O Jardim Secreto

 1919, 1949, 1975, 1987, 1993, 1994, 2017, 2020... estes são os anos em que O Jardim Secreto, de Frances Hodgson Burnet ganhou adaptações para as telas, desde seu lançamento em 1911. Apesar da popularidade da história, que além de filmes e séries de TV também ganhou versões para os palcos, o livro nunca fora tão conhecido em terras brasileiras quanto suas adaptações. 

Mesmo esta blogueira que vos escreve, fã devotada do filme de 1993, dirigido por Agnieszka Holland, desde a infância, só me deparei com a versão original do conto recentemente. Graças à caprichada versão lançada pela Darkside em 2021. Logo, é hora de dar meu nada modesto parecer sobre este clássico que faz parte de meu imaginário há tanto tempo. 

Caso você tenha vivido preso em um quarto até agora, e nunca tenha ouvido falar desta história, segue uma breve sinopse. Mary Lennox cresceu na Índia Britânca, negligenciada por seus pais e mimada por suas aias. Quando se torna órfã aos dez anos, a menina é enviada para a Inglaterra, para viver sob os cuidados de seu recluso tio, na depressiva mansão  Misselthwaite. Sozinha, ela começa a explorar a propriedade e desvendar seus segredos, que inclui um primo misterioso, um jardim secreto e muita magia.

O fato de já conhecermos a história, poderia contar pontos contra a versão literária. É injusto, mas não é raro que obras originais, sejam vistas como menores por aqueles que entraram em contato com a história através de adaptações e referências, antes de conhecer o original. Contudo, a forma e o detalhismo com que Burnett desenvolve a jornada de Mary, nos envolve de uma forma única e diferente de qualquer adaptação que tenhamos visto.

Com tempo para trabalhar seus personagens, o livro explora bem a personalidade e anseios dos personagens principais. Enquanto constrói um rico cenário a sua volta, trazendo os habitantes do castelo e região e seu cotidiano para as páginas. É claro, o foco ainda é Mary, Colin e Dikon, mas é possível ter uma visão completa do mundo que os cercam, e os afetam. 

É Lord Craven o único que pode soar negligenciado pela narrativa. Uma vez que sua ausência e o mistério quanto a sua personalidade o mantém fora de cena, apesar de seu papel crucial no desfecho. Faz sentido na construção dos personagens infantis, mas acaba deixando de lado sua própria construção.

E por falar no desfecho, este é o único ponto fraco do livro. Repentino, simples e sem grandes detalhes da vida após a solução dos problemas. O clímax é apresentado apenas no capitulo final, e não sobram muitas páginas para o encerramento. Após tanto tempo acompanhando o dia-a-dia dos personagens, sentimos falta uma despedida mais significativa. 

Felizmente, para muitas histórias é a jornada e não a linha de chegada o mais importante. Neste quesito, Burnett não decepciona, trazendo um desenvolvimento com um ritmo tranquilo, mas nunca monótono. Além de viradas nos momentos certos. Muita magia, e boas mensagens ao longo do caminho, conforme as crianças aprendem e amadurecem.

A tradução de  Débora Isidoro, mantém a linguagem simples e acessível para os leitores de hoje. Vale lembrar, apesar de se tratar de um livro para crianças, este tem mais de 100 anos. Falando sobre esta edição em particular, o capricho da Darkside se mantém. O volume é ricamente ilustrado com o trabalho de Maria Sibylla Merian, e tem encadernação caprichada em capa dura. 

O Jardim Secreto continua encantador e inspirador, como quando fora lançado. Apesar da idade, sua linguagem é acessível e envolvente. Enquanto a edição em questão é linda e caprichada, o orgulho de qualquer estante. Basta saber se estes requisitos conseguem disputar a atenção das crianças de hoje, vidradas por seus eletrônicos. Para os adultos, especialmente aqueles que já amam a história, é um deleite. Trazendo de volta bons momentos da infância e uma vontade incontrolável de cultivar o próprio jardim.

O Jardim Secreto (The Secret Garden)
Frances Hodgson Burnet
Darkside


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