Army of the Dead: Invasão em Las Vegas

Concisão e precisão, Zack Syner precisa redescobrir estes conceitos! O diretor,  que recentemente lançou sua versão de quatro horas de Liga da Justiça, repete seus excessos neste filme de apocalipse zumbi da Netflix que coloca seus personagens em uma situação de urgência, mas não tem pressa de acontecer. 

Zumbis tomara Las Vegas, que foi isolada pelo governo, e está prestes a ser eliminada com uma bomba nuclear. Às vésperas da grande explosão, o magnata dos cassinos Bly Tanaka (Hiroyuki Sanada), contrata um grupo de mercenários comandado por Scott Ward (Dave Bautista), sobrevivente da cidade para roubar 200 milhões de dólares que ficaram esquecidos em cofre de um de seus estabelecimentos. 

Sim, "roubar"! Apesar de ser o dono do estabelecimento, Tanaka não fornece a senha do cofre para a equipe, que sequer o questiona sobre isso. Este é apenas um dos muitos questionamentos que o filme torce para que a suspensão da descrença ajude o público a ignorar. Outros são, o fato da quantia de dinheiro não caber no helicóptero de fuga, reféns sem vigias que não tentam fugir, e a equivocada conta para sair da cidade antes da bomba (não, alguns minutos não são suficientes para fugir de todos os efeitos de uma explosão radioativa), além de mais algumas que envolvem spoilers que não pretendo dar agora.  

Caso você consiga deixar esses questionamentos de lado, o filme traz sim boas ideias e bastante carnificina, desde suas bem executadas cenas de abertura. Mas gasta tempo demais tentando criar um vínculo com os muitos personagens e contar duas histórias ao mesmo tempo. Além do grande roubo, há uma busca por pessoas sequestradas pela parcela inteligente dos mortos vivos. Assim, a missão de fato começa quando já passou quase uma hora de filme, enquanto as grandiosas cenas de ação ficam perdidas, em meio à interações nada criativas e que pouco agregam aos personagens, ou à narrativa. 


As motivações fracas, as personalidades rasas determinadas geralmente por uma característica apenas, e as interações clichês, não conseguem construir vínculo com personagens. Ao passo que as mortíferas cenas iniciais já definiram, que morrer ali é a regra, e portanto os personagens são altamente descartáveis. Ward é o único que consegue uma construção mais elaborada, mesmo assim não consegue fugir do lugar comum, o pai sem tato que busca na missão suicida uma forma de se aproximar da filha. 

Tornando improvável que nos importemos o suficiente, para nos preocuparmos com o bem estar de qualquer um dos membros do grupo. E até nos fazendo questionar a sobrevivência de alguns, como a personagem Kate (Ella Purnell), que se insere na missão com uma motivação forçada, em nada agrega ao grupo. 


De volta aos zumbis, Army of the Dead cria sua mitologia própria, com diferentes tipos de mortos vivos, e até hábitos e regras de comportamento. O problema é quem nem sempre elas são coerentes.  Pegue os zumbis que hibernam como exemplo, nunca fica claro o que realmente os acorda. É o toque, luz, barulho? Nada disso, é conveniência de roteiro mesmo. 

Há também tempo para construir conceitos que estão ali apenas para construir uma franquia. Como animais zumbis, mortos vivos desidratados, zumbis robôs, uma sociedade reprodutiva de zumbis inteligentes, sua possível origem alienígena, e até uma trama de loop temporal. A maioria ideias apenas jogadas para serem resgatadas em futuros filmes, que as cenas final do filme deixam claro estarem nos planos. 


Army of the Dead: Invasão em Las Vegas tem um argumento excelente e carregado em urgência: um grande roubo em uma cidade prestes a ser bombardeada. Poderia resultar em uma produção frenética, e cheia de adrenalina, mas a falta de objetividade e as muitas intenções de seu criador eliminam esse potencial. O resultado é um filme que se estende demais, perde o foco e desperdiça seus bons argumentos, por causa do preciosismo do diretor, que acredita que nenhuma ideia deve ser dispensada, e em prol de uma franquia que pode nunca acontecer. 

Army of the Dead: Invasão em Las Vegas (Army of the Dead)
2021 - EUA - 148min
Ação, Terror

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