Após a morte traumática do pai de Tyler (Connor Jessup), Kinsey (Emilia Jones) e Bode (Jackson Robert Scott), sua mãe Nina (Darby Stanchfield) resolve levar todos para a antiga casa de família do marido. Uma mansão isolada em uma pacata cidadezinha que esconde chaves mágicas. É claro, não é preciso esforço para adivinhar, existe um ser maligno atrás dos artefatos mágicos.
Baseada nas HQs homônimas de terror e fantasia escritas Joe Hill e desenhada por Gabriel Rodriguez. A série tem o lado terror amenizado em prol da fantasia e de seu público alvo, a molecada. Locke & Key da Netflix pretende alcançar o público de Stranger Things, mas com a vantagem de possuir uma mitologia própria, e não precisar se agarrar tanto à referências e nostalgia. O que não significa que a série não às tenha. De Lovecraft à Nárnia, passando pelo artista de efeitos especiais Tom Savini, as citações estão lá apenas como um brinde aos mais atentos.
É em apresentar seu próprio universo que a primeira temporada está preocupada. Introduzindo o conceito e regras da magia e das chaves que concedem habilidades distintas. Os custos e consequências de usar tais poderes. E o mistério em torno de sua existência que, inevitavelmente, envolve a família Locke e sua mansão a Key House.
Enquanto descobrem a magia, os Locke também tentam superar o trauma do assassinato de seu pai, e construir uma empatia com o público. Bode de Jackson Robert Scott (o Georgie que foi devorado por Pennywise em It: A coisa) consegue isso sem dificuldades, ao entregar uma criança inteligente, curiosa e criativa.
Emilia Jones cria uma personalidade adolescente verossímil para Kinsey, com muita vontade de se provar, mas também cheia de inseguranças. Já a mãe interpretada por Darby Stanchfield consegue não parecer ausente ou relapsa, apesar de estar em uma trama onde tradicionalmente os adultos são deixados de fora. É apenas Connor Jessup, que não consegue entregar toda a culpa e responsabilidade do irmão mais velho Tyler, sendo o menos carismático do trio principal.
O restante do elenco conta com boas atuações, que volta e meia roubam a cena. Como o ingênuo Rufus (Coby Bird), o tio descolado Duncan (Aaron Ashmore) e o amigável Scot (Petrice Jones). Laysla De Oliveira é a entrega um bom trabalho pela vilã propositalmente caricata, no melhor estilo "uso preto e tenho risada maléfica". Falar mais que isso estragaria a experiência.
A adaptação consegue escolher bem a forma como apresenta suas chaves e mistérios, em um ritmo que consegue manter o espectador intrigado. Há apenas um momento, em que a narrativa soa arrastada, ao dar um pouco mais de foco aos dilemas adolescentes, em um ponto no qual já estamos completamente envolvidos pela trama das chaves.
Outra falha aparece em seu clímax, quando personagens supostamente inteligentes, fazem escolhas duvidosas, como "levar o tesouro para onde está o bandido" ou "duvidar quanto estão prestes a resolver o problema. Apenas para o roteiro conseguir a grande batalha que precisava, ou adicionar um suspense desnecessário à cena. Entretanto, à esta altura estamos envolvidos o suficiente para relevar estes detalhes.
Os efeitos especiais não são os mais elaborados, mas funcionam bem para mostrar as habilidades de cada chave. As soluções que trama encontra para ilustrar estes fenômenos são eficientes, especialmente os da Chave da Cabeça. Assim como a trama explora bem muitos espaços da peculiar mansão para desenvolver a história.
Divertida, carismática e criativa, Locke & Key é uma daquelas aventuras com que todos nos empolgamos um dia. Afinal todos já fomos criança um dia, e desejamos encontrar magia e uma grande aventura escondidas em um canto da casa. Particularmente, eu ainda sonho em encontrar a Chave de Qualquer Lugar por aí, e nunca mais pegar um engarrafamento na vida!
Os 10 episódios da primeira temporada de Locke & Key estão todos disponíveis na Netflix.
Postar um comentário