O Orfanato da Srta. Peregrine para Crianças Peculiares surpreende pela originalidade, ao construir uma aventura complexa em torno de antigas fotografias não relacionadas. Cidade dos Etéreos não tem mais o frescor da novidade em seu benefício, e ainda correria o risco de siar forçado ou repetitivo ao continuar explorando o formato. Ransom Riggs, entretanto consegue escapar destas armadilhas no segundo volume da série.
Partindo exatamente do ponto em que parou no livro anterior, esta nova aventura acompanha Jacob e as demais crianças peculiares na fuga da ilha galesa e busca por ajuda para salvar sua mentora, presa em sua forma de ave. O grupo sai mundo à fora, explorando lendas, descobrindo novas fendas temporais e conhecendo gente nova, peculiar e comum, em plena Segunda Guerra Mundial.
É nessa expansão de universo que a franquia se sustenta. As fotografias ainda estão lá, mas ao invés de inspiração, agora são assumidamente (o autor menciona no posfácio ) um apoio à narrativa. Assim, Riggs não economiza situações ou personagens, tornando a aventura das crianças rica e constante. Apesar do clímax ser o trecho tradicionalmente mais acelerado, toda à jornada é cheia de reviravoltas e descobertas. O que somado à a linguagem é simples, direta e objetiva, torna a leitura agradável e ágil.
Eficiente em descrever cenários e características, o autor apresenta bem novos peculiares e suas características, e introduz com eficiência diferentes períodos no tempo. A facilidade de tudo ficar embolado e confuso é inerente à obras com viagens no tempo, mas as indas e vindas são claras, bem como as diferentes características de cada época.
Apesar de Jacob ainda ser o narrador, a história dá um foco maior ao grupo de peculiares outrora protegido por Peregrine. Enquanto a criançada tenta sobreviver no mundo hostil, o roteiro aproveita para explorar melhor suas habilidades e personalidades. Podemos ver cada um deles crescendo aos poucos, embora os arcos realmente bem desenvolvidos sejam apenas os de Jacob e Emma. Descartar personagens ou trazer novos, conforme a narrativa evolui também não é uma dificuldade aqui. As mudanças são coerentes, e ajudam a história a evoluir naquele ritmo acelerado que mencionei.
Já o desfecho com um gancho enverante, que deixa o leitor desesperado pelo próximo volume pode não agradar quem não gosta deste tipo de recurso. Mas já fora usado pelo autor no volume anterior logo, não deve pegar ninguém de surpresa. E a espera é curta já que as duas sequencias da aventura, Biblioteca de Almas e Mapa dos Dias já estão disponíveis no Brasil. The Conference of the Birds , o quinto livro da série, ainda sem título nacional está previsto para 2020.
Assim como o primeiro livro, este termina com um índice das fotografias. A edição em capa dura traz também um bate-papo com o autor, que explica seu processo de criação e as motivações nas escolhas das fotografias, e o capítulo inicial de Biblioteca de Almas.
Cidade dos Etéreos é um desafio ainda mais perigoso para os personagens e consequentemente mais tenso para o leitor. Apesar do ritmo acelerado, não deixa de lado a expansão do universo peculiar, com novos personagens, épocas e lendas. Além de consolidar o estilo que combina as peculiares fotografias antigas, com uma narrativa de aventura bem desenvolvida, sem deixá-lo previsível ou cansativo.
Cidade dos Etéreos (Hollow City)
Ransom Riggs
Intrínseca
Leia a crítica do primeiro livro O Orfanato da Srta. Peregrine para Crianças Peculiares ou do filme de Tim Burton baseado nele O Lar das Crianças Peculiares. Já comparei as duas obras na série Livro vs Filme.
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