
É no interior da Austrália que a jornada de Andy (Martin Freeman) se passa. O protagonista tem 48 horas para encontrar um lugar seguro para sua bebê Rosie, antes de se transformar em um morto vivo. O tempo é pouco, mas suficiente para este pai fazer escolhas erradas e encontrar todo tipo de pessoas, vendo o pior e o melhor do ser humano em uma situação extrema.
Mostrar a verdadeira natureza de cada pessoa em meio à uma crise, é uma abordagem comum no subgênero dos filmes de zumbi, e esta é a escolha que Cargo faz para dar mais consistência ao seu argumento e transformá-lo em um filme de quase duas horas. Na busca por um lugar seguro, Andy esbarra em pessoas assustadas, traumatizadas, gananciosas, violêntas, desesperançadas, persistentes, entre outros clichés do gênero. A opção de seguir pelo "lugar comum", é garantia de um bom desenvolvimento e uma produção acertada, por outro lado pode decepcionar e muito aqueles que esperavam algo original, especialmente por causa da originalidade da premissa. É inevitável ao expectador acostumado com esse universo prever acontecimentos e mesmo as personalidades e escolhas de alguns personagens.

A produção dá características próprias à sua infecção zumbi, embora nem todas elas sejam bem aproveitadas pelo roteiro. As mais acertadas são a graficamente enervante gosma que os infectados secretam, e o prazo fixo para a transformação que funciona como uma contagem regressiva para a sobrevivência da pequena Rosie. Apesar do cronômetro, o filme nunca soa apressado ou desesperado. O ritmo contemplativo que este adota em seu início, antes da crise acontecer, é mantido depois que o problema é desencadeado, sem soar cansativo ou lento demais. O filme usa o tempo que precisa para mostrar cada desafio, e isso dá um tom interessante, para este road movie dramático com toques de horror.

Realizado pela mesma dupla responsável pelo curta-metragem original, Ben Howling, Yolanda Ramke, a produção está cheia de alusões a este. Desde a mais óbvia figura do pai com sua "preciosa carga" nas costas, até o menos óbvio bolo de aniversário. Se ainda não assistiu ao filme de 2013, vale deixar para depois e ganhar um pouco com a surpresa da solução final.
Menos impactante que o curta que o inspirou, Cargo perde força por precisar encontrar novos obstáculos para preencher o tempo de tela, e optar pelos caminho mai óbvio. Nada que desafie o envolvimento com a trama, que é bem amarrada e desenvolvida em um ritmo próprio, em uma produção caprichada. Pode não surpreender, mas funciona.
Cargo foi lançado pela Netflix e já está disponível na plataforma de streaming.
Cargo
Austrália - 2017 - 105min
Drama, Suspense
Assista ao curta-metragem Cargo!
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