Órfã 2: A Origem

Qual nível de concessões você está disposto a fazer por uma ficção? O primeiro A Orfã de 2009, exigia uma certa benevolência do público que acabava sendo compensada pelo bom plot twist. Já Órfã 2: A Origem exige uma suspensão de descrença muito maior do espectador, sem a mesma qualidade de recompensa, apesar de também trazer uma reviravolta curiosa. 

Passado antes dos eventos do primeiro filme, a produção está longe de contar a origem da personagem título, ou mesmo a "primeira morte", como o título em inglês (First Kill) sugere. O longa está mais interessado em responder uma lacuna do filme anterior. Como Esther (Isabelle Fuhrman), migrou de um asilo na Estônia para um orfanato estadunidense. 

Assim, encontramos Leena, nome verdadeiro da personagem já no Saarne Institute. Acompanhamos sua violenta fuga da instituição, e a execução de seu plano para se infiltrar em uma nova família. É assim que ela chega à casa da família estadunidense Albright se passando pela filha desaparecida há quatro anos, a tal Esther. É claro, que a convivência é mais complicada e cheia de segundas intenções, não apenas por parte da protagonista, mas também da família. Oferecendo boas possibilidades, mesmo que conheçamos o desfecho. No caso, o início do primeiro filme.

Apesar do que se possa imaginar, não é a veracidade em torno da condição da personagem título que exige muitas concessões do público. Vale lembrar, Esther tem uma condição que interrompe seu crescimento, mantendo-a eternamente com a aparência de uma menina de nove anos, apesar de já se tratar de uma mulher adulta. Em 2009, Isabelle Fuhrman tinha onze anos, ao viver a personagem. Neste filme, a atriz já já estava com 23 anos à altura das gravações. 

Sem orçamento para fazer complexos rejuvenescimentos digitais, a personagem poderia não convencer o público novamente. Mas a produção se esforça com os recursos que tem, maquiagem, fotografia, ângulos de câmera, perspectiva forçada, atores em plataformas e até o uso de uma dublê mirim, para construir "rejuvenescer" sua intérprete. E sim, em comparação direta com o primeiro filme, o envelhecimento de Fuhrman é claramente perceptível. Mas acompanhando-o isoladamente, apenas com a memória do original, não é difícil comprar a ideia. 

A verdadeira fragilidade da produção está em seu roteiro não tão esforçado. A solução encontrada, para levar "Ester" da Estônia para os Estados Unidos, é criativa. Assim como a reviravolta, que acontece bem mais cedo, lá pela metade do filme, realmente surpreende. Entretanto, o texto de David Coggeshall não faz questão de dar estofo para a situação construída, omitindo fatos e pulando etapas, para chegar logo no ponto que deseja. Ignorando, a forma como a polícia trabalha, burocracia internacional, protocolos sobre crianças desaparecidas, entre outras liberdades. 

À certa altura, um detetive invade a casa da família e "rouba" evidências. Para em sequência, conferir as digitais da protagonista com a menina desaparecida. Impossível não se perguntar como esta "criança" sequestrada atravessou meio mundo, sem que ninguém conferisse sua identidade? Ou ainda, como um alerta com sua descrição não fora liberado para autoridades após a fuga violenta da Estônia. Considerando que ela fora encontrada por um policial. 

Por outro lado, a omissão desses elementos ajudam o roteiro a ser sucinto e direto. O filme tem cerca de uma hora e meia, e não se dá ao luxo de se repetir ou enrolar. E ainda consegue sedimentar elementos marcantes da mitologia da personagem, como o uso da pintura com luz negra. O que combinado a boa cadência conferida por William Brent Bell, e a reviravolta curiosa, oferecem uma jornada interessante para quem conseguir relevar as fragilidades já mencionadas. 

Isabelle Fuhrman entrega uma vilã menos sutil e ambígua, com atitudes menos calculadas que as do filme anterior. O que pode, na maior parte do tempo, ser explicado pelo fato de este ser seu primeiro grande golpe, e a personagem ainda cometer deslizes. Julia Stiles é sempre eficiente, e segura bem a mudança de paradigma que o roteiro propõe lá pela metade da história. Já o restante do elenco, formado por Rossif Sutherland, Hiro Kanagawa e Matthew Finlan, apenas entregam o que lhes é pedido. Atuação simplista que fica bem evidente, quando roteiro faz os personagens agirem de forma pouco inteligente.

Órfã 2: A Origem, trazia em seu título uma proposta mais complexa. A oportunidade de estudar melhor esta psicopata, presa em um corpo infantil. Apresentar as circunstâncias que a levaram a se tornar uma assassina. Mas o roteiro, escolhe um caminho mais similar ao primeiro filme, quase como se fosse outra versão do mesmo caso. Ideia que não é ruim, mas que precisava de uma construção mais cuidadosa. Ainda sim, o longa funciona, principalmente para aqueles que procuram um pouco mais do "jeitinho de matar" da adorada assassina título. 

Órfã 2: A Origem (Orphan: First Kill)
2022 - EUA - 99min
Suspense, Terror

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