Os Meninos Que Enganavam Nazistas

Hoje em dia, os pais monitoram cada minuto da vida dos filhos, seja ocupando seu pequenos corpos e mentes com muitas atividades, seja seguindo seus passos com ajuda da tecnologia.Se para eles deve ser impensável a era pré-celular quando saíamos sozinhos para brincar na rua, imagine duas crianças atravessando o país sozinhas em meio a 2ª Guerra Mundial?

Como dificuldade pouca é bobagem, em Os Meninos Que Enganavam Nazistas, Joseph (Dorian Le Clech) e Maurice (Batyste Fleurial) ainda fazem parte da minoria perseguida. Aliás é por serem judeus vivendo no período de ocupação nazista na França que sua família precisa se dividir e partir. Para não levantar suspeitas os meninos de 10 e 12 anos partem sozinhos de Paris para a "zona livre" no sul do país em 1941.

Além dos perigos evidentes, a dupla encontra todo tipo de pessoas, ficam cara a cara com a intolerância e, felizmente, são surpreendidos por algumas boas almas pelo caminho. Em uma viagem de altos e baixos, encontros, desencontros e muita incerteza.

Contado a partir da perspectiva do caçula Joseph a narrativa torna ainda mais evidente os absurdos e perigos de um capítulo feio da sociedade. E mostra de forma orgânica a transição forçada da infância para a idade adulta, ao mesmo tempo que dá a estes garotos o primeiro gosto de liberdade nos momentos de calmaria quando se descobrem sem compromissos ou adultos para lhes dizer o que fazer.


Com quatro anos de história para contar, o ritmo precisa acelerar em algumas passagens, que poderiam evocar no expectador sentimentos mais intensos se contados com mais tempo. Também não há muito trabalho para evidenciar a passagem do tempo para os protagonistas. Os mais desatentos podem pensar que a trama se passa em poucos meses e não anos. Mas a decisão por manter os atores mirins é acertada.

É verdade Joseph e Maurice pouco crescem fisicamente em quatro anos, mas o amadurecimento emocional é aquele que importa e a dupla o faz de forma excelente. Especialmente Le Clech, além de ter um grande carisma o pequeno protagonista não deixa a desejar para veteranos como Patrick Bruel e Elsa Zylberstein (interpretes de seus pais). Consegue imprimir, medo, esperança e até nobreza em sua atuação sem nunca perder o olhar leve e inocente de uma criança.

Essa abordagem "inocente" - por falta de palavra melhor - pode soar simplista demais e até didática em alguns momentos, especialmente em relação a trilha sonora que exagera ao tentar indicar o expectador o que deve sentir. Por outro lado, é uma linguagem mais acessível especialmente para aqueles que compartilham a idade com os protagonistas.


Os Meninos Que Enganavam Nazistas é baseado no best seller autobiográfico de Joseph Joffo, lançado originalmente em 1973 e que chega ao Brasil este ano pela Vestígio. Tem intenções similares à muitas narrativas sobre os horrores da Segunda Guerra, mas uma linguagem própria graças ao carisma de seu jovem protagonista. É mais uma boa aquisição para a importante galeria de histórias que precisam ser contadas e recontadas, para todos os públicos. Na tentativa sincera de evitar que tais absurdos não se repitam.

Os Meninos Que Enganavam Nazistas (Un Sac De Billes)
2017 - França, Canadá, República Tcheca - 113min
Drama

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