Unbreakable Kimmy Schmidt - 4ª temporada (parte 1)

Kimmy pode ser inquebrável, mas suas temporadas não são. A Netflix resolveu dividir o quarto e último ano de Unbreakable Kimmy Schmidt série em duas partes. E nesta primeira metade a série mostra que pretende terminar por cima.

Já faz algum tempo desde que Kimmy Schmidt (Ellie Kemper) foi resgatada do bunker onde foi mantida desde a adolescência, com outras mulheres pelo líder de uma seita apocalíptica. Desde então, ela mudou para Nova York, se adaptou relativamente bem ao novo milênio, encarou as questões legais de seu passado, terminou a escola, entrou para a faculdade, arrumou um emprego, e até construiu uma família disfuncional e tão louca quanto ela. Ainda sim, a personagem ainda não estabeleceu seu lugar no mundo, ou tomou as rédeas definitivas de sua vida. É por esse caminho que a série parece seguir nesta última temporada.

A previsão de um encerramento parece ter surtido efeito positivo na narrativa destes primeiros episódios. A produção pretende terminar o arco de Kimmy, eliminando excessos e desvios no caminho. Consequentemente escapando também da instabilidade narrativa, que atrapalhou a fluidez nas duas temporadas anteriores. Não que a jornada dos personagens seja exatamente "estável" em termos de acontecimentos.

Kimmy está aprendendo a lidar com as pessoas seu primeiro "emprego sério". Titus Andromedon (Tituss Burgess) e sua agente Jacqueline (Jane Krakowski), estão em busca de sucesso profissional. Enquanto Lillian (Carol Kane) lida com a perda do par romântico que arrumou no ano anterior. É claro, este é apenas o ponto de partida, não demora muito para acontecimentos estranhos desviarem as jornadas de cada um deles, que seguem incansavelmente em busca de seu objetivo maior, sobreviver neste mundo louco que habitam.

O processo de finalizar os arcos, garante o retorno de personagens, que apesar de secundários não devem ter a história ignorada pelo roteiro. Assim, Xanthippe (Dylan Gelula) aparece para começar a se acertar com sua ex-madrasta. Enquanto o reverendo Richard Wayne Gary Wayne (Jon Hamm), mostra que não sossegou na cadeia, em um episódio que quebra as barreiras do nonsense. O capítulo aliás é a reafirmação da principal crítica social este ano, ao colocar homens lamentando o crescimento da igualdade de gênero. Criando inclusive uma linha de raciocínio e plataforma de protesto contra a independência feminina.

Além de manter viva a temática de empoderamento feminino, a série ainda fala de diversidade, bullying, assédio, sub-celebridades e vida moderna. Mas o foco mesmo está no atual momento sócio-político dos "estadunidense", com direito à alfinetadas ao presidente Donald Trumpp e referências aos casos de assédio em Hollywood. Tudo isso com tiradas inteligentes, ágeis e recheadas de humor ácido, já característicos da série.

Os diálogos continuam frenéticos. Em muitos momentos os personagens abordam diferentes assuntos em uma mesma conversa, que de forma inteligente converge os temas distintos em uma única linha de raciocínio. Some aí, muitas referências à cultura pop e o resultado e a capacidade de manter o expectador atento a cada palavra, as vezes a piada está escondida em poucas sílabas. E quem não ficar atento pode ficar restrito ao humor mais superficial e até propositalmente bobo, que a série também tem.

Divertida, inteligente, crítica e com elenco afiado e carismático, Unbreakable Kimmy Schmidt é uma das comédias mais subestimadas da atualidade. Em sua reta final, mostra que conhece bem seus personagens, e a história que quer contar com cada um deles, e promete terminar suas jornadas tão bem quanto começou. A parte chata é precisar esperar até Janeiro de 2019 para se despedir de Kimmy, Titus e companhia.

As três primeiras temporadas de Unbreakable Kimmy Schmidt, tem 13 episódios cada. O quarto e último ano terá 12 episódios, seis deles já estão disponíveis na Netflix, os demais devem chegar apenas em 2019. Há também a possibilidade de um filme para encerrar a história.