Dublado ou legendado? Tanto faz, o importante é assistir!

Talvez eu tenha chegado atrasada nesta conversa, mesmo assim, eis minha opinião quanto a eterna discussão entre áudio original e dublagem. Afinal, volta e meia o tema retorna à pauta!

Lá nos primórdios do cinema, Charles Chaplin tinha muitos receios em mudar do cinema mudo para o falado. O motivo? Ele tinha medo que a barreira do idioma limitasse o alcance de suas obras, que ele acredita serem universais. Tanto a legenda, quanto a dublagem são respostas, ou soluções para estes temores do cineasta.

A legenda preserva a atuação completa do elenco, e tem uma tradução fiel a obra. Mas limita o acesso de quem tem baixa capacidade de leitura, seja por problemas de visão ou limitações educacionais.

A dublagem é mais democrática, mas precisa adaptar o roteiro em prol da sincronia labial. Além de substituir parte da atuação original pelo trabalho de outros profissionais. Trabalho este que, como qualquer outro, pode ser de qualidade, ou não. 

Nenhuma das opções no entanto está livre das adaptações. Seja para encaixar na sincronia labial, caber no espaço limitados de caracteres das linhas da legenda, ou ainda, e ouso dizer mais relevante, para fazer a obra funcionar no contexto do país e idioma para qual está sendo adaptado. E vale dizer, esse tipo de alteração contextual não é novidade, muito menos exclusividade do cinema, é muito aplicada também na literatura. Até a própria Bíblia adapta nomes de acordo com o idiomas, falando apenas de uma das alterações mais simples que se pode/precisa fazer. 

Ou seja, a discussão "legendado ou dublado", é no mínimo perda de tempo. Uma vez que nenhuma das opções é 100% fiel ao original. E o preconceito com relação à dublagem que destruiriam a "essência" da visão original da obra é irracional. 

Quem aí conhece Shirley Bassey? Sem adaptar não iria ter graça para nós, brasileiros!

A única opção para assistir a obra exatamente como foi concebida é, não apenas saber o idioma, mas compreender completamente o contexto cultural em que a produção está inserida. Limitante, não acha? Não é uma opção nada realista. Nem mesmo a pessoa mais culta do mundo, fala todos os idiomas presentes no planeta. E o cinema vai muito além do inglês e espanhol, segundas línguas mais comuns em terras brasileiras. 

Logo, determinar veementemente que um filme deve ser assistido neste ou naquele formato é no mínimo uma imposição esnobe. Especialmente porque nesta disputa, é geralmente a dublagem a opção considerada "inferior". Justamente a opção mais acessível à pessoas de baixa escolaridade e renda. 

Em outras palavras, que bom que você sabe mais de um idioma para poder consumir algumas obras em seu formato original, ou tem habilidade de leitura para acompanhar as legendas. Mas fique sabendo, esta não é a realidade da maioria! E você não tem mais direito de consumir cultura apenas por melhores oportunidades na vida. Determinar que produções audiovisuais devem ser assistidos com legendas ou áudio original é excluir uma grande parcela da população. Tudo que a arte não quer, nem precisa. A arte quer, precisa e deve alcançar o maior número de pessoas, seja como for. 

Particularmente, quando posso assisto a obra nas duas versões dublada e legendada. Em outros momentos me permito escolher um formato favoritos de acordo com a obra. Filmes e séries de memória afetiva, por exemplo, sempre dublados. Produções que o sotaque me encantam de alguma maneira, opto pelo som original. Mas acima de tudo, não acredito que uma opção seja inferior a outra. São apenas versões diferentes, para atender a necessidades distintas.

Dublado ou legendado, o importante é assistir! Consuma arte como puder, sempre que possível, de diferentes origens e épocas, aprenda e reflita. Nunca deixe seu acesso limitado por regras e julgamentos alheios.

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