A Chegada

Preciso assistir este filme outra vez. É o que pensei imediatamente após a sessão de A Chegada, ficção-cientifica de Denis Villeneuve. Não porque o filme seja ruim, pelo contrário, mas porque o filme tem conceitos complexos e os explora em tantas camadas, que merece uma atenção maior.

Doze misteriosas naves chegam à pontos aleatórios do planeta. Nos Estados Unidos o governo convoca uma linguista, Dra. Louise Banks (Amy Adams), para tentar entrar em contato com os alienígenas. Trabalhando com ajuda do matemático Ian Donnelly (Jeremy Renner), ela precisa descobrir o propósito dos visitantes. Entretanto, para isso ela precisa primeiro descobrir como se comunicar com eles.

Os governos dos outros locais de pouso também trabalham para entender os aliens. Mas a colaboração não vai muito longe, diante dos interesses políticos de cada um somado ao medo do desconhecido, o pânico da população e o questionamento da mídia. Colocando mais urgência e peso sobre o trabalho de Louise.

Abordando a linguagem de forma única, o filme traz Louise descobrindo (ou reforçando o conceito existente) de que a forma de comunicação de uma sociedade determina também a forma que pensam. Ela tenta entender como estes seres pensam, ao mesmo tempo precisa explicar para seus superiores como chegar a este entendimento. Curiosamente em alguns momentos, fazer homens que pensam em estratégias de batalha compreender as nuances e limitações de um estudo linguístico, parece ser mais complicados que entender seres de outros planetas.

A compreensão de um "novo idioma" e forma de pensar, a tradução para outros e as escolhas políticas tomadas à partir de cada avanço, e os vários conceitos que estes problemas trazem, já seriam conteúdo suficiente para criar uma ficção científica complexa. O roteiro no entanto, não tem medo da complexidade e inclui o drama pessoal de Louise.

Trazendouma introdução melancólica, conhecemos uma protagonista distante, triste e até um tanto alienada, até que o desafio de entender seres de outros planetas é imposto a ela. A partir daí, a vemos se dividir ente medo e excitação pelo desconhecido. Passando pela dedicação extrema e alcançando uma conexão única com os visitantes. Tudo isso enquanto aprende a compreende-los e a pensar como eles.

Com um ritmo um tanto lento para alguns especialmente no início, mas que cumpre bem sua função de criar tensão, o longa chama atenção por abordar conceitos complexos. Percepção do tempo, o ruido ou mesmo incapacidade da comunicação, mesmo quando o idioma é conhecido, escolhas individuais e em grupo, medo do desconhecido e a sempre mais provável resposta agressiva da humanidade, são alguns dos muitos temas discutidos diante de um simples argumento: alienígenas chegaram à Terra, não sabemos o que eles pretendem.

Quando todas essas peças e conceitos começam a se encaixar, e a linguagem dos ETs começa a fazer sentido. Descobrimos que todos estes dilemas servem muito mais a humanidade, que aos visitantes que causaram tudo.

Baseado no conto The Story of Your Life de Ted Chiang A Chegada é um longa bem executado, com bons efeitos e atuações acertadas. Além de fazer uma coisa rara em Hollywood, não menosprezar a capacidade intelectual do expectador. Pelo contrário, o longa nos instiga a discuti-lo, assistir novamente e tentar redescobrir cenas e diálogos, deixados como pista, que passam a fazer mais sentido ou mesmo finalmente ser notados, quando se tem compreensão do todo. Pois é, eu preciso assistir este filme outra vez.

A Chegada (Arrival)
2016 - EUA - 116min
Ficção-científica

2 Comentários

  1. O gênero de ficção nunca foi um dos meus preferidos, porém devo reconhecer que Arrival Filme foi uma surpresa pra mim, já que apesar dos seus dilemas é uma historia de drama que segue a nova escola, utilizando elementos clássicos. Com protagonistas sólidos e um roteiro diferente. Adorei como fizeram a historia por que não tem nenhuma cena entediante!!

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  2. Adoro ficção e mesmo assim A Chegada foi uma surpresa e tanto. Filme bom é filme bom, o gênero é um detalhe!

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