delicadas e estilizadas maquetes ilustrativas dos momentos não registrados.

Uma construção perfeita até demais na tarefa de idealizar seu protagonista. Inevitável não imaginar que a produção não retrate toda a verdade. Afinal, quando nós mesmos contamos nossa história, dificilmente nos privamos  de omitir as partes das quais não nos orgulhamos. As vidas perfeitas das redes sociais são prova disso. Assim, a história de Lee é de vitória e ascensão desde a infância de ávido leitor, até os louros como  escritor, editor, publicitário, produtor, diretor, empresário.

Uma figura apenas admirável e inspiradora, para quem não conhece a indústria dos quadrinhos. Mas que tal qual seus personagens poderia ser muito mais complexa se explorada em sua totalidade. Espectadores mais atentos, no entanto, podem reparar em trechos que parecem ir de encontro à construção irrestrita de um ídolo. Como o estranho salto que a narrativa faz do final década de 1970 para 2010. Deixando de fora tudo que ocorrera entre seus últimos anos na editora, e as homenagens que recebera nos filmes da Marvel estúdios, e todas as polemicas em que ele se envolveu nesse período. Falta uma parte da vida nessa biografia, e é difícil de ignorar. 

Entretanto, nada indica mais a humanidade de Stan Lee, que uma conversa em um programa de rádio que teve com o ex parceiro Jack Kirby. O que era para ser um reencontro entre colegas, se mostra uma discussão velada sobre autoria, com Lee diminuindo o trabalho de seu coautor. Mesmo que minutos antes, o documentário mostre que os ilustradores tinham bastante voz no processo narrativo, por causa da forma como Stan costumava trabalhar.

Passando muito de leve por possíveis rusgas no trabalho, o roteiro ainda pontua de onde vieram ideias que deram origem a seus muitos personagens. Embora não determine de forma tão clara, em que momento no tempo cada um surgiu, assim como pouco mostra a influencia deles após a criação. O que não é tão interessante para uma produção que promete mostrar o legado de seu retratado para o mundo dos quadrinhos.

Apesar de altos e baixos, o documentário Stan Lee consegue dar um panorama geral da vida do quadrinhista, especialmente para o público não iniciado. Um panorama muito elogioso e parcial, é verdade! Mas cuja parcialidade não compromete os méritos do trabalho de Lee. Ele realmente criou estes personagens (com ajuda ou não) e esteve na base da criação da Marvel como conhecemos hoje.  


Uma pena apenas que a obra não tenha coragem de dar a Stan Lee a mesma humanidade que ele deu aos personagens que criou. Se privando de retratar uma pessoa verdadeira a completa, com problemas, falhas e erros, que valorizariam seus acertos. É uma celebração de centenário (ele nasceu em 1922) razoável, mas eu gostaria de ver mais!

Stan Lee
2023 - EUA - 86min
Documentário

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