Bohemian Rhapsody

Original, criativo, ousado, corajoso, relevante e desprovido de censura, todos adjetivos indiscutivelmente aplicáveis à banda Queen e seu icônico intérprete Freddie Mercury. Com um grupo tão rico em conteúdo, personalidade e uma história conhecidamente conturbada, a expectativa de mergulhar em seus bastidores e conhecer melhor as pessoas envolvidas é inevitável ao encarar uma sessão de Bohemian Rhapsody. Tudo, é claro, embalado por boa música.

Freddie Mercury (Rami Malek), Brian May (Gwilyn Lee), Roger Taylor (Ben Hardy) e John Deacon (Joseph Mazzello) abalam o mundo da música com a banda Queen. Mas o complexo estilo de vida atrelado ao sucesso, somado à excentricidade de seu vocalista torna sua convivência complicada.

Farrokh Bulsara trabalhava em um aeroporto quando percebeu uma oportunidade, uma vaga de vocalista em uma talentosa banda, somou a ela seu estilo incomum, mudou seu nome para Freddie Mercury e o Queen se tornou um sucesso. Rápido assim, logo nos primeiros minutos sem grandes detalhes ou empecilhos, Bohemian Rhapsody, nos apresenta o surgimento da banda e seus primeiros sucessos.

A correria inicial se justificaria, já que a trajetória da banda é longa, cheia de conflitos e com uma quantidade igualmente grande de sucesso. Infelizmente não é este o caminho que a produção segue. Freddie tem conflitos com os pais de uma família tradicional e rígida, um relacionamento incomum com Mary (Lucy Boynton), um convívio delicado e complexo com sua banda, um processo criativo louco, brigas com a imprensa, um agente mal intencionado e dúvidas sobre sexualidade. Mas o roteiro apenas aponta cada uma destes aspectos da vida de seu protagonista, sem realmente se aprofundar em nenhuma delas.

Ao mesmo tempo trata seus personagens de forma pouco realista em alguns momentos até caricata, em especial na participação especial da Mike Myers, como o agente que perdeu o Queen. Enquanto Freddie é colocado em um pedestal como um deus da criatividade, incluindo a personalidade difícil e até antipática aos olhos dos reles mortais. Os demais membros da banda parecem não ter falhas e sempre agir de forma equilibrada e profissional, acentuando a excentricidade de seu membro mais famoso. O resultado é um grupo de personagens artificiais, e consequentemente situações artificiais, que nos impedem tanto de conhecer a fundo os personagens, quanto ter aquela sensação de imersão nos bastidores da banda.

Mas calma, isso não significa que você não vai se relacionar com Bohemian Rhapsody. Você vai sim se empolgar com os números musicais e até esquecer que está no cinema e eventualmente cantar junto. Mas isto é mais mérito da banda que já conhecemos fora das telas e de sua longa lista de sucessos devidamente espalhada ao longo da projeção, do que do roteiro propriamente dito.

Fato curioso: Bohemian Rhapsody, canção que dá titulo à produção é apresentada várias vezes durante o filme, mas nunca completa. Acidentalmente confirmando a afirmação do "produtor malvado" de que a canção é muito longa para ser trabalhada comercialmente. Para nós fica só a sensação de que falta algo.


De volta aos personagens, o esforço de Rami Malek para personificar os trejeitos e maneirismos de Mercury é visível e eficiente na maior parte do tempo. Assim como a caracterização e a reconstrução de época. Some isso às boas músicas que o resultado é um bom entretenimento, e apenas isso.

Produzido sob a supervisão dos membros remanescentes da banda, e com problemas na direção (Bryan Singer foi demitido e substituído por Dexter Fletcher), Bohemian Rhapsody escolhe o caminho comum e seguro para contar a história de um grupo excepcional. Tratando de forma superficial até mesmo clichês de filmes do gênero, como sexualidade e uso de drogas. As boas músicas seguram a audiência, mas esta nunca alcança os verdadeiros conflitos das pessoas retratadas. O resultado é um filme mediano, que não faz jus ao legado e predicados de Mercury e do Queen.

Bohemian Rhapsody
2018 - EUA - 135min
Biografia

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