Julie and the Phantoms - 1ª temporada


 Um efeito curioso da quarentena nesta blogueira que vos escreve, é o interesse aumentado produções mais leves ou que incluam bastante fantasia. Talvez uma forma do cérebro escapar deste ano tão legal que está sendo 2020. Foi assim, que esbarrei em Julie and the Phantoms, série musical teen da Netflix, com carinha de produção do Disney Channel. 

Luke, Alex e Reggie (Charlie Gillespie, Owen Joyner e Jeremy Shada) eram três dos quatro membros de uma banda em ascenção, a Sunset Curve. O trio morre repentinamente, e reaparece como fantasmas décadas mais tarde, quando Julie (Madison Reyes) ouve seu CD. Inicialmente o trio só pode ser visto pela garota que perdeu a paixão pela música após a morte da mãe, logo eles descobrem que quando tocam com ela, todos podem ver e ouvir a banda. 


Adivinhou quem chutou que o trio vai ajudar a garota a reencontrar sua musica interior, enquanto ela os ajuda a alcançar o sucesso que lhes escapou por um triz. O desenrolar da trama e os desafios são bastante previsíveis, a dificuldade de esconder a existência de fantasmas, a briga por guardar segredos da melhor amiga, lidar com a malvadinha da escola, com a superproteção dos pais, com romances, faltar com os colegas em uma ocasião importante, entre outras dificuldades já enfrentadas por muitos adolescentes em filmes e séries através dos tempos. Além claro, de um obrigatório desafio também para os rapazes, que aqui se apresenta na forma de um fantasma mais experiente, e cheio de segundas intenções.

O diferencial de Julie and the Phantoms, está na representatividade e carisma dos personagens, e principalmente em seu universo bem construído. Mesmo que não haja um livro de regras para os fantasmas, aos poucos o trio descobre como o pós vida funciona, e a série tenta prover explicações eficientes para as curiosas situações. Como a conexão com os instrumentos que usavam em vida, que permite que os garotos os usem e tenham acesso à eles. Não são explicações complexas ou mirabolantes, algumas delas inclusive, ficam à cargo da dedução do público. Mas todas funcionam, e são coerentes com que fora apresentado na produção.


Já a diversidade fica por conta de escolhas de elenco e roteiro. A protagonista é latina, sua melhor amiga é negra, um dos membros da banda é gay (inclua aqui um romance com importância no desenvolvimento principal). Diferente de outras produções do gênero, a sensação não é de estar seguindo cotas (tem que ter um negro, um homosseuxal, um asiático), mas que as escolhas foram feitas em prol da narrativa, e do que os personagens pediam. 

Já oferecer o protagonismo à uma garota latina, pode ser um aceno para as origens de Julie and the Phantoms. A série da Netflix é um remake de Julie e os Fantasmas, série brasileira exibida pela  Rede Bandeirantes e a Nickelodeon Brasil. Agora você deve estar se perguntando: então porquê não fizeram a família de Julie brasileira, ao invés de falantes de espanhol de origem aleatória?  - Porque em Los Angeles, onde a série se passa, existem muitos latinos vindos de países falantes de espanhol logo, faz mais sentido. Entretanto se quiser um aceno mais óbvio à série original, a escola da protagonista é comandada pela Diretora Lessa. A Julie da versão brasileira era interpretada pela atriz Mariana Lessa.

Repara nesse cabelinho Patrick Shwayze!

E já que estamos falando de referências, não faltam alusões aos trabalhos de Kenny Ortega inseridos nos episódios. Caso você não não tenha reconhecido o nome, Ortega, que é produtor da série e dirige alguns episódios, foi o coreógrafo de Ritmo Quente e diretor das franquias High School Musical, Descendentes. Você vai encontrar alusão aos dois primeiros nos números musicais, já de Descendentes, a série herdou alguns membros do elenco. 

E por falar nos números musicais, eles são tanto os pontos fortes, quanto o mais fraco da produção. Calma, eu explico! Bem coreografados e dirigidos (os episódios comandados por Ortega ficam evidentes aqui), os números são empolgantes, mas se confundem uns com os outros. Isso porque as canções são muito parecidas, em especial aquelas que Julie and the Phantoms performam juntos. Já que a fórmula é sempre a mesma, obrigatoriamente a garota precisa cantar primeiro para que o resto da banda seja vista. Enquanto a temática das canções se repete, para se relacionar com o arco dos personagens, autodescoberta, superação e crescimento. 

Assim, os números isolados como o do clube de Fantasmas, ou o sonho acordada de Julie no corredor da escola são os poucos que de fato ficam na sua mente após a maratona. Não que isso atrapalhe a experiência em si. Você vai curtir os shows enquanto acontecem, mas é provável que poucas das músicas entre em sua playlist. 

Felizmente, Madison Reyes compensa a semelhança das músicas imprimindo bastante emoção em cada performance. Estreante, ela não apenas consegue carregar a série, mas também acerta nas canções  nas performances. O restante do elenco acompanha o ritmo, entregando o que é preciso sem grandes destaques, à exceção da carismática melhor amiga Flynn (Jadah Marie), que sempre nos arranca um sorrisinho com seu jeito abusado. 

Divertida, com bons números musicais e bem produzida Julie and the Phantoms é uma boa surpresa no catálogo da Netflix. É voltada para o público jovem, é verdade, e por isso é bastante previsível. Mas é carismática, caprichada, e entretém facilmente qualquer um que esteja à procura de um programa leve, alto astral, para escapar alguns instantes de nosso estranho momento atual. 

Julie and the Phantoms tem nove episódios com cerca de meia hora cada, e brecha para continuação ainda não confirmada pela Netflix

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