Orange is the New Black - 7ª temporada

Comecei minha resenha sobre a temporada anterior de Orange is The New Black afirmado que o sexto ano poderia funcionar como desfecho da série. O que não significava que não havia mais histórias de detentas a serem contadas, ou que um desfecho melhor aplicado não poderia ser feito. E foi isso que a Netflix resolveu fazer. A sétima e última temporada do programa, encerra de forma excelente as histórias das detentas que acompanhamos por anos, e ainda encontra tempo de discutir um último tema atual e urgente.

Piper (Taylor Schilling), finalmente cumpriu sua pena, e está enfrentando outra punição da sociedade, a vida pós-prisão. A dificuldade de se reerguer, as regras, o preconceito, desafios que à primeira vista são os mesmos que Aleida (Elizabeth Rodriguez) enfrentou algumas temporadas atrás, mas cujas opções e oportunidades de solução são bem diferentes. São nos momentos em que enfrenta esta realidade, que Schilling entrega seu melhor trabalho. Uma pena que a comparação entre oportunidades perde espaço para os dilemas amorosos da moça. Ficar com Alex (Laura Prepon) ou com outra pessoa? Este acaba sendo seu o último grande dilema (onde está a opção, ficar por conta própria?), infelizmente somando pontos contra a personagem que já é considerada a mais chata da trama.

Felizmente, a trama amorosa da ex-protagonista (faz tempo que ela divide as atenções) é o único ponto realmente fraco da temporada, que trata bem melhor suas outras personagens. Taystee (Danielle Brooks) continua ganhar boa parte da atenção. Condenada a perpétua por um crime que não cometeu e acuada pelo sistema, ela parece ter perdido todo seu otimismo, mas não sua essência, já que continua ajudando aqueles à sua volta mesmo sem a intenção. Brooks, acerta ao criar a ambiguidade não intencional pela qual a detenta passa, oscilando entre a desesperança e o conformismo. Seu arco, é o melhor construído ao longo de sete anos, bem como as críticas reais atreladas à ele.

Outra crítica bem construída, mas apresentada apenas nesta temporada é o arco do centro de detenção de imigrantes, que abraça vários personagens, com Blanca (Laura Gómez) em seu centro. Bem no auge das discussões sobre o tratamento que a era Trump tem dado aos imigrantes ilegais, mostra as condições desumanas à que estrangeiros e descendentes, adultos e crianças são submetidos. Cientes da importância do tema, o elenco deste núcleo é o que mais se destaca em dramaticidade, inclusive as novas adições do elenco, cobrindo uma variedade de histórias de imigrantes. São elas as "laranjas" da vez.

Do lado das autoridades Tamika (Susan Heyward), vê seu esforço para melhorar ser assimilado e desvalorizado pelo sistema, ao receber um cargo que até merece, mas pelos motivos errados. Uma vez no poder, seus esforços de tornar a prisão em um lugar melhor continuam a ser dificultados pelos mais variados motivos. Outros que também já esgotados pelo sistema são Caputo (Nick Sandow) e Figueiroa (Alysia Reiner), que tentam seguir com suas vidas, fazendo o melhor que podem no percurso.

É claro, há ainda tempo para dar desfechos merecidos para Cindy (Adrienne C. Moore), Suzane (Uzo Aduba), Doggett (Taryn Manning), Lorna (Yael Stone), Red (Kate Mulgrew), Nicky (Natasha Lyonne), Flaca (Jackie Cruz), Dayanara (Dascha Polanco), Aleida, Mendoza (Selenis Leyva) e Ruiz (Jessica Pimentel). Algumas ganham desfechos relativamente felizes, muitas nem tanto, outras apenas são deixadas seguindo o mesmo cotidiano em que as encontramos. Seguindo a proposta de contar histórias conectadas com a realidade, que sabemos não é das melhores para ex-detentas.

Antes de se despedir completamente, Orange ainda faz questão de nos mostrar um vislumbre daquelas personagens que deixamos para trás em pequenas participações especiais. Apesar de divertido saber por onde andam Sophia (Laverne Cox), Brook (Kimiko Glenn) ou Norma (Annie Golden), as participações acabam nos recordando do maior e mais contante problema da série, o vai-e-vem de personagens. Com tanta gente em cena, volta e meia, alguém é dispensado, desaparece ou passa a fazer figuração de fundo sem grandes explicações. Um problema que a série luta desde o segundo ano, e não conseguiu solucionar. A figura desperdiçada da vez, foi Frieda (Dale Soules), que apenas "estava lá".

Bem produzido, com boas atuações e principalmente relevante para sociedade que vai consumi-la. Esta não é uma série isenta de erros, mas é cheia de acertos. Não é um programa sobre detentas, mas sobre mulheres e a sociedade atual. Trata de assuntos complexos, ora com o drama que merecem, ora com o bom humor que a vida precisa para seguir, sempre com críticas verdadeiras e contundentes.

Orange is the New Black é a última série da primeira leva de produções originais da Netflix a ganhar seu desfecho (as outras foram Hemlock Grove e House of Cards). Foi a única a ter um final bem planejado e coerente com o sucesso de sua estreia. A última temporada se despede das residentes de Litchfield com momentos cruéis, tocantes, e até felizes, mas principalmente honestos e humanos.

Orange is the New Black tem sete temporadas cada uma com 13 episódios, todos já estão disponíveis na Netflix.

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