Admito, era uma falha grande para esta leitora ainda não ter lido nenhuma obra de Agatha Christie. Eu já conhecera algumas de suas tramas através de adaptações para a TV, principalmente graças ao mês especial dedicada à autora no blog parceiro DVD, Sofá e Pipoca. Mas ainda não tinha encarado algum dos livros. Nada mais oportuno que encontrar perdido na estante uma cópia de Assassinato no Expresso do Oriente às vésperas da chegada da nova adaptação para o cinema. Hora de corrigir esta falha em meu currículo literário.
Mas é claro, não tenho a pretensão de julgar um clássico da literatura. Não é clássico atoa, a obra é excelente, leia assim que tiver oportunidade. Por hora, compartilho apenas as minhas impressões sobre esta primeira incursão no universo de Hercule Poirot.
O famoso detetive belga, acaba de solucionar um caso quando recebe um telegrama pedindo seu retorno imediato à Inglaterra. Com a influência de seu amigo e dono da companhia Bouc consegue um lugar no lotado (estranhamente para a época do ano) Expresso Oriente. Não é mistério, alguém é morto durante a viagem, mas o trem é pego por uma nevasca, encurralando o assassino. Agora Poirot tem algumas horas e um vagão cheio de suspeitos para desvendar o caso antes de chegar à próxima estação.
Dividido em três partes, o texto ajusta seu ritmo à necessidade de cada etapa. "Os fatos", apresenta os muitos personagens/suspeitos e o desenrolar do crime. "Depoimentos", onde o detetive interroga todos os suspeitos, e você passa a leitura vasculhando mínimos detalhes tentando descobrir o assassino. E "Conclusão", quando todas as cartas estão na mesa, e temos algumas últimas chances de tentar desvendar o mistério.
Para alguns a mudança de ritmo pode ser incômoda. Pessoalmente, acho bem colocado um início dinâmico, porém contido para dar tempo de apresentar, personagens, cenário e o crime. Um miolo mais lento durante os depoimentos - afinal estamos à caça de provas. E um final mais frenético, com longas exposições e pouco respiros, reflexo da nossa ânsia por descobrir o desfecho.
É claro, o livro é um retrato de sua época. E não apenas por retratar um trem que existe, e usar um caso real como inspiração do pano de fundo para motivação do crime, mas também para construir os personagens. Seja no preconceito e no pensamento estereotipado sobre distintas nacionalidades que os passageiros demonstram. Seja na criação de suas personalidades; Que tipo de moça viajaria sozinha? Porque determinado casal é mais recluso? Como uma dama da alta sociedade exige tratamento "adequado" à sua posição? Estes pequenos detalhes de finem bem o quadro a ser analisado, facilitam a identificação dos muitos personagens, e claro, fornecem pistas para o leitor/detetive.
Infelizmente (ou felizmente?), a maioria de nós não tem o cérebro de Hercule Poirot, por isso passamos muito mais tempo quebrando a cabeça. E para nossa surpresa, além da reviravolta, o desfecho ainda traz um questionamento moral que desafia protagonista e leitor. É principalmente por esta última discussão que a trama se mantém atual. Deixando leitores encantados há gerações.
A edição que eu li - estava mesmo perdida na estante - é de 2005 da Nova Fronteira com tradução de Archibaldo Figueira. Mas, existem várias versões do livro no mercado, a mais popular ultimamente é da Harpercollins, que tem uma coleção inteira de obras da autora.
Assassinato no Expresso do Oriente (Murder on the Orient Express)
Agatha Christie
Nova Fronteira
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