Imperdoável

Um filme, muitas camadas, e estudos de personagens, Imperdoável, filme da Netflix estrelado por Sandra Bullock, abraça muitos temas. Em alguns deles se sai melhor do que em outros. Entretanto tem como ponto mais forte a eficiência de seu elenco estelar.

Ruth (Bullock) acaba de cumprir vinte anos de prisão por assassinato. E tudo que mais deseja é ter notícia da irmã caçula que tinha cinco anos quando ela foi presa. É claro, voltar a viver em sociedade não é fácil, especialmente quando a sociedade não esquece, nem perdoa, sua vida passada. 

Cenas que chamam atenção em Imperdoável, é a visível confusão da protagonista, ao se ver novamente nas barulhentas e movimentadas ruas após vinte anos de reclusão. Um ponto de vista raramente utilizado com personagens nesta situação e completamente compreensível para nós. Se com apenas dois anos de isolamento social pela quarentena, já temos dificuldade em voltar ao mundo, imagina quem teve sua liberdade limada por vinte anos. 

Boa parte da produção é dedicada à este retorno à vida. À forma como a protagonista entende, encara e se comporta no mundo. Um estudo de personagem conduzido sem pressa, e composto com eficiência por Bullock. A saída da prisão, a procura por emprego e por estabelecer uma rotina, ocupam boa parte do tempo de tela, dividindo espaço com a questão mais latente, à busca pela irmã. O que impõe um ritmo estranho, arrastado em alguns momentos, provavelmente reflexo de sua obra de origem. O longa é baseado em uma série de mesmo nome de 2019.


Simultaneamente à jornada da protagonista, observamos também o comportamento de personagens menores, no que pode ser visto como pequenos estudos de caso. Da irmã caçula Katie () que ainda carrega os traumas dos eventos da prisão da protagonista, passando pelos filhos da vítima, e até os colegas de trabalho de Ruth.

Através deles, o longa pretende estudar a personagem de Bullock, discutir o circulo vicioso da violência, as mazelas de traumas do passado, a hipocrisia da sociedade diante de "criminosos" que teoricamente já pagaram seu débito com a sociedade, e até os privilégios de uma mulher branca, ainda que presa no sistema carcerário. Em alguns temas a produção acerta em cheio, como a analise da persona de Ruth, ou as consequências de seu crime na família da vítima,  em outros a discussão se perde pelo caminho. Especialmente a discussão de privilégio branco, jogada sem construção, de forma rasa e bastante despropositada pela personagem de Viola Davis. 


As reviravoltas da reta final aceleram o ritmo e compensam a longa construção. Outro fator que vale a sessão é o trabalho eficiente do elenco estelar. Além de Bullock e Davis, estão em cena Vincent D'Onofrio, Jon Bernthal, Rob Morgan e Linda Emond. Este elenco mais experiente criam a base, que os mais jovens acompanham, e o resultado é equilibrado e positivo.

Imperdoável nasceu de uma série, por isso, abarca muitos temas. Não consegue trabalhar todos como poderia, mas é eficiente naqueles que acerta. E traz boas atuações especialmente de Bullock. No geral é um acerto da Netflix.

Imperdoável (The Unforgivable)
2021 - EUA - 152min
Drama

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