A primeira temporada de Sweet Tooth cria uma ânsia no público de ir mais além. Ver um pouco mais do que restou desse mundo, suas comunidades, seus humanos, seus híbridos... Possibilidade que tornava a segunda temporada ainda mais promissora. Mas a série da Netflix, baseada na HQ homônima de Jeff Lemire, segue o caminho oposto.
Separados, Gus (Christian Convery), Jepperd (Nonso Anozie) e Ursa (Stefania LaVie Owen) seguem caminhos isolados com um objetivo em comum, se reunirem. O garoto cervo, faz amizade com os híbridos da reserva, e com eles executa várias tentativas de fuga, enquanto "colabora" com o Dr. Aditya (Adeel Akhtar) na busca pela cura. Já Grandão é resgatado, e se une à Aimee (Dania Ramirez) em um plano para resgatar as crianças. Enquanto a adolescente segue seu próprio plano para resgatar o protagonista.
Até aí nada de surpreendente, considerando os ganchos deixados pela temporada anterior. O que surpreende negativamente, é o tempo que a série gasta para resolver esses primeiros questionamentos e seguir com a trama. Mais da metade da temporada é reservada à repetição e ao desenvolvimento lento.
Várias vezes as crianças tentam fugir e são pegas. Várias vezes Gus interage com Adita. Várias vezes a esposa do cientista questiona o trabalho do marido e sua sobrevivência. Várias vezes o vilão General Abbot (Neil Sandilands), mostra sua crueldade e seu irmão discorda silenciosamente. Enquanto as jornadas de Jepp e Ursa se arrastam por longos caminhos e desvios, que poderiam ser resolvidos de forma mais dinâmica e eficiente.
Inevitável a sensação que a série está esticando suas tramas, para ocupar os oito episódios, apenas com o embate com o vilão. Preparando terreno e deixando o mais interessante para a já confirmada terceira e última temporada. Uma opção equilibrar esse "atraso", seria aprofundar os temas que surgem dessas longas dinâmicas. Como o conceito de "mentira branca", a relação de Ursa com um jovem com crenças opostas, o custo da sobrevivência de Rani (Aliza Vellani), e a obediência cega do irmão do general. Mas o roteiro prefere as opções mais rasas, pouco desenvolvendo essas boas discussões, e oferecendo desfechos convenientes para elas.
Essa escolha por limita a série não apenas narrativamente, mas também em cenários e construção de mundo. Talvez, uma escolha com influencia de orçamento. Vemos menos do mundo, presos nos mesmos cenários e núcleos. Muito diferente do "road movie" da primeira temporada.
À exceção fica por conta da jornada de Aimee, que se vê na tarefa de deixar suas crianças seguras na sua ausência. Posto, que Usar parece abraçar bem, mas novamente este desenvolvimento é interrompido, dessa vez, pelo gancho para a temporada seguinte. Escolha que deixa muito evidente, que esta é uma temporada de "passagem". Gasta-se oito episódios na tarefa de resgatar e proteger os híbridos, para no instante seguinte, abandonar todos aqueles considerados secundários.
Reparou que pouco falei da dupla protagonista? Isso porquê Gus e Jepp pouco evoluem nessa temporada. Sua jornada se resume a se reencontrar. É para nós que são colocadas as grandes informações relacionadas ao personagem título, através das descobertas científicas do doutor. Aos poucos o quebra-cabeças sobre a criação de Bico Doce e do vírus é montado para nós. Para os personagens, é entregue apenas a peça que indica o caminho à ser abordado na temporada três. Que promete voltar ao formato "pé na estrada".
Apesar da limitação de cenários, a qualidade visual da série se mantém. Especialmente nas maquiagens e efeitos que criam as crianças hibridas. Já a passagem de tempo, e a localização espacial é confusa, especialmente quando os núcleos se encontram em batalha. O melhor, se conseguir, é tentar não pensar nos dias e noites, e nas distâncias, e só acompanhar os eventos. O mesmo vale para o vilão, que repete sua caricatura deslocada (mesmo para uma serie onde pessoas tem chifres e caudas), o único ponto realmente fraco da primeira temporada.
Um capítulo do meio, mais longo que o necessário, é o que a Netflix entrega na segunda temporada de Sweet Tooth. Bem aquém do ano anterior, é repetitiva e com menos encanto, salvando-se apenas pelo nosso envolvimento prévio com os personagens, e pela promessa de uma aventura melhor no futuro. Então que venha o terceiro e último ano, de preferencia com desenvolvimento, respostas e um desfecho tão coerente e envolvente quanto sua estreia.
Sweet Tooth tem duas temporadas cada uma com oito episódios de cerca de uma hora. Todos já disponíveis na Netflix.
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