Mundo Estranho

Nada de princesas, grandes vilões ou longas canções, a nova animação da Disney aposta em criação de mundo, aventura e claro boas, e atualizadas lições. Mundo Estranho é exatamente o que o título promete, uma jornada pelo novo, incomum, e desconhecido.

A cidade de Avalonia evoluiu muito desde que Searcher Clade (voz de Jake Gyllenhaal) trouxe de volta de uma expedição a planta luminescente com potencial energético, o Pando. Escolha que custou sua parceria com seu pai Jaeger Clade (Dennis Quaid), que preferiu ignorar o achado, seguir caminho para descobrir o que há além das montanhas que cercam a cidade, e nunca mais retornou. Vinte e cinco anos após a descoberta, o agora fazendeiro Searcher precisa sair em uma aventura novamente, para descobrir e eliminar o mal que está matando a plantação de Pando. Ao lado de uma equipe de exploradores, e com seu filho, mulher e cão como clandestinos. 

Jaeger queria que Searcher seguisse seu legado de explorador. Este por sua vez prefere a segurança e estabilidade do trabalho diário e deseja o mesmo para seu filho Ethan (Jaboukie Young-White). O adolescente por sua vez, não quer nada com a vida de fazendeiro, e quer desbravar o mundo. Sim, o lado emocional desta aventura explora o conflito de gerações. A diferença de pontos de vistas e desejos de pais e filhos, e as expectativas que projetam uns nos outros. 

Tema debatidos à exaustão na ficção, e que podemos imaginar que caminhos vão seguir. É aqui que temos que recordar o que aprendemos em histórias como estas: só porque um tema é repetitivo para nós, não significa que para nossos filhos não seja interessante! Para a molecada, público alvo assumido do longa, provavelmente é uma novidade muito bem vinda. 

Outro tema curioso apontado aqui é a ausência de vilões. Não entenda errado, existe antagonismo sim, mas não há um grande vilão declarado aqui. Apenas pessoas fazendo o que acreditam ser melhor para a comunidade, em pontos de vista opostos, o que os coloca em conflito. Escolha didaticamente explicada pelo jogo que Ethan joga. Brincadeira que também evidencia, que tudo tem sua função no mundo, e que ao invés de apenas eliminar o que parece estar atrapalhando, é preciso compreender do que se trata e descobrir a melhor maneira de lidar com cada coisa. 

Ainda há espaço para mostrar uma comunidade diversa, famílias multirraciais, convivência normal com necessidades especiais, e naturalidade na forma de encarar relacionamento entre pessoas do mesmo sexo. Além de trazer uma mensagem ecológica mais sutil, ao entender o mundo como um organismo complexo que precisa ser cuidado. Temas que surpreendem ao serem tratados de forma direta e simples, em um filme para crianças do conservador estúdio do Mickey. 

Essas mensagens estão lá e serão absorvidas, mas não são o elemento que vai prender a garotada. É a construção de universo e a aventura de descoberta através dele, que vão capturar a atenção dos pequenos, e ouso dizer, dos mais velhos também. Com inspirações em obras de Júlio Verne, Viagem Insólita e até Avatar, Mundo Estranho não falha em entregar o que promete em seu título. Um design de produção rico e criativo, antes mesmo de embarcarmos no tal mundo. 

Situada em um mundo fictício Avalonia é semelhante a qualquer cidade de nosso mundo, mas tem características e personalidade próprias, muito bem definidas no design de suas casas, roupas, objetos do cotidiano e até nos nomes. É familiar, mas é diferente!

Quando finalmente entramos no tal mundo do título, a criatividade ganha asas. Um mundo esquisitos, com designs incomuns enche a tela, com sua flora e fauna própria, que aparentemente não fazem sentido. Mas, que na visão ampla deste universo, tem sua função e razão de ser. Falar mais que isso, seria estragar a surpresa, mas garanto ao final tudo se torna coerente com a proposta apresentada. 

O último elemento para conquistar o público são os personagens. Carismáticos e simpáticos, a mãe Meridian (Gabrielle Union) e o cachorro de três patas Lenda. Splat, a criatura gelatinosa azul, assumidamente criada para gerar merchandising para crianças (um personagem literalmente aponta em cena), não é tão carismática quando poderia. Talvez pela falta de algo que se assemelhe um rosto. Mas com as novas gerações pode sim funcionar viciadas em slime (ou geleca pros antigos). O elenco de vozes originais ainda traz Lucy Liu como a prefeita aventureira Calisto. 

Apostando bastante das piadas físicas, e no deslumbre pelo novo e diferente. Mundo Estranho é assumidamente uma aventura para a criançada (pois é nem todo filme é feito para você marmanjo), mas não deve entediar os adultos. Criativo, bem produzido e objetivo, entrega exatamente o que promete, um admirável e divertido mundo novo. 

Mundo Estranho (Strange World)
2022 - EUA - 102min
Fantasia/Aventura

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