Os Irmãos Willoughby

Família existem em diferentes formatos, e nascem até mesmo nas mais diversas situações. Não tem a ver apensa com genética, história ou uma casa em particular, mas com pessoas que decidem estar juntas. Estas são as lições trazidas por Os Irmãos Willoughby. Provavelmente você já assistiu outras obras com estes ensinamentos universais, mas a animação da Netflix, vem provar que sempre há uma nova forma de contá-los, e que nunca é demais reforçar a lição.

Os irmãos Tim (Will Forte), Jane (Alessia Cara) e os gêmeos Barnaby (Seán Cullen) tem os piores pais do mundo. Ente passar fome, frio e noites
trancados no porão não é surpresa que o quarteto desejasse não ter responsável algum. É assim que eles chegam à brilhante ideia de se "orfanizar", ou seja se livrar dos pais.

Calma, este ainda é um filme infantil, as crianças não vão virar assassinas. Embora o roteiro traga algumas ácidas, e incômodas, insinuações. Me pergunto também como órfãos de verdade se sentem ao verem os protagonistas desejando serem órfãos, mesmo com pais tão, tão, terríveis. Mãe e Pai Willoughby (Martin Short, Jane Krakowski) são os piores pais do cinema desde Matilda (1996). Se bem que os Wormwood nunca deixaram a menina sensitiva, passar frio ou fome, e até deram um nome a ela (ambos os gêmeos se chamam Barnaby, porque o casal não se deu ao trabalho de diferenciar os dois). Ou seja, os Willoughby são oficialmente os piores pais da história dos filmes infantis.

Já os filhos tem personalidades bem peculiares. Tim é obcecado com o legado dos bigodes da família, e se sente o líder do clã. Jane ama cantar e é curiosa ao ponto de arrumar encrenca. Os Barnaby são praticamente, são os inventores. É com esses últimos que o roteiro mais falha, ao negar-lhes o desenvolvimento óbvio, criar personalidades distintas. A dupla é pouco mais que um alívio cômico. Seus irmãos mais velhos por outro lado tem arcos bem definidos, especialmente Tim. Nanny (a babá com a voz de Maya Rudolph) também tem uma jornada clara, embora mais simples, além motivações semelhantes as dos irmãos.

Baseado no livro The Willoughby de Lois Lowry, a trama é bastante episódica e frenética, saltando entre uma situação absurda para outra em um piscar de olhos. Um acerto para entreter os pequenos da geração youtube, mas um pouco cansativo para os mais velhos, que devem se dividir entre a sensação de correria e falta de foco. Entretanto, no final as todas as peças se encaixam, em um final pouco surpreendente, mas bastante satisfatório.

O elenco de vozes composto majoritariamente por comediantes, acerta no tom ácido e nas duas camadas de interpretação, piadas físicas para as crianças, humor ácido para os pais. Também estão no elenco Terry Crews como o comandante Melanoff, e o sempre excelente Ricky Gervais, como o intrusivo narrador felino.

O maior acerto de Os Irmãos Willoughby, no entanto, é no visual e qualidade técnica. Uma mistura bem executada de animação 3D e stop-motion, a produção constrói bem sua identidade própria, através das cores, designs e até da movimentação de personagens e veículos, se distinguindo com sucesso de outras produções do gênero. Vale prestar uma atenção maior também a música, pensada para cada personagem isoladamente. E às referências a cultura pop, que vão dos contos de fadas à Pac-Man.


Apesar das ressalvas quanto ao desejo de "orfanização" dos protagonistas, e a forma como o sistema de acolhimento de órfãos é apresentado, Os Irmãos Willoughby, é mais um acerto da Netflix em animações. Divertido, colorido e vibrante, deve agradar a molecada sem entediar os pais. Traz críticas pertinentes à sociedade, como egoísmo e falta de responsabilidade. Além de trazer de forma diferente e criativa, ensinamentos universais sobre família e confiança, que precisam sim ser recontados de tempos em temos para velhas e nova gerações.

Os Irmãos Willoughby (The Willoughbys)
2020 - Canadá, EUA, Reino Unido - 92min
Animação, Aventura, Comédia

Post a Comment

Postagem Anterior Próxima Postagem