Expresso do Amanhã

Desta vez foi tentando salvar o mundo que quase causamos nossa extinção. Em Expresso do Amanhã, um procedimento para eliminar o aquecimento global da errado e condena o planeta na mais rigorosa era do gelo de que temos conhecimento. O que restou da humanidade está confinada em um trem auto-sustentável que viaja sem paradas por todo o planeta, o Snowpiercer.

É claro que para funcionar este microcosmo precisa de um sistema. E se você é conhecedor de ficção cientifica, ou mesmo de história, já deve imaginar que esse sistema divide as pessoas em duas classes. A minoria privilegiada, que vive no luxo dos vagões dianteiros. E a maioria pobre que vive amontoada nos últimos vagões. A frente de todos na locomotiva, Wilford (Ed Harris), idealizador do veículo salvador da humanidade. Adorado como um messias pelo primeiro grupo e odiado pelo segundo, há dezoito anos.

E como gente satisfeita não movimenta trama, é dos últimos vagões que surge a revolução que vai nos levar a percorrer literalmente todos os vagões, desta metáfora em forma de trem. O idealizador do plano é Curtis (Chris "Capitão América" Evans), sempre com os conselhos do ancião, logo sábio, Gilliam (John Hurt). Na empreitada muitos voluntários sem nome, além do jovem pupilo Edgar (Jamie Bell) e Tanya (Octavia Spencer) uma mãe em busca de seu filho.

Mason (Tilda Swinton), à cargo de vários soldados sem nome, é quem tenta manter a ordem diante de tal empreitada. É aqui que começamos a encontrar pequenas falhas no roteiro. Na existência de uma terceira classe trabalhadora/força militar, que não se encaixa na metáfora opressor/oprimido. Mesmo seus números, e lugar no trem são um mistério. 

Outra questão é a própria existência da classe oprimida. Uma vez que amontoados no último vagão, não são mão de obra indispensável. No máximo, fornecedor eventual de pessoas com habilidades específicas. Manter duas mil pessoas, caso um dia você precise de um violinista e torcer para que haja um na multidão faminta, não parece um plano muito sustentável.

Resta descobrir se essas falhas pertencem ao roteiro, aos cortes que a produção sofreu antes de ser lançada mundialmente, ou à HQ francesa, Le Transperceneige, na qual o filme fora inspirado. Ainda sim, subverter a pirâmide e torná-la uma linha reta a ser percorrida a todo custo e sem desvios, é um conceito rico e interessante. Que levanta questões que vão da diferença de classes, métodos de controle, alienação e manipulação. Tudo isso desenvolvido com bastante violência em cenas de ação claustrofóbicas em vagões apertados.

O carisma do elenco estelar esforçado (mesmo quando a cargo de personagens descartáveis, ou propositalmente caricatos) e uma produção de arte que acerta ao oscilar entre a pobreza escura, suja e caótica da dos vagões finais, o mundo luxuoso e colorido da elite, e o branco inóspito do mundo lá fora, são pontos positivos da produção. Primeira em inglês do diretor sul-coreano Bong Joon-ho (O Hospedeiro, Mother).

Uma mistura curiosa de Metrópolis com Wall-E,  Expresso do Amanhã tem suas falhas sim, mas faz um esforço considerável para discutir temas que estão sempre atuais, enquanto mantém a ação em um ritmo acelerado. Uma pena que tenha demorado tanto a chegar por aqui (a produção é de 2013), e tenha sofrido cortes (para torná-la, mas palatável) que podem ser os responsáveis pelas falhas. Talvez se estivesse à bordo da locomotiva homônima, Snowpiercer tivesse chegado mais rápido, e intacta por aqui.

Expresso do Amanhã (Snowpiercer)
2013 -Coréia Do Sul , França , EUA , República Tcheca - 126min
Ação/Drama/Ficção científica

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