Ted Bundy - A Irresistível Face do Mal

As aparências enganam. Foi isso que Theodore Robert Bundy, ensinou aos estadunidenses da forma mais brutal possível nos anos de 1970. Uma figura de bom moço, não é sinônimo de boa índole. É pela forma como o assassino em série se apresentava publicamente, e sua imagem para pessoas próximas que Ted Bundy - A Irresistível Face do Mal, escolhe contar esta história real.

Nesta cinebiografia, acompanhamos a trajetória de Ted Bundy (Zac Efron), a desde o momento em que ele conhece Liz Kendall (Lily Collins). E em boa parte a partir da perspectiva desta que foi sua namorada por muito tempo, sem sequer desconfiar de seus crimes. O filme também mostra o ponto de vista de outros conhecidos como Carole Ann Boone (Kaya Scodelario), e daqueles que o viam através da mídia, pela qual seu caso fora altamente explorado, desde o início do julgamento, até a execução de sua sentença.

Um jovem atraente, inteligente, bom namorado e padrasto, que se afirma inocente das acusações todo o tempo. A forma com que o diretor Joe Berlinger decide retratar Bundy aqui, poderia facilmente ser a história de um mocinho injustiçado. Para alguns, beirando a romantização da figura do assassino. Entretanto, por causa do caminho midiático que o caso tomou, e a facilidade do verdadeiro Ted em usar seu carisma e toda essa atenção a seu favor, faz sentido mostrar a história do ponto de vista daqueles que viam apenas o "bom Ted Bundy".

A forma como ele se apresentava em sociedade, tornava impossível para aqueles que o conheciam na "vida fora do crime", imaginá-lo cometendo tais atos. Apesar das evidencias difíceis de refutar. Como compreender que o namorado perfeito, é também um assassino perverso e sádico?

Essa é a jornada de Liz, que na vulnerável posição de mãe solteira encontra no rapaz um porto seguro. Sua jornada de compreensão da existência deste "outro lado" do companheiro, se estende por todo o filme, abordando o efeito devastador no cotidiano da jovem. Dúvida, solidão, depressão, culpa, dificuldade de aceitar a realidade estão entre a vasta gama de sentimentos que Lily Collins precisa conferir a à sua personagens. Sua atuação esforçada, entrega o necessário para compreendermos suas dificuldades, mas não alcança o nível de empatia necessário para um relacionamento mais intenso com a personagem.

Mais acertado em sua composição, Zac Efron acerta no tom de carisma que mescla certa perversidade sob a superfície. Um "falso galã", dissimulado e manipulador é uma boa escolha para o ator que está começando a variar suas escolhas de trabalho. É sua construção da imagem de Bundy, que sustenta o filme, tornando compreensível compreender o fascínio que sua figura exercia tanto em admiradores, quanto acusadores.

Kaya Scodelario e John Malkovich são outros destaques em cena. Ela como a mulher obcecada que o acompanhou até o fim. Ele como o juiz que encarou o circo midiático que seu julgamento se tornou. Ambos eficientes mas com a maior função de servir de para Efron. O mesmo vale para Jim Parsons, o eterno Sheldon Cooper, parece escolhido a dedo, para viver o completo oposto do protagonista, um promotor burocrático e nada carismático. Angela Sarafyan e Haley Joel Osment exercem este papel mesmo papel de apoio para a personagem de Collins.

Seguindo com a curiosa escolha de mostrar o lado que Bundy escolhia apresentar ao mundo, a produção pouco mostra da violência de fato. Os assassinatos são apenas sugeridos, nunca mostrados explicitamente. E mesmo as fotografias de cenas do crime usadas no julgamento são apresentadas com muita parcimônia. As provas oferecidas ao espectador, são na maioria apresentadas por diálogos e ações. Não se trata da negação, ou construção de dúvida da autoria dos crimes. O que seria uma escolha tola, já que se trata de uma história real bastante conhecida. A intenção aqui é manter a coerência com o ponto de vista abordado. Liz, o tribunal, mídia, ninguém viu os assassinatos, consequentemente nós também não os vemos.

Um efeito colateral, intencional ou não, dessa ausência de violência em cena, é nos fazer questionar nossa própria curiosidade mórbida. O filme deixa claro, o tipo de atrocidades cometidas, será que ainda precisamos assisti-las? Vale lembrar que a curiosidade pública que o caso gerou na época, e a cobertura midiática é discutida até os dias de hoje. E nos fez repensar a forma como noticiamos determinados assuntos.

Menos coerente que o ponto de vista, é a representação do tempo no filme. Mesmo com as datas dispostas na tela, a passagem de tempo é confusa em muitos momentos. Tirando um pouco do peso, dos longos processos enfrentados pelos personagens, e fazendo com que algumas de suas escolhas soem abruptas, ou repentinas. Fica também a dúvida se Bundy já era um assassino, quando conhece Liz. Entretanto, na vida real também existem dúvidas, sobre quando ele começou a matar, logo a falta dessa informação é compreensível.

A caracterização dos atores e a reconstrução de época são bem realizados, como imagens de arquivo do caso real comprovam ao fim do filme. A apresentação dos acontecimentos também é bem fiel ao caso real. O que não é surpresa, já que o diretor Joe Berlinger também é responsável pela série documental, Conversando com um Serial Killer: Ted Bundy, lançada em janeiro deste ano, disponível na Netflix.

Ted Bundy - A Irresistível Face do Mal escolhe um caminho incomum para contar uma história já bastante explorada, em reportagens, filmes e livros. Mostra o lado daqueles que conviveram com a "versão sociável" de um psicopata, e a dificuldade de compreender que estes não o conheciam realmente. E ainda consegue nos fazer questionar nossa curiosidade mórbida, e a facilidade de criar empatia apenas pelas enganosas aparências.

Ted Bundy - A Irresistível Face do Mal (Extremely Wicked, Shockingly Evil and Vile)
2019 - EUA -110min
Biografia, Drama

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