Emergência

Dois jovens universitários negros chegam em casa e encontram uma adolescente branca desacordada em sua sala. Não precisa ser a pessoa mais engajada do mundo para perceber, esta situação pode dar muito errado para os estudantes, nesta sociedade de racismo enraizado em que vivemos, independente da atitude que a dupla escolha tomar. Emergência, longa baseado no curta homônimo que venceu o Prêmio Especial do Juri de Sundance em 2018, pretende explorar esta premissa com crítica e humor.

Kunle (Donald Elise Watkins) é um aluno modelo, já Sean (RJ Cyler) é mais relaxado nos estudos. A dupla tem um grande plano, fazer história sendo os primeiros negros a comparecer em todas as festas estudantis numa mesma noite. Mas a diversão fica em segundo plano quando encontram uma garota branca desacordada em sua sala. Com medo de chamar a emergência e serem culpados pelo estado da moça, a dupla embarca em uma jornada de equívocos ao lado do terceiro colega de quarto, o latino Carlos (Sebastian Chacon).

Conduzir uma crítica complexa através do drama, suspense e humor, este é o caminho escolhido pelo roteiro de Emergência. A intenção seria construir uma história, rica, instigante e acessível, especialmente para o público jovem. Contudo, o equilíbrio entre estes três gêneros precisa ser exato para funcionar, e Carey Williams, parece tem dificuldade de balancear os diferentes tons do longa.

Entre piadas que se estendem mais do que o necessário, e absurdos que nunca são abraçados completamente pela produção, o humor tem pouca força e soa cansativo em muitos momentos. Já o drama e a tensão ficam divididos, entre a sobrevivência da jovem, a possibilidade dos estudantes serem incriminados, e a amizade entre Kunle e Sean. Oscilando entre um tema e outros, sem definir prioridades em muitos momentos. 


Ok, são jovens, alguns deles alterados pelo uso de drogas e álcool, mas seu comportamento varia entre foco e histeria de forma repentina e desequilibrada, conferindo pouca veracidade aos personagens e situações. Especialmente no segundo núcleo da produção, comandado por Maddie (Sabrina Carpenter), irmã da jovem desacordada.

Apesar de não definir com eficiência o tom da produção, a direção constrói a história de forma linear e coerente. Apresentado desafio maiores, e situações mais absurdas em um esperado crescendo. Fotografia e direção de arte, não entregam nada de novo, mas atendem de forma eficiente as necessidades da produção. O mesmo vale para o elenco, que traz rostos familiares, mas sem grandes estrelas. 

Já a crítica funciona bem, com a premissa de "não é o que parece". Enquanto o tal "o que parece" é resultado de um racismo estrutural enraizado em todos nós.  Apresentada de forma direta, sem receios, e até com certo didatismo. O que é compreensível, se considerarmos um público alvo mais jovem. Ou ainda, pessoas que não fazem parte da minoria em questão, e precisam de uma amostragem direta das sutilezas do que é ser negro ou latino da sociedade atual estadunidense. Se lembrar o número da emergência é sua única preocupação ao encontrar uma adolescente desacordada em seu caminho, é provável que este longa te apresente um mundo novo. 


Emergência provavelmente não é tão preciso e eficiente quanto o curta-metragem no qual é baseado. A produção original do Prime Vídeo, tem algumas falhas de tom, e não traz grande novidades no aspecto técnico. Mas funciona em seu propósito original, discutir o racismo de forma clara e direta, a partir de uma situação bastante real. Então, o que você faria se encontrasse uma menor de idade desacordada em sua casa?

Emergência (Emergency)
2022 - EUA - 105min
Drama, Comédia, Suspense

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