Adoravelmente incomum, assim como sua protagonista. Esta é uma descrição bastante precisa de Catarina, a Menina Chamada Passarinha. O filme original do Prime Video, baseado no livro Catherine, Called Birdy de Karen Cushman e dirigido por Lena Dunham, passou despercebido por muita gente, mas merecia uma atenção mais detalhada.
Catarina (Bella Ramsey), carinhosamente chamada de Passarinha é uma garota de quatorze anos, espírito livre e a frente de seu tempo. O que significa muita coisa se você vive por volta do ano 1292, principalmente confusão. Quando seu pai percebe que a única forma de salvar a propriedade da família é vendendo a filha para o casamento, a menina se empenha em espantar todos os pretendentes que aparecem. Ao mesmo tempo que lida com as dúvidas, inseguranças e primeiros sentimentos da adolescência.
Narrado quase como um diário pela protagonista, e com uma linguagem moderna a proposta do filme é clara, conversar com os "contemporâneos" de Passarinha, não em época propriamente dita, mas em idade e espírito. É com a geração Z, muito expressiva e eloquente em seus tiktoks e afins que o mais quer falar, apesar de conseguir conversar facilmente com toda a família.
Abraçando este anacronismo proposital, Dunham (e talvez Cushman, não li o livro) pretende utilizar o rigor e as limitações impostas às mulheres da época, para falar sobre as imposições e cobranças ainda feitas a mulheres de hoje. A forma de agir, a obrigação de gerar filhos, de sempre ser obediente a um homem, a impossibilidade de escolher os rumos de sua própria vida, são os principais temas abordados aqui. Sua discussão transcende em sua época e nos relembra que a grande maioria das mulheres do planeta ainda estão presas a muitas, se não todas, destas convenções da sociedade. Uma discussão rica, complexa e necessária, ainda mais se considerarmos seu jovem público alvo.
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Há espaço também para abordar sexualidade e homossexualidade, termos que sequer existiam na época. A construção e queda de nossos ídolos, amor paterno e amizade completam o pacote de assuntos que este roteiro abraça de uma forma ou de outra.
Enquanto oferece bons exemplos e discussões ricas para garotos e garotas de todas as idades, a produção cria uma idade média, que apesar de anacrônica é bem realista no aspecto que importa, sua dureza. A simplicidade e dificuldade do cotidiano, mesmo nas classes mais abastadas, a rudeza dos modos roupas e até a higiene precária, constroem uma época bem distinta em um retrato bem particular. Design de produção, cabelo e figurinos são cruciais na construção desta atmosfera. Novamente, não historicamente precisos, mas eficiente as necessidades desta história.
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O elenco pode ser o maior atrativo para alguns. Andrew Scott consegue construir para o pai da protagonista uma personalidade que foge da crueldade esperada. Mais irresponsável que malvado, ele realmente ama a filha, apesar dos castigos e do casamento forçado apontarem o contrário. Billie Piper, Lesley Sharp e Sophie Okonedo criam um trio de exemplos femininos distintos. Cada uma enriquecendo a protagonista de uma maneira diferente.
O grande destaque, no entanto, é Bella Ramsey (a Lianna Mormont de Game of Thrones), que carrega a narrativa de forma espirituosa e enérgica. Passarinha, é sim um pouco mimada, irresponsável e em alguns momentos até egoísta, mas Ramsey a torna adorável o que faz com que acompanhar seu amadurecimento seja gratificante. Paul Kaye, Dean-Charles Chapman, Ralph Ineson e David Bradley completam a tabelinha de quem é quem nos sete reinos (respectivamente Thoros de Mir, Tomen Baratheon, Dagmer Cleftjaw e Walder Frey).
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Catarina, a Menina Chamada Passarinha é um filme de época pensado para as crianças de nossa época, mas conversa bem com toda a família. Propositalmente incomum e até um pouco esquisito, tem potencial de se tornar um adorado "clássico de sessão da tarde". Ou, no formato de hoje, de infinitas reprises no Prime Video.
Catarina, a Menina Chamada Passarinha (Catherine Called Birdy)
2022 - Reino Unido /EUA - 108min
Aventura
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