Livro vs Série: Zé do Caixão

Começa aqui mais uma edição diferente da série "Livro vs Filme". O plano original era de fato transformar o livro de André Barcinski e Ivan Finotti, sobre José Mojica Marins, em um longa metragem. Mas os planos mudam, e no meio do processo a adaptação acabou ganhando o formato de série de TV. Melhor para nós que tivemos mais tempo de tela para apreciar esta cinebiografia.

José Mojica Marins, mais conhecido pela alcunha de Zé do Caixão, é cineasta, ator e roteirista, considerado uma das figuras mais ativas do cinema nacional. E apesar de ter trabalhado com diversos gêneros é mais conhecido por suas fitas de terror. Tinha um jeito próprio de fazer cinema, sem conhecimento técnico, com muito improviso e paixão pelo que faz.

O livro que conta sua trajetória foi lançado originalmente em 1998, em 2015 ganhou nova edição pela Darkside Books. O relançamento aconteceu simultânemamete à estreia da série de TV baseada nele. Confira agora as diferenças entre as obras.

1 - Ponto de partida
Com apropriadamente 666 páginas, o livro vai além da trajetória de Mojica. Acompanhando desde a chegada de seus avós, maternos e paternos ao Brasil, ambos vindos de Espanha. Bem como sua infância de brincadeiras nas ruas de São Paulo, e na sala de projeção do cinema que seu pai administrava. Já a série restrita à 6 episódios, precisa ir direto ao ponto. Começando à partir do primeiro grande trabalho de Mojica A Sina do Aventureiro, pouco antes da criação de seu macabro alterego.

*O pequeno José no livro, as filmagens de A Sina do Aventureiro, uma fita de bang-bang brasileira!

2 - Saltos no tempo
Enquanto o livro tem 666 páginas para discorrer sobre a trajetória pessoal e profissional de seu retratado. A série tem apenas 6 episódios, com 45 minutos para fazer o mesmo. Logo, nada mais natural que a narrativa desta última dê saltos no tempo para enfocar momentos marcantes de sua história.

3 - As Mulheres de Mojica
Ainda por causa do pouco tempo, a "família" de Mojica e condensada na série. Além de uma breve mensão a esposa, apenas um de seus relacionamentos (e vários casos) é mostrado. O mesmo vale para seus filhos. Além disso, os nomes das moças foram alterados. Assim, Rosita com quem teve um filho, virou Conchita. Maria com que teve três crianças nem sequer é mencionada.

O relacionamento que é retratado na série é com Nilce (na tv, Dirce), companheira também na vida profissional. Produtora, montadora, quebra-galho e o que mais precisasse, a moça teve dois filhos com mojica.

4 - O caso de Dirce e Anselmo
Não está no livro. Mas, é uma ótima solução para mostrar o desgaste de seu relacionamento com Dirce, já que o respeito e fidelidade não era mutuo. Assim como para ilustrar um pouco dos tempos conturbados da ditadura.

5 - A Sinagoga e o telefone
Sempre com problema financeiros, o estúdio de Mojica vivia mudando de endereço. O mais inusitado deles uma sinagoga espírita desativada nos anos 1960, no bairro do Brás. A maioria destas sedes nunca teve telefone, as ligações "de negócios" eram feitas de telefones públicos ou mesmo do bar mais próximo. Econômica e prática (imagina ter que explicar cada mudança) a TV mantém toda a história em apenas uma sede. Lá tem telefone.

6 - Nunca leia um livro de cinema.
Mojica realmente ganhou um livro de cinema, que nunca pôde ler, já que seu amigo rasgou e o fez prometer que nunca leria um livro sobre cinema. A diferença é que no livro o presente veio de cineastas cariocas, do Cinema Novo, durante uma viagem de Mojica para divulgar o primeiro filme do Zé do Caixão. Na série o presente chega um pouco mais tarde, e é recebido em São Paulo mesmo.

66 - A cena do cachorro
Nos anos de 1980 quando cineastas independentes não tinham muita opção de trabalho, Mojica assim como muitos migrou para outro gênero, mas claro sem deixar de chocar. Ao dirigir 24 Horas de Sexo Explícito (1985), filmou aquela que é considerada a primeira cena de zoofilia do cinema nacional. O livro deixa claro, que o cachorro não foi muito além de ficar estratejicamente posicionado próximo da atriz Vânia Bournier. Já a série passa uma idéia bastante diferente de como a cena foi feita....

No entanto, em ambas as versões o destino do enorme Pastor Alemão emprestado foi o mesmo. Envenenado pelo próprio dono, que passou a ter ciúmes do animal com sua esposa após o longa de eMojica.

666 - O corte das unhas
O badalado corte das unhas de Zé do Caixão em 1982 (em parte por orientação médica, parte golpe publicitário), na verdade aconteceu no programa Viva Noite, apresentado por Augusto Liberato, o Gugu. Na série, o "ritual" acontece no mesmo programa em que Mojica divulgou seus filmes anteriormente. Aliais todas as entrevistas cedidas pelo cineasta na TV, durante a série são feitas pela mesma apresentadora.


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Zé do Caixão - Maldito, A Biografia, lançado originalmente em 1998, acaba de ganhar uma edição de luxo pela Darkside Books. A série Zé do Caixão foi exibida entre Novembro e Dezembro de 2015 no Canal Space, seus seis episódios ainda estão disponíveis no SpaceGo.

Leia as resenhas do livro e da série de TV. Confira outros posts da série Livro vs Filme.

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