Meu Amigo Lutcha

Então a Netflix lançou um filme sobre o Chupa-cabra, mas ao contrário do que se possa imaginar, não se trata de um filme de mistério ou terror. Meu Amigo Lutcha (que no original tem o sugestivo nome de Chupa) é um filme para o público infantil, sobre "amizade mágica". Tema típico da década de 1990, época em que se passa o filme e também em que a criatura se tornou popular. 

Alex (Evan Whitten) um garoto estadunidense de família latina, está com problemas para processar o luto pela morte do pai. E para complicar ainda mais precisa fazer sozinho a viagem ao México que o pai planejara, para que ele conhecesse a família e o lugar onde o pai nasceu. À contragosto, ele vai. E seguindo a cartilha dos filmes do tipo, faz amizade com uma criatura misteriosa, que precisa salvar de adultos ambiciosos que pretendem explorá-la. 

Uma criança com problemas familiares que encontra reflexo e cura, em um encontro com uma criatura extraordinária. Só precisa de duas letras (E.T.) para lembrar que este não é exatamente um argumento original, e que já foi explorado à exaustão nas décadas de 1980 e 90. Mas já que perdeu força nos últimos anos, e sempre há crianças novas para encantar é um retorno bem vindo ao argumento. 

E a produção começa bem, simples e sem grandes novidades, mas bem! Afinal, apresenta rápida e claramente a problemática, e os personagens. Além da criatura e do vilão (Christian Slater), Alex interage com o avô (Demián Bichir) e com os primos Luna (Ashley Ciarra) e Memo (Nickolas Verdugo). Mas não consegue seguir com a trama a partir dali. Com os personagens fazendo escolhas estranhas, e com a urgência do perigo oscilando de acordo com a necessidade do roteiro. 

Se por um lado o roteiro tenta nos fazer acreditar que é urgente levar a criatura, que eles chamaram de Lutcha, de volta para seu bando. Por outro também faz pausas para contar a história do pai do protagonista, lidar com o problema de saúde do avô, e até fazer uma despropositada sequencia de luta entre avô e neto. Até a capacidade das crianças oscila, em um momento são capazes de dirigir e cuidar do avô. Em outro ficam paralisadas ao ver o vilão em ação, para na sequencia serem proativas novamente, antes de deixar a criatura mágica resolver o grande clímax. Faltou coerência e um caminho claro para guiar a história. 

A criatura também é outro problema. E não estou falando do CGI fraco, ele até funciona dentro do tom lúdico do tema. Eles tratam o animal como o Chupa-cabra, mas a não ser pela lenda que circulava na época, nada indica que esta seja a criatura que inspirou as lendas. Nem pelo seu design, que apesar de fofo, lembra mais criaturas mitológicas greco-romanas. Muito menos por seus hábitos. 

É inevitável a sensação de que a escolha pelo Chupa-cabra foi meramente comercial. Ao menos, isso gera uma das melhores características do longa, sua ambientação. Impossível para uma criança latina dos anos 90 (como essa blogueira que vos escreve) não se reconhecer ali. Dos objetos, as roupas, brinquedos e até os penteados da menina Luna. 

E por falar nas crianças, o elenco mirim é eficiente, mas não chega a encantar. À não ser pelo pequeno Nickolas Verdugo, insolente, exagerado e falando em espanhol todo o tempo, ele diverte sem fazer esforço. Quanto aos adultos, entregam o que o roteiro simplório pede, e apenas isso.

Meu Amigo Lutcha faz uma aposta interessante ao emular filmes de amizades mágicas de décadas passadas. Mas não consegue sustentar a fórmula e se perde no caminho. Deve funcionar com os muito pequenos pela fofura e identificação. E não mata os adultos de tédio pela nostalgia, mas é só isso. O pequeno Lutcha é fofo, mas ainda espero o verdadeiro Chupa-cabra dar as caras na telinha!

Meu Amigo Lutcha (Chupa)
2023 - EUA - 95min
Aventura

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