A Idade Dourada - 3ª temporada

Menos rodeios e mais definições. É isso que oferece a terceira temporada de A Idade Dourada (ou The Gilded Age) da HBO. Não que a série fosse pouco objetiva nas temporadas anteriores, mas que agora, já completamente estabelecida, a trama pode tomar caminhos mais drásticos e definitivos. 

Se os dois primeiros anos foram de estabelecimento do cenário nova-iorquino do século XIX, dos personagens e principalmente da posição da Sra. Russell (Carrie Coon maravilhosa) na sociedade. Agora com as peças já muito bem dispostas no tabuleiro, os movimentos são mais ousados, e com isso as narrativas mais complexas e ricas. 

Acompanhamos o primeiro impasse do relacionamento dos sonhos de Marian (Louisa Jacobson) e  Larry Russell (Harry Richardson). Que apesar de ser óbvio e ter a torcida da audiência desde a primeira temporada, ainda exalta o romantismo ingênuo principalmente da moça idealista em uma época que homens podem tudo, e mulheres nada. Em suma, sim, Marian exagerou ao ficar surpresa e indgnada, por um hábito masculino que, apesar de errado, era bem aceito e até esperado na época. 

Já a asceção social do lacaio Jack (Ben Ahlers) é deliciosa de acompanhar. Além do exemplo perfeito da promessa da terra da liberdade, de que um homem trabalhador e inteligente poderia ir da pobreza à fortuna em apenas uma vida. Sim, era possível, mas extremamente raro. Mesmo assim, estes poucos casos, serviram para alimentar essa esperança até os dias de hoje. Mas o mais ineteressante mesmo é ver a reação do rapaz à essa nova vida. A euforia da conquista de condições melhores, em contraponto com a mudança, a possível perda de sua família construida, e o vazio de quando um sonho é alcançado. 

Sua narrativa oferece mais espaço para o ponto de vista dos criados. A falta de tempo para abordá-los com mais intimidade é um dos pontos fracos da série. Em especial se comparada à sua série irmã Downton Abbey. Mesmo assim, esse espaço acaba tirando Jack da posição de servidão ao final da jornada, retornando ao memso problema de retratar mais os ricos que os pobres. Restado aos criados, um ou outro flerte, e principalmente reagir aos problemas dos patrões. 

Uma "criada" que se rebelou completamente - em narrativa apenas - foi a Srta. Peggy (Denée Benton). O que era esperado. Seu trabalho para os Van Rhijn era apenas uma ponte. Uma desculpa para incluir a sociedade negra na história. Assim conforme a história da moça evolui, e sua própria sociedade cresce, sua dependencia da "empregadora branca" diminui. Só espero que os roteiristas tenham planos para manter essa conexão entre as altas sociedades negra e branca relevante. Caso contrário, estaremos assistindos duas realidades separadas no mesmo programa. 

Ainda sobre o núcleo de Peggy. Na primeira temporada aprendemos sobre a existência de uma sociedade negra abastada em Nova York na época. No segundo ano, observamos a discrepância entre eles e outras comunidades negras do país, que ainda lutam com as dificuldades pósteriores ao fim da escravidão. E agora, descobrimos o preconceito dentro da própria sociedade negra, colorismo e origens, determinam tanto o valor para alguns, quanto a rixa entre dinheiro novo e velho para os brancos. É revoltante ver o passado de escravizado e o tom mais retinto da família da mocinha ser motivo de escárnio entre outros negros. 

Entrentanto, o protagonismo da série neste ponto é dos Russell. Mais especificamente da Sra. Berta Russel. Implacável na busca de relevância para si e os seu na sociedade. Culminando no polêmico casameno forçado de sua filha Gladys (Taissa Farmiga) com um Duque falido. E no consequente rompimento da família, enquanto sua posição social cresce. Berta está quase superando a influencia da Sra. Astor (Donna Murphy, interpretando a personagem real que inspirou a Sra. Russell). E no processo lutanto também por causas feministas, como voto e a aceitação de divorciadas no convívio social. 

Seu marido George Russell (Morgan Spector) também não fica atrás na ambição. Buscando ampliar seu império ferroviário, e fazendo inimigos no processo. Sua narrativa de negócios no entanto é a mais confusa de toda a série. Embora consigamos compreender o cenário geral, os pormenores, nomes, lugares e personas jogadas em conversas de negócios, mais confundem que interessam. Por sorte, ou não, o desfecho das negociações é um grande ato dramático que reativa nosso interesse. 

Quem nunca perde nosso interesse é Gladys, que passa a primeira metade da temporada tentando ditar as regras de sua vida. Mais especificamente a escolha de seu marido. E aprendendo a segurar essas rédeas apenas na segunda metade, quando já teve muito escolhido por ela. Isso, praticamente sozinha, do outro lado do oceano.

Os Van Rhijn acabam perdendo espaço diante de tando protagonismo de seus vizinhos da frente. Enfraquecida pela perda de sua fortuna, Agnes (Christine Baranski, ainda excelente, mas com menos espaço) precisa aprender a lidar com a ascenção de sua irmã Ada (Cynthia Nixon) no comando da casa. Esta lida com o luto pelo marido, e abraça novas causas. Enquanto Oscar (Blake Ritson) se mantém como personagem mais mal aproveitado da trama. Falido e tramando pelos cantos, planos que nunca parecem sair do papel. A torcida é para que se trate de uma longa preparação para novos desafios nas temporadas seguintes. E é o que parece ser. 

De mais a série mantém as qualidades esperadas de uma obra HBO, e encontrada nas temporadas anteriores. Cenários grandiosos, assim como figurinhos e reconstrução de época. Criando um século XIX, opulento, atrativo e instigante. 

A Idade Dourada continua sendo aquele novelão caprichado. Cheio de personagens carismáticos e intrigas envolventes, que agora sabe que já pode ousar ainda mais. E aparentemente pretende. A quarta temporada já foi confirmada, e mal posso esperar pelos novos rumos dessa sociedade dourada por fora, mas não tão bonita sob a superfície. 

A terceira temporada de A Idade Dourada tem oito episódios, cada um com cerca de uma hora cada. Todas as temporadas estão disponíveis na HBO Max  na grade dos canais HBO. 

Leia mais sobre A Idade Dourada, tem críticas de todas as temporadas, além de curiosidades.  

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