A série de posts que compara e tenta entender as diferenças entre abordagens de uma mesma história está de volta. Desta vez, para analisar as duas versões do supra-sumo da nerdice, Jogador N°1.
Vale sempre lembrar, essa série não é para apontar supostos erros na adaptação, muito menos, para mostrar que sei mais que os outros. A ideia é identificar as diferenças e tentar entender porque elas existem. Afinal, filme é uma coisa, e livro outra, e ambas as obras devem funcionar por conta própria, logo mudanças precisam ser feitas para se adequar à diferentes linguagens. Vamos lá?
O ministério dos "spoilerfóbicos" informa: este post contém SPOILERS do livro e do filme!
No futuro de Jogador N°1, a realidade virtual OASIS é muito mais interessante que o decadente mundo real. O criador desta válvula de escape da humanidade James Halliday morreu e deixou todo seu império de tecnologia para o primeiro que encontrasse um easter-egg, escondido por ele no jogo. Parzival (ou Wade no mundo real), é o primeiro a desvendar a primeira pista, após cinco anos sem progresso, desencadeando uma corrida desenfreada pelo prêmio. Além dos concorrentes civis tentando a sorte, uma corporação tenta colocar as mãos e monetizar este universo virtual.
Absolutamente todas as charadas, pistas e desafios da caça ao tesouro de Halliday são diferentes no livro e no filme. Provavelmente por causa das referências. Enquanto o livro tem liberdade para citar quem bem entende, o filme precisa de permissão para mostrar personagens de outras obras. Logo, as pistas foram alteradas para aproveitar melhor as obras que o estúdio poderia usar, e para não ter problemas com as licenças que não conseguiram. O resultado é positivo, além de não ter problemas com incoerências, as mudanças trazem surpresas para quem já leu o livro. Não pretendo enumerar as todas diferenças nos desafios, isso acabaria com a graça. Mas posso apontar outras diferenças cruciais...
2 - Chaves sem protões
No livro, os jogadores tem que desvendar pistas para achar as chaves, e os portões que elas abrem. Ultrapassados os portões os participantes precisam superar desafios distintos. No filme o processo foi simplificado, as pistas levam aos desafios que liberam as chaves, dispensando os portões na maioria das vezes.
Em vários desafios do livro acompanhamos longas e descritivas partidas de jogos eletrônicos. Na versão das telas, ficar assistindo alguém em frente a uma tela por horas tornaria o filme bem lento, o solução foi trazer o estilo do vídeo game para desafios que dispensem monitores e Joysticks. Mas a produção não perde a oportunidade de fazer piada com a possibilidade de acompanharmos o jogo da forma como ele é mostrado no livro ao deixar um personagem preso à um controle enquanto uma batalha gigantesca se desenrola ao seu redor.
4 - OASIS no livro é maior
Talvez ambas as realidades sejam do mesmo tamanho, mas a do filme passa a sensação de ser menor, já que quando embarcamos na aventura todos os personagens envolvidos já se conhecem (no mundo virtual). Parte da graça no livro é não fazer ideia de quem será o próximo a encontrar uma pista. Pode ser qualquer um, em qualquer lugar de um planeta Terra superpopuloso.
5 - O mundo real também é pequeno
Ninguém sabe onde os top cinco jogadores estão. Quando finalmente eles se reúnem, é preciso levar cada um deles de diferentes partes do mundo para um mesmo lugar. No filme, nada de Canadá, Japão ou mesmo outra cidade estadunidense, quando preciso todo mundo chega rapidinho,como se estivesse separados por apenas alguns quarteirões.
Passamos todo o livro acompanhando apenas Wade, e este passa muito tempo sozinho trancado em seu quarto navegando no OASIS. Só conhecemos pessoalmente Aech, Daito e Shoto no clímax da aventura. Art3mis só dá as caras na sequencia final. As verdadeiras identidades deles, são um mistério à parte. No filme, não demora muito para a moça aparecer, afinal ela faz parte de uma revolução (não é spoiler, tá no trailer). Escolha tomada provavelmente por dois motivos. Para aumentar o número de sequencias fora da realidade virtual e dar um "respiro" aos olhos do expectador, evitando que ele se canse de tanto CGI.
O outro motivo é puro Girl Power! Seguindo a escolha de Katniss e cia, as produção escolhe aumentar o protagonismo feminino em cena, dando à jogadora muitas das ações de Wade.
Já que Art3mis só aparece em pessoa no final do livro, lá é Wade que se infiltra na IOI, para sabotar o escudo que a empresa colocou para impedir outros jogadores de avançar. No filme, a moça assume esta missão, e o plano para realizar a tarefa também é bastante diferente.
8 - Salvar o mundo X vingar o pai
Quem não paga suas contas no mundo virtual é "convidado" a trabalhar para pagar suas dívidas, é claro, que a empresa do mal dá um jeito para que esta dívida nunca seja quitada, e garante um escravo ara sempre. Essa situação existe tanto no livro quanto no filme. Enquanto nas páginas é Wade quem nos explica o sistema, nas telas é Art3mis que perdeu o pai para o trabalho forçado. E destruir a corporação que matou seu pai é o que move a garota. No livro, sua ambição é ganhar o prêmio para mudar o mundo, literalmente. Ela quer construir um mundo melhor com a fortuna.
9 - Shoto
Na tela Shoto virou Sho, um garotinho de 11 anos, garantindo a identificação do público mirim.
10 - Daito
Segura que aí vem SPOILER dos grandes para quem só viu o filme. Daito é morto pelos Seis, seu assassinato é encoberto pela organização maléfica, o transformou e suicídio. O crime desperta a ira, e dá novo sentido à jornada de Shoto, seu irmão.
11 - Tia malvada
A tia do Wade não é nada legal nos livros, tendo aceitado cuidar do menino apenas para ficar com os cupons de alimentação a que ele tem direito. Além de não dar a mínima para o sobrinho, ela ainda toma dele qualquer item de valor que ele leve para casa. Sua postura foi amenizada no filme, ela ainda não é uma tia amorosa, mas é seu namorado que rouba o garoto. Provavelmente para que o protagonista tenha mais um motivo para odiar o vilão.
12 - Ludos e teletransporte
Sem dinheiro para nada, Wade só tem acesso a um planeta do OASIS, Ludos o planeta escola. Para viajar pelo universo da OASIS é preciso ter um veículo ou usar teletransporte, ambos custam dinheiro, assim como itens personalizados. Só depois de encontrar a primeira pista, Parzival ganha moedas o suficiente para viajar e ter aquele DeLorean.
Nas telas, Wade já tem o carro de De Volta para o Futuro, e alguns acessórios. A explicação? Ele ganha seu sustento juntando as moedas que caem nas batalhas quando algum avatar é morto. Já o planeta escolar nem é mencionado.
O co-criador do OASIS tem uma função mais ativa no livro, se envolvendo, na medida que pode na disputa. No filme, o personagem vivido por Simon Pegg, faz pouco mais que uma ponta de luxo.
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Jogador N°1 é uma das adaptações mais interessantes já feita. O filme de Spielberg, adota a mesma abordagem, regras e lógica do livro de Ernest Cline, mas a jornada é completamente diferente. O resultado são obras com a mesma aura de aventura e nostalgia, mas com detalhes e características próprias e que funcionam bem em em suas respectivas linguagens. São iguais,mas
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