A Queda

Praticar esportes de alto risco sozinho, e não avisar ninguém para onde está indo. Estes são os erros mais comuns que constroem bons filmes de sobrevivência. A Queda traz essa premissa para um ambiente curioso, abusa do azar e da criatividade para criar uma sensação enervante para o público. 

 Na tentativa de curar um trauma, Hunter (Virginia Gardner) arrasta a melhor amiga Becky (Grace Caroline Currey) para uma escalada em uma vertiginosa torre de rádio abandonada no meio do deserto. Uma vez no topo, a dupla fica presa e precisa usar toda a criatividade para se manter vivas e tentar se salvar. 

Uma minúscula plataforma, sem para peito, com um poste no meio, este é o cenário principal de A Queda. Também é tudo que as meninas tem entre elas e uma queda de centenas de metros. A premissa do longa está longe de ser inédita, são os cenários e dificuldades que diferenciam o longa de outras produções. Além da altura e espaço limitado, a dupla ainda precisa encarar, sol forte, vento incessante, escassez de comida e água, e até abutres à espreita.

Com o principal objetivo de causar agonia no espectador, o roteiro já começa a espezinhar o público antes mesmo de as personagens começarem a escalar, ao reforçar a vastidão e isolamento da região. Já subindo, a direção de Scott Mann faz questão de focar não apenas na dificuldade da escalada, mas também em suas condições de risco, ao apontar com recorrência a deterioração da torre. Metal enferrujado, quebradiço, encaixes com parafusos soltos, caindo, ausentes, tudo reforçado por um trabalho de som que exalta rangidos, sons metálicos e o predominante vento, nos fazendo desconfiar constantemente da estabilidade da estrutura.

A própria torre também é um fator de temor crescente, dividida em trechos que propositalmente vão aumentando a dificuldade ao longo da subida. Desde a falsa sensação de segurança do trecho gradeado, passando para a parte sem esse apoio, pelos obstáculos das antenas parabólicas, até a plataforma final, toda a subida em si já é um desafio para os nervos, quer você tenha medo de altura, ou não.

Uma vez presas lá em cima, a dupla se reveza entre boas e má ideias, e muita má sorte. Inicialmente com a atrevida Hunter sendo mais ativa, até que a traumatizada Becky também precise tomar à frente das ideias e fazer valer seu título de protagonista. A diferença de personalidade, e a boa dinâmica entre as duas é crucial, tanto para justificar as escolhas ruins, quanto para facilitar nossa empatia com elas. Sim, elas fizeram escolhas irresponsáveis e idiotas, e desafiam a gravidade desnecessariamente, especialmente aos olhos de quem, assim como eu não vê graça em esportes de alto risco, ainda mais quando realizado apenas para ganhar likes. Entretanto, no final das contas conseguimos sim perdoar estes maus passos e torcer pela sobrevivência da dupla.

Os desafios impostos, bem como as formas em que eles falham miseravelmente são bastante criativos e impedem que o filme caia no marasmo. É claro, há uma ou outra pequena concessão que o espectador precisa fazer para se manter imerso, como sessões inteiras de escadas caindo, mesmo quando não estão conectadas, objetos convenientes encontrados pelas moças, e até a corda que muda de tamanho conforme a necessidade.Tudo facilmente superado pela agonia da situação. O escorregão mesmo fica por conta, da necessidade do roteiro em criar um drama paralelo para as jovens. Um dilema clichê, que gera diálogos pouco inspirados, atuações rasas e que parece pequeno e dispensável diante da situação em que elas se encontram. 

Felizmente esse desvio é breve, e logo retornamos para o dilema de sobrevivência principal. São destes momentos de desesperos e arroubos de coragem que o filme consegue tirar as melhores atuações de Currey e Gardner. Em momento algum deixamos de acreditar no desespero e desgaste por qual as moças estão passando.

Nada disso seria possível no entanto, se não acreditássemos no perigo a que as moças são submetidas. É o trabalho eficiente da direção de arte, e dos efeitos especiais que garantem a credibilidade da situação. Mesmo com orçamento pequeno, a produção consegue explorar e enfatizar tanto a altura da torre de diferentes ângulos, quanto o isolamento do deserto. Tornando o perigo real e palatável, até para quem está bem seguro, com os pés no chão, sentado na poltrona do cinema.

A Queda não é um grande filme inovador e original. Na verdade sua premissa é bastante simples e conhecida, são as condições criativas e a boa execução, que fazem o filme se destacar. Ele nos leva para o topo da torre, junto com as protagonistas, e entrega toda aflição e agonia que promete. E nem é preciso ter medo de altura para ficar realmente apavorado! 

A Queda (Fall)
2022 - EUA/Reino Unido - 107min
Suspense 

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