Panic - 1ª temporada

Jogos Vorazes é a obra com a qual Panic tem sido comparada desde seu anúncio. Comparação rasa e equivocada, a nova série adolescente da Amazon Prime Video tem muito mais semelhanças com o menos badalado longa Nerve de 2016, estrelado por Emma Roberts e Dave Franco, onde jovens encaram desafios mortais por dinheiro.


Baseada no livro homônimo de Lauren Oliver, a série conta a história de uma cidadezinha do Texas que promove anualmente um jogo mortal. Todo verão, os jovens que acabaram de terminar a escola local, encaram desafios mortais por um prêmio em dinheiro. Heather (Olivia Welch) não pretendia participar, mas muda de ideia ao perceber que o prêmio é a única forma da moça continuar seus estudos e melhorar de vida. Entre os competidores com quem ela concorre estão sua melhor amiga, Natalie (Jessica Sula), o novato na cidade Dodge (Mike Faist) e o valentão da classe Ray Hall (Ray Nicholson). Enquanto isso, a polícia local investiga o jogo outrora secreto, que na edição anterior matou dois competidores. 

A protagonista tímida de quem não se espera muito, o valentão, a garota popular e determinada, o garoto misterioso... São bem conhecidos, os tipos que Panic resolve escalar para seu desafio. É na interação entre eles, incomum por causa dos eventos do jogo, e em inúmeras reviravoltas, que o roteiro aposta. 


As interações são acertadas, amizades em jogo, pactos, traições, romances (afinal, são adolescentes com hormônios em polvorosa), são movidos pelas motivações e personalidades, mesmo que rasas, destes personagens. A maioria coerente e bem desenvolvida, mesmo quando trazem segredos que mudam nossas perspectivas sobre essas relações e personagens.

É na parte das reviravoltas, especialmente as relacionadas com a investigação policial, que a série perde o rumo. À começar pela investigação amadora da polícia, seguindo pistas ao acaso, ora ignorando indícios, ora insistido em rastros frios,  e até tirando conclusões de lugar nenhum. Uma representação pouco crível do trabalho policial, mesmo que haja explicações no roteiro para sua incompetência.

O desenvolvimento do mistério também não melhora na forma com que é apresentado ao público. Informações falsas, incompletas, misturadas, e até desmentidas ou completamente ignoradas posteriormente, são apresentadas sem uma progressão na narrativa. É como se o roteiro estivesse tão empenhado em fazer mistério, que simplesmente joga todo tipo de informação na tela, sem planejamento algum. O que o impede de convidar o público a participar, especular, e tentar descobrir o que está acontecendo. Ignorando que parte da diversão em narrativas de mistério, é tentar desvendá-lo. 


Não que seja impossível desvendar os segredos. Em algum momento você vai desvendar o quebra-cabeças,  mas, isso se dá mais pela obviedade do segredo, do que de fato pelas pistas. O que talvez seja menos frustrante para o público mais jovem, com menos bagagem desse tipo de narrativa, que pode realmente se surpreender com as revelações, e é o público alvo dessa série.

De volta aos desafios, são eles que provavelmente vão prender a maioria dos espectadores. A maioria boas ideias para uma série de TV, mas péssimos exemplos para mentes jovens e influenciáveis. Ao ponto da produção trazer avisos sobre os riscos das atividades exibidas ali antes de cada episódios. O famoso "não façam isso em casa crianças!". São desafios mortais, enervantes, e bem filmados. Conseguindo nos fazer realmente temer pelo bem estar dos personagens, nos deixando na pontinha da cadeira enquanto são executados. 

Olivia Welch não tem grandes momentos de atuação, mas consegue carregar bem o protagonismo ao longo de toda a produção. Já Ray Nicholson é eficiente no trabalho de nos fazer ter ao mesmo tempo asco e pena de seu valentão de escola. O restante do elenco atende ao que os personagens pedem, e apenas isso. 


Panic é uma versão mais contemplativa de Nerve. Enquanto no filme o jogo é urgente e frenético, tudo se passa em uma noite, a série ocupa um verão inteiro. Toma um tempo para explorar as consequências de cada desafio, desenvolver as motivações do personagens, e seguir, mesmo que cambaleante, com a investigação policial. Não é excelente como poderia ser, mas é um passatempo interessante, desde que se mantenha nas telas, sem influenciar a molecada da vida real a fazer o mesmo. 

Panic tem dez episódios com cerca de uma hora cada, todos disponíveis no Prime Video

Leia também a crítica de Nerve.

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